sábado, outubro 9

Privatização da Saúde


Luís Filipe Pereira - ministro da Saúde; Salvador de Mello - presidente da José de Mello Saúde; Rui Nunes-responsável da ERS
1– A actuação do ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, tem sido alvo de fortes críticas devido à forma como tem promovido a abertura do sector público da saúde aos interesses privados.
Recentemente, durante a cerimónia de apresentação dos dados dos hospitais SA referentes ao exercício do 1.º semestre do corrente ano, LFP negou, uma vez mais, a acusação de que o objectivo prioritário é a privatização dos hospitais SA . Acrescentou, que tal medida não seria tomada por não ser necessária.
Apesar destas declarações, o objectivo essencial da política de LFP que transparece das medidas já implementadas, é fazer crescer o sector privado da saúde de forma a este assumir, num curto espaço de tempo, uma posição dominante na oferta de cuidados hospitalares.

2. – LFP, dividiu a rede de hospitais públicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em dois grupos:

a) - Grupo SPA, constituída por 61 unidades (Centros Hospitalares (6), Hospitais Centrais, Distritais, de Nível Um, Psiquiátricos, Maternidades (2) e Centros de alcoologia (3), com uma lotação total de cerca de 14 641 camas.

b) - Grupo de hospitais empresarializados, formado por 31 hospitais SA com uma lotação total de 10 842 camas.

3. - O projecto de LFP prevê a construção de dez novos hospitais em regime de PPP (projecto, construção e exploração privadas) que totalizam cerca de 4 515 camas.

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4. – Apesar deste projecto ambicioso, o lobby privado tem demonstrado a sua insatisfação através de repetidas declarações dos seus principais responsáveis, com o objectivo de pressionar o ministro da saúde a alargar o número de hospitais a privatizar.

- Salvador de Mello, diz que a "José de Mello Saúde" quer gerir os dois hospitais-empresa com piores resultados e promete colocá-los com «melhorias significativas» três anos depois.
Entrevista ao Diário Económico.15.03.04

- Salvador de Mello, presidente da José de Mello Saúde, defende que 50% do sector deveria estar na mão dos privados dentro de 10 anos, ao contrário dos 20% que o Estado prevê transferir até 2014.
Palestra "O desafio da competitividade", proferida na Ordem dos Médicos (O.M.) no dia 15.09.04

Vasco Luís de Mello, presidente do grupo Mello considera que Portugal encontra-se numa "corrida contra o tempo" . A reforma em curso ainda é frágil, pois só três por cento das unidades do sector têm gestão privada.
Criticando a lentidão do processo das parcerias público-privadas na saúde em Portugal, VLM faz uma curiosa comparação: com um orçamento global da ordem dos 650 milhões de euros, os dez estádios do Euro2004 demoraram cerca de quatro anos a ser concluídos, enquanto os dez hospitais em parceria público-privada (orçados em 750 milhões de euros) vão levar entre 10 a 12 anos.
Seminário sobre o Parcerias Público- Privado, promovido no Porto pela Câmara de Comércio Luso-Espanhola. Jornal Público 25.09.04

- José Mendes Ribeiro, ex responsável da Unidade de Missão dos Hospitais SA, ex braço direito do ministro da saúde, Luís Filipe Pereira, agora o homem-forte do Banco Português de Negócios para a Saúde, defende que os piores hospitais SA devem ser entregues ao sector privado
Entrevista ao Diário Económico de 21.09.04.


Hospital de S. Bernardo, SA- Setúbal .
Um dos últimos classificados do "Ranking" dos hospitais SA
– O Dr. Rui Nunes, responsável da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), em entrevista ao Diário Económico:
DE: Concorda com a tese de que os piores Hospitais SA deviam ser entregues à iniciativa privada?
RN: O caminho faz-se caminhado. O compromisso do Governo é que, nesta fase, não seria razoável entregar essa gestão aos privados.

DE: Mas admite a privatização de alguns hospitais SA na próxima legislatura?
RN: Só se a questão fosse submetida ao escrutínio popular. Não excluo que um ou outro possa, em teoria, seguir o caminho da privatização. Mas o compromisso, nesta fase, não é esse. Na política tem de haver ética. Não é por uma questão de princípio, porque isso a seu tempo poderá ser uma realidade, mas terá de ser dito primeiro aos portugueses. Desde que se diga claramente que o objectivo ou a hipótese é os piores serem privatizados, não vejo objecção de princípio. Tem é de ter a anuência democrática dos cidadãos.
Entrevista ao Diário Económico 06.10.04

- O Grupo José de Mello Saúde, vai desafiar o Governo a concessionar-lhe a gestão dos hospitais SA mais problemáticos. Intenção, manifestada através de uma nota à imprensa, um dia após o presidente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), Rui Nunes, ter afirmado numa entrevista ao "Diário Económico", que "não vê objecção de princípio" à privatização dos piores hospitais SA.
Jornal Público 08. 10. 04

´5. - No meio da guerra da privatização da saúde e necessáriamente da destruição do Serviço Nacional de Saúde, surge o Dr. Rui Nunes todo prazenteiro a defender a privatização dos hospitais. É claro, que o grupo Mello aproveitou a boleia oferecida de bandeja e ei-lo a distribuir notas à imprensa a anunciar o desafio ao governo para que lhe seja concessionada a gestão de hospitais SA.
Esta intervenção do responsável da ERS (entidade que ainda não entrou em funcionamento), quase dispensa o ministro da saúde de justificar perante os portugueses a onda de privatizações de hospitais que se avizinha, uma vez que, é o próprio responsável da ERS, entidade responsável pelo cumprimento e defesa dos princípios do serviço público - universalidade e igualdade no acesso aos cuidados de saúde, qualidade e segurança -, bem como dos direitos dos utentes, que vem para os jornais proclamar-se defensor da privatização dos serviços de Saúde.
Digam-nos só. Neste Portugal, à beira do abismo plantado, em quem podemos nós confiar, afinal!