sábado, dezembro 4

A doméstica acidental


Nunca sonhara com vestidos de noiva ou antecipara delírios maternais. Por isso ficou surpreendida quando, um dia, se viu de bebé no dedo e aliança nos braços. Ou vice-versa, era tudo tão estranho.Nunca percebera a lógica de engomar lençóis ou o interesse de fazer seguros de vida. Por isso ficou surpreendida quando, um dia, se viu de ferro em carteira e apólice na mão. Ou vice-versa, era tudo tão estranho.Hoje, na hora de almoço, comprou um wok. De regresso ao local de trabalho, mirando o objecto com olhos vagamente espantados, perguntou-me:- Sabe que há mais frigideiras ao cimo da terra do que sonha a nossa vã filosofia?Vantagens de uma licenciatura em Humanidades: não livra ninguém dos tachos e panelas, mas ajuda a encarar as sertãs mais obnóxias com estilo... literário.
Prima- Guarda-Factos.

8 Comments:

Blogger xavier said...

Pirateado a pedido de todo o pessoal cá da casa.
Agradecemos o excelente texto.

11:36 da tarde  
Blogger Francisca said...

Tenho a certeza que todo o G.F. vai ficar babado com este vosso gesto.
O que significa que a maior parte das peças vai ter que ir à lavandaria... as despesas em que nos metem, valha-me Nossa Senhora que "... nem consta que tivesse..." programa para roupa delicada (delicada pelo vosso contágio, entenda-se):)

1:10 da manhã  
Blogger xavier said...

Nós temos uma paixão obsessiva pelo Garda Factos.

1:39 da manhã  
Blogger Francisca said...

:)) likewise

2:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Texto de desassombrada humildade.

12:10 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Já houve tempo em que ter uma licenciatura significava o acesso automático a um nível económico e social que permitia ter, entre outras coisas, criados para tratar das panelas, frigideiras e outros afazeres domésticos.
Hoje somos todos proletários. Excepto os Belmiros, os Mellos, os Amorins...
Eu cá gosto muito das tarefas caseiras por mais humildes que sejam. Por exemplo, cozinhar faz parte do meu plano diário de relaxamento.
O texto é uma aguarela do quotidiano trabalhada com sensibilidade. O texto curto, bem medido, é suficiente para nos despertar interesse por um pequeno apontamento dos nossos dias.
Parabéns à autora.

9:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Faltou-me acrescentar: Cada vez gosto mais de visitar este blog. Em todos os temas que aborda há um denominador comum: Uma especial sensibilidade.O curioso é que consegue ir seleccionar noutros blogs sensibilidades gémeas.
Um abraço
Clara Gomes

9:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Concordo que é um belo texto.
O engraçado é que ele motivou uma pequena discussão entre colegas. O pomo da discussão residia no facto da autora se referir à licenciatura em humanidades, o que, a minha colega considerava desnecessário, estando no texto apenas como demonstração de pedantismo.
É evidente que se trata de uma critica injusta muito própria peculiar entre mulheres.
O interessante do texto é a reflexão a que conduz. Hoje as mulheres têm uma profissão fora de casa (licenciadas ou não) que têm que compatibilizar com o trabalho doméstico. O homem, possivelmente, aproveita o intervalo do almoço para comprar um acessório para o carro ( ou limita-se a discutir a bola)

4:39 da tarde  

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