Reestruturação do SNS
Hugo Meireles, administrador do hospital de São Sebastião, faz o balanço da capacidade de resposta depois do encerramento da maternidade de Oliveira de Azeméis e da reestruturação das urgências pediátricas da região. LINK
Correio de Azeméis (CA): Depois do encerramento da maternidade de Oliveira de Azeméis e da urgência pediátrica, qual o balanço que faz em termos de resposta do Hospital de São Sebastião?
Hugo Meireles (HM): Relativamente as grávidas não temos problemas nenhuns, porque não vamos atingir a nossa capacidade – 4 mil partos. Não atingimos no ano passado e não devemos atingir este ano ou ultrapassar o número de partos que tivemos em 2000, ou seja, 3.100 partos. O número de partos que vieram de Oliveira de Azeméis, que se calculava que fossem de 500 e que deve estabilizar neste número. Surpreendentemente até vieram menos do que estávamos à espera. Calculo que, em 2007, a maternidade vai rondar os 3.200 partos. Mas não temos qualquer problema porque ainda temos um bloco de partos que não está a ser utilizado. Temos reserva, mas não estamos a utilizá-lo. Em relação à pediatria, a Urgência de Pediatria fechou em Oliveira de Azeméis, mas as coisas mantêm-se basicamente na mesma porque a equipe de pediatras ficou lá. Em Oliveira de Azeméis mantém-se o SAP e que se vai manter mesmo que haja a reorganização que está prevista. Penso que nada vai mudar.
CA: Depois do encerramento da maternidade de Oliveira de Azeméis e da urgência pediátrica, qual o balanço que faz em termos de resposta do Hospital de São Sebastião?
HM: Relativamente as grávidas não temos problemas nenhuns, porque não vamos atingir a nossa capacidade – 4 mil partos. Não atingimos no ano passado e não devemos atingir este ano ou ultrapassar o número de partos que tivemos em 2000, ou seja, 3.100 partos. O número de partos que vieram de Oliveira de Azeméis, que se calculava que fossem de 500 e que deve estabilizar neste número. Surpreendentemente até vieram menos do que estávamos à espera. Calculo que, em 2007, a maternidade vai rondar os 3.200 partos. Mas não temos qualquer problema porque ainda temos um bloco de partos que não está a ser utilizado. Temos reserva, mas não estamos a utilizá-lo.
Em relação à pediatria, a Urgência de Pediatria fechou em Oliveira de Azeméis, mas as coisas mantêm-se basicamente na mesma porque a equipe de pediatras ficou lá. Em Oliveira de Azeméis mantém-se o SAP e que se vai manter mesmo que haja a reorganização que está prevista. Penso que nada vai mudar.
CA: Com a reestruturação dos serviços de saúde da zona norte do distrito de Aveiro, o São Sebastião vai receber doentes de vários concelhos. O Hospital tem condições efectivas para receber este acréscimo substancial de doentes?
HM: Em relação à obstetrícia, como disse, não temos qualquer tipo de problema. É evidente que o Hospital São Sebastião, neste momento, em termos de lotação, está a atingir o limite da sua capacidade. Até agora temos conseguido gerir as situações. Para já não há notícias de algum doente que não foi atendido ou foi transferido por não termos camas. A não ser nos cuidados intensivos, mas aí funciona a rede nacional. Em relação ao internamento normal ainda não temos tido problemas, mas não quer dizer que não esteja preocupado com isso. Há já planos para primeiro alargar a área da pediatria. Está a ser feito o estudo arquitectónico para o alargamento do serviço para um pátio contíguo. E está também prevista a deslocalização do serviço de oncologia médica para outra área, libertando a enfermaria que está a ser usada para, se futuramente houver necessidade de um reforço de camas, haver mais 26. À partida julgo que não vai haver necessidade de um alargamento no internamento. Ainda mais quando a cirurgia de ambulatório leva a que o doente não ocupe uma cama, ou então só a ocupe por uma noite, a chamada cirurgia de um dia.
CA: Qual a sua opinião acerca desta reestruturação do Serviço Nacional de Saúde.
HM: A reestruturação é necessária por dois motivos: em primeiro lugar porque os últimos 20 anos levaram a um crescimento anormal, diria mesmo patológico e doentio no sentido técnico da medicina do Serviço Nacional de Saúde. O SNS cresceu com serviços que, muitas vezes, não foram pensados à medida das necessidades dos doentes, mas muito mais para os próprios políticos locais e até para os técnicos dos próprios hospitais que utilizavam os serviços para potenciarem ganhos em horas extraordinárias. E chegamos à conclusão, ao final de 20 anos, que temos o país dotado de imensos equipamentos altamente improdutivos. Não faz sentido mantermos um serviço de urgência, onde há um médico e um enfermeiro durante a noite e onde a média de doente que lá vão não chega, muitas vezes, a um doente por noite. Aquilo que todos nós portugueses temos de suportar para manter um serviço destes a funcionar é tão grande que esse mesmo custo daria para atender 10 ou mais pacientes. Não faz sentido. É um disparate.
Um outro aspecto prende-se com o facto de estes serviços terem sido criados, fundamentalmente, à custa dos médicos de família. O que fez com que estes médicos passassem a utilizar as suas horas de trabalho normal, 35 a 42 horas, para fazerem períodos de urgência, isto é, retiraram tempo às consultas programadas para estarem de serviço na urgência. O que fez com que os médicos deixassem de estar nos Centros de Saúde e de assumirem ficheiros de doentes. Estes deixaram de ter consultas programadas e começaram a recorrer aos SAP’s, onde cada dia eram atendidos por um médico diferente. Na realidade não tinham um atendimento médico coerente, pois o profissional não conhece aquele doente, está a ver uma doença num momento de crise e não o doente propriamente dito. De facto este Sistema de Saúde, é um sistema errado, não é bom para as pessoas e que não resolve os problemas dos doentes.
Fechar SAP’s, localizar urgências onde são necessárias, verdadeiras urgências com condições e que tenham no mínimo dois médicos e que estejam preparados para fazer o Suporte Avançado de Vida. Neste momento, um número significativo de médicos que estão de serviço no SAP não têm formação nesta área.
O que faz sentido é criar urgência com profissionais bem preparados e que possam dar resposta às verdadeiras necessidades do doente.
É fundamental passar os médicos de novo para os centros de saúde e potenciar o aparecimento de mais consultas programadas. E sobretudo reorganizar os centros de saúde, no sentido de as consultas médicas corresponderem às necessidades das populações e não às necessidades dos técnicos. Assim vai gastar-se melhor o dinheiro.
CA: Qual a apreciação que faz do serviço prestado pelo Hospital São Sebastião.
HM: É lógico que não é um serviço perfeito, também temos falhas. Quando o hospital foi projectado, foi pensado para receber doentes de Santa Maria da Feira, Arouca e Castelo de Paiva e dar assistência a Espinho e Ovar. Mas agora recebe pacientes de quase todos os distritos do norte de Aveiro.
O verdadeiro problema está na constante alteração de políticas e estratégias para esta área. Eu sou administrador do São Sebastião e já passei por seis governos. Ora isto obriga-nos a uma constante adaptação às novas realidades e a repensar a nossa forma organizativa.
Quanto mais claras forem as estratégias do Governo para a região, melhor será a nossa resposta às necessidades das populações.
Hugo Meireles, administrador do Hospital São Sebastião, entrevista do Correio de Azeméis
HM: Relativamente as grávidas não temos problemas nenhuns, porque não vamos atingir a nossa capacidade – 4 mil partos. Não atingimos no ano passado e não devemos atingir este ano ou ultrapassar o número de partos que tivemos em 2000, ou seja, 3.100 partos. O número de partos que vieram de Oliveira de Azeméis, que se calculava que fossem de 500 e que deve estabilizar neste número. Surpreendentemente até vieram menos do que estávamos à espera. Calculo que, em 2007, a maternidade vai rondar os 3.200 partos. Mas não temos qualquer problema porque ainda temos um bloco de partos que não está a ser utilizado. Temos reserva, mas não estamos a utilizá-lo.
Em relação à pediatria, a Urgência de Pediatria fechou em Oliveira de Azeméis, mas as coisas mantêm-se basicamente na mesma porque a equipe de pediatras ficou lá. Em Oliveira de Azeméis mantém-se o SAP e que se vai manter mesmo que haja a reorganização que está prevista. Penso que nada vai mudar.
CA: Com a reestruturação dos serviços de saúde da zona norte do distrito de Aveiro, o São Sebastião vai receber doentes de vários concelhos. O Hospital tem condições efectivas para receber este acréscimo substancial de doentes?
HM: Em relação à obstetrícia, como disse, não temos qualquer tipo de problema. É evidente que o Hospital São Sebastião, neste momento, em termos de lotação, está a atingir o limite da sua capacidade. Até agora temos conseguido gerir as situações. Para já não há notícias de algum doente que não foi atendido ou foi transferido por não termos camas. A não ser nos cuidados intensivos, mas aí funciona a rede nacional. Em relação ao internamento normal ainda não temos tido problemas, mas não quer dizer que não esteja preocupado com isso. Há já planos para primeiro alargar a área da pediatria. Está a ser feito o estudo arquitectónico para o alargamento do serviço para um pátio contíguo. E está também prevista a deslocalização do serviço de oncologia médica para outra área, libertando a enfermaria que está a ser usada para, se futuramente houver necessidade de um reforço de camas, haver mais 26. À partida julgo que não vai haver necessidade de um alargamento no internamento. Ainda mais quando a cirurgia de ambulatório leva a que o doente não ocupe uma cama, ou então só a ocupe por uma noite, a chamada cirurgia de um dia.
CA: Qual a sua opinião acerca desta reestruturação do Serviço Nacional de Saúde.
HM: A reestruturação é necessária por dois motivos: em primeiro lugar porque os últimos 20 anos levaram a um crescimento anormal, diria mesmo patológico e doentio no sentido técnico da medicina do Serviço Nacional de Saúde. O SNS cresceu com serviços que, muitas vezes, não foram pensados à medida das necessidades dos doentes, mas muito mais para os próprios políticos locais e até para os técnicos dos próprios hospitais que utilizavam os serviços para potenciarem ganhos em horas extraordinárias. E chegamos à conclusão, ao final de 20 anos, que temos o país dotado de imensos equipamentos altamente improdutivos. Não faz sentido mantermos um serviço de urgência, onde há um médico e um enfermeiro durante a noite e onde a média de doente que lá vão não chega, muitas vezes, a um doente por noite. Aquilo que todos nós portugueses temos de suportar para manter um serviço destes a funcionar é tão grande que esse mesmo custo daria para atender 10 ou mais pacientes. Não faz sentido. É um disparate.
Um outro aspecto prende-se com o facto de estes serviços terem sido criados, fundamentalmente, à custa dos médicos de família. O que fez com que estes médicos passassem a utilizar as suas horas de trabalho normal, 35 a 42 horas, para fazerem períodos de urgência, isto é, retiraram tempo às consultas programadas para estarem de serviço na urgência. O que fez com que os médicos deixassem de estar nos Centros de Saúde e de assumirem ficheiros de doentes. Estes deixaram de ter consultas programadas e começaram a recorrer aos SAP’s, onde cada dia eram atendidos por um médico diferente. Na realidade não tinham um atendimento médico coerente, pois o profissional não conhece aquele doente, está a ver uma doença num momento de crise e não o doente propriamente dito. De facto este Sistema de Saúde, é um sistema errado, não é bom para as pessoas e que não resolve os problemas dos doentes.
Fechar SAP’s, localizar urgências onde são necessárias, verdadeiras urgências com condições e que tenham no mínimo dois médicos e que estejam preparados para fazer o Suporte Avançado de Vida. Neste momento, um número significativo de médicos que estão de serviço no SAP não têm formação nesta área.
O que faz sentido é criar urgência com profissionais bem preparados e que possam dar resposta às verdadeiras necessidades do doente.
É fundamental passar os médicos de novo para os centros de saúde e potenciar o aparecimento de mais consultas programadas. E sobretudo reorganizar os centros de saúde, no sentido de as consultas médicas corresponderem às necessidades das populações e não às necessidades dos técnicos. Assim vai gastar-se melhor o dinheiro.
CA: Qual a apreciação que faz do serviço prestado pelo Hospital São Sebastião.
HM: É lógico que não é um serviço perfeito, também temos falhas. Quando o hospital foi projectado, foi pensado para receber doentes de Santa Maria da Feira, Arouca e Castelo de Paiva e dar assistência a Espinho e Ovar. Mas agora recebe pacientes de quase todos os distritos do norte de Aveiro.
O verdadeiro problema está na constante alteração de políticas e estratégias para esta área. Eu sou administrador do São Sebastião e já passei por seis governos. Ora isto obriga-nos a uma constante adaptação às novas realidades e a repensar a nossa forma organizativa.
Quanto mais claras forem as estratégias do Governo para a região, melhor será a nossa resposta às necessidades das populações.
Hugo Meireles, administrador do Hospital São Sebastião, entrevista do Correio de Azeméis
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