quinta-feira, maio 27

E se todo o mundo é composto de mudança...

Face a algumas críticas amigas, dirigidas aos conteúdos dos nossos "posts" , (radicalismo, incompreensão, facciosismo), permitam-nos que esclareçamos o seguinte.

A nossa análise, das medidas de reforma do sector da saúde, desenvolvidas por este governo, é efectuada em função dos riscos que elas representam para os objectivos do Serviço Público de Saúde.

O governo pretende implementar na Saúde uma lógica empresarial e uma lógica de mercado, justificando essa sua intervenção devido à limitação das verbas destinadas à saúde e à ineficiência da gestão pública.

Concordamos, em absoluto, com a empresarialização das unidades de saúde da rede nacional de cuidados.
Quanto á implementação de uma lógica de mercado e os riscos que representa, para o sector da saúde, o assalto dos interesses privados, temos sérias reservas.

É necessário zelar pela observância dos princípios da universalidade, igualdade de acesso, qualidade e segurança, que informam o Serviço Nacional de Saúde.
Para cumprir este objectivo, além das várias instituições, entre elas a ERS, achamos necessário a dinamização, na sociedade civil, da massa crítica relativamente aos problemas da saúde.
É esse o nosso lugar de observação.
Quanto ao resto, resulta de perspectivas diferentes com que, cada um de nós, encara as coisas deste mundo.

Nesta altura, achamos oportuno inserir um excerto de um artigo de Eduardo Prado Coelho publicado no Jornal Público.

" Uma visão ingénua do mundo dirá que existem de um lado os cínicos e do outro os ingénuos.
Uma visão cínica do mundo verá as coisas doutro modo: de um lado, aqueles que denunciam permanentemente o cálculo e a premeditação que movem inevitavelmente os humanos, e portanto eles próprios; do outro, os que, procurando ignorar a dura lei das coisas, se deixam manipular e utilizar.
Para os cínicos, não há gestos puros e desinteressados; qualquer gesto obedece a uma estratégia mesquinha. Para os ingénuos, embora reconhecendo que nem sempre assim sucede, a única coisa que importa é esse momento em que uma coisa acontece na esplendorosa evidência de si mesma: a rosa é sem razão, e essa é a suprema beleza do mundo.
Percebo os cínicos - não querem ser apanhados em falta, em pleno deslize de sentimentalidade ludibriada. Procuram, no fim dos fins, a pureza derradeira. Mas cavam tão fundo que só a encontram no álcool, na droga, na violência ou no suicídio.
Prefiro a doçura dos ingénuos. E procuro defendê-los das desilusões. Com medo de que, um dia, confrontados com a maldade hedionda dos humanos, se possam tornar cínicos".

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E se todo o mundo é composto
de mudança
troquemos-lhe as voltas
que inda o dia é uma criança

Continuamente vemos novidades
Diferentes em tudo da esperança
Do mal ficam as mágoas na lembrança
E do bem, se algum houve, as saudades.

Luís de Camões/adaptação José Mário Branco.