Auxílio às Vítimas
foto, NYTimes
1. - A Administração Bush levou uma imensidão de tempo a reagir à tragédia provocada pelo furacão Katrina que devastou cidades inteiras dos estados do Luisiana, Alabama e Mississipi, provocando a milhares de vítimas.
Envergonhado, o Governo federal acabou por aprovar um programa de emergência de 10,5 milhões de dólares (link)
Envergonhado, o Governo federal acabou por aprovar um programa de emergência de 10,5 milhões de dólares (link)
As primeiras estimativas avaliam os prejuízos causados pelo furacão Katrina em 100 mil milhões de dólares (80 mil milhões de euros). Este número corresponde a mais de metade da riqueza produzida em Portugal em 2004 (141 mil milhões de euros).
2. - Nos EUA, sempre que ocorre uma catástrofe a justificar apoios públicos às vítimas, surge também a polémica sobre a justiça (ou oportunidade) dessas ajudas.
Por exemplo: Jack Chambless, professor de Economia no Valencia Community College, em Orlando, Florida, em entrevista à Fox News, afirmou:
«Os americanos têm a obrigação moral de ajudar os seus semelhantes por meio da caridade. Mas é imoral e economicamente errado que o governo americano sacrifique os contribuintes, muitos dos quais são pobres, canalizando o seu dinheiro para que os relativamente ricos reconstruam as suas casas ou áreas costeiras, uma e outra vez.»
Questionado sobre o facto de muitas das vítimas serem pobres:
«Isso é verdade. Mas chegar ao pé dos contribuintes de Indiana e dizer-lhes: "Vocês têm de pagar pelas decisões que alguém tomou na Florida. E nós não garantimos que não reconstruimos após a tempestade!" - isso não parece ser moralmente correcto. Através da caridade privada, certamente que sim. Mas com o dinheiro dos contribuintes, não faz qualquer sentido. O FEMA [Agência Federal para as Emergências] fez baixar o custo de vida nestas áreas. Mais e mais pessoas deslocar-se-ão para estas zonas porque não receberam qualquer incentivo para sair.»
IN Pura Economia.
2. - Nos EUA, sempre que ocorre uma catástrofe a justificar apoios públicos às vítimas, surge também a polémica sobre a justiça (ou oportunidade) dessas ajudas.
Por exemplo: Jack Chambless, professor de Economia no Valencia Community College, em Orlando, Florida, em entrevista à Fox News, afirmou:
«Os americanos têm a obrigação moral de ajudar os seus semelhantes por meio da caridade. Mas é imoral e economicamente errado que o governo americano sacrifique os contribuintes, muitos dos quais são pobres, canalizando o seu dinheiro para que os relativamente ricos reconstruam as suas casas ou áreas costeiras, uma e outra vez.»
Questionado sobre o facto de muitas das vítimas serem pobres:
«Isso é verdade. Mas chegar ao pé dos contribuintes de Indiana e dizer-lhes: "Vocês têm de pagar pelas decisões que alguém tomou na Florida. E nós não garantimos que não reconstruimos após a tempestade!" - isso não parece ser moralmente correcto. Através da caridade privada, certamente que sim. Mas com o dinheiro dos contribuintes, não faz qualquer sentido. O FEMA [Agência Federal para as Emergências] fez baixar o custo de vida nestas áreas. Mais e mais pessoas deslocar-se-ão para estas zonas porque não receberam qualquer incentivo para sair.»
IN Pura Economia.
Estas declarações do senhor Jack Chambless devem encantar muitos dos nossos ultraliberais (feitos à pressa) que passam a vida a zurzir o nosso pobre Estado Social.
3 Comments:
«(...) Estou farto de ver comentários no sentido de desculpabilizar a administração Bush do que se passou em Nova Orleães. Trata-se, para mim, de política consciente, donde, responsável e responsabilizável, coerente e sistemática:
- Em 2001, a FEMA [agência federal para as emergências] alertou que um furacão atingindo NO era um dos 3 mais prováveis desastres nos EUA, juntamente com um ataque terrorrista a NY. A administração Bush cortou os fundos para o controle de cheias de NO em 44%.
- Há 1 ano, o U.S. Army Corps of Engineers propôs fazer um estudo sobre como proteger New Orleans de um furacão catastrófico. A administração Bush ordenou que o estudo não fosse feito.
- Em 2004, a administração Bush cortou os fundos pedidos por NO para proteger a cidade das águas do lago Pontchartrain em mais de 80%.
A decisão da administração Bush de anular em 2003 a política iniciada em 1990 por Bush pai e reafirmada por Clinton de proteger os pântanos que cercam a cidade não pode ser ignorada: mais de 80 mil km quadrados foram desprotegidos e entregues a urbanizadores. Cada 2 milhas de pântano reduz a altura das águas das cheias em 15 cm. Em resposta, um estudo de 2004 previu que NO seria devastada por furacões de nível 2 ou 3. O comentário da Casa Branca foi: "highly questionable" e gabaram-se: "Everybody loves what we're doing." (...)»
Antonio Inglês (http://ribatejo.blogspot.com)
[Publicado por vital moreira
A primeira revista literária publicada na Luisiana foi obra de negros, poetas e escritores fancófonos, que reuniram os seus trabalhos em três edições de um pequeno livro com o título L'Album Littéraire. Foi nos anos 1840 e nessa altura a cidade possuía uma classe próspera de negros livres que eram artesãos, escultores, negociantes, proprietários, trabalhadores especializados em todos os campos. Milhares de escravos viviam também à sua conta na cidade, em vários ofícios, enviando todos os meses alguns dólares para os seus proprietários.
«Isto não é para diminuir o horror do mercado de escravos no local do famoso St. Louis Hotel, ou a injustiça do trabalho escravo nas plantações, duma ponta à outra da Luisiana. É apenas para dizer que nunca foi uma questão de "tudo ou nada" nesta estranha e bela cidade
(...)
«Através de tudo isto, a cultura negra nunca se foi abaixo na Luisiana. Na realidade, Nova Orleães tornou-se o lar de muitos negros , de um modo que talvez poucas outras cidades americanas tenham sido. A Dillard University e a Xavier University tornaram-se duas das mais importantes escolas negras da América; e logo que se venceram as batalhas contra a segregação, os negros de Nova Orleães ascenderam a todos os níveis de vida, construíndo uma visível classe média que se encontra ausente em muitas cidades do ocidente e norte da América até hoje.
«A influência dos negros na música da cidade e da nação é demasiadamente grande e conhecida para ser descrita. Foram os músicos negros que demandavam Nova Orleães que a apelidaram como "the Big Easy" porque era um sítio onde podiam sempre encontrar trabalho. Não é justo para Nova Orleães considerar o jazz e os bkues como a música do homem pobre, do oprimido.
(...)
«Agora a Natureza fez o que a Guerra Civil não conseguiu. Agora a Natureza fez o que os motins de 1920 não conseguiram. Agora a Natureza fez o que a "vida moderna" com a sua incessante busca de eficiência não conseguiu. Fez o que nem o racismo nem a segregação conseguiram.
(...)
«Partilho esta história por uma razão - e para responder a perguntas que surgiram nestes últimos dias. Logo que as câmaras de televisão começaram a filmar os telhados e os helicópteros a socorrer os que estavam encurralados no topo das casas, um coro de vozes ergueu-se: "Porque é que não saíram antes? Porque é que ficaram ali quando sabiam que se aproximava uma tempestade?" Um jornalista chegou mesmo a perguntar-me: "Porque é que as pessoas vivem num sítio como aquele?"
(...)
«Bem, eis uma resposta. Milhares de pessoas não saíram antes porque não podiam sair. Não tinham o dinheiro necessário. Não tinham veículos. Não tinham nenhum sítio para onde ir. Eles são os pobres, negros e brancos, que vivem na cidade em grande número; e fizeram o que acharam que podiam fazer - juntaram-se nas casas mais resistentes que conseguiram encontrar. Não havia a alternativa de ir para o hotel mais próximo. E além disso, milhares de outros que poderiam ter saído, ficaram para ajudar outros. (...)»
Anne Rice
"Do You Know What It Means to Lose New Orleans?"
New York Times
coligido por Pura Economia
The shaming of America», ou The Economist convertida ao "anti-americanismo primário", é evidente!
«Since Hurricane Katrina, the world's view of America has changed. The disaster has exposed some shocking truths about the place: the bitterness of its sharp racial divide, the abandonment of the dispossessed, the weakness of critical infrastructure. But the most astonishing and most shaming revelation has been of its government's failure to bring succour to its people at their time of greatest need.»
Vital Moreira- Causa Nossa
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