segunda-feira, abril 16

Liderança dos profissionais de saúde

O artigo do Prof. Paulo Kuteev Moreira sobre a experiência holandesa, no capítulo da “inovação em Saúde”, merece ser ponderado. LINK Embora o autor do artigo no DE considere nuclear a influência das associações de doentes neste projecto inovador, refere um item (abaixo transcrito), na área de identificação dos factores críticos para uma boa prática, que me despertou a atenção.

“PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM POSIÇÃO DE LIDERANÇA E MOTIVADOS” ...

O extenso leque de profissionais de saúde, os latentes (ou por vezes exacerbados) conflitos corporativos, os “ghetos” inter-profissionais, a multiplicidade competências, a anarquia de conhecimentos, o desequilíbrio (ou mesmo a ausência) de incentivos, entre outros motivos, dificultam o exercício da liderança na área da Saúde.
Todos sabemos que “posições de liderança” carecem, na prática, de reconhecimentos mútuos, nomeadamente, ao nível das competências e, particularmente, nos desempenhos.
Ora, como na Saúde as competências são vastas e abundantes serão, também, os espaços “penumbra”, onde ninguém lidera.
Uma das primordiais funções da liderança é ocupar espaços vazios, coordenar esforços, identificar as prioridades, desenhar estratégias, prosseguir objectivos (colectivamente definidos e assumidos), etc.
Segue-se, um outro pormenor, indissociável da prestação de cuidados em Saúde, isto é, a definição da “centralidade” do projecto assistencial. Ninguém ignorará o perene diferendo entre concepções abundantemente catalogadas como “economicistas”, viradas para a “gestão de quantidades” e obcecada por níveis de produtividade e, em oposição, “diferentes opções”, onde essa centralidade se fixa na qualidade dos cuidados, à revelia dos custos e fora das ópticas de competividade.
A "natural" assumpção de uma posição da liderança (não a nomeação!) passa, também, pela capacidade de dirimir estas opostas “sensibilidades” e configurar um projecto comum, agregador.
Na Saúde, as lideranças tornaram-se indissociáveis do(s) conhecimento(s) e de uma panóplia de “gestões” (médica, administrativa, financeira, etc). Conjugar tão alargadas e diversificadas competências para “adquirir”, por mérito, uma posição de liderança é, no nosso País, um autêntico achado.
Resta, portanto, fomentar e explorar ("forçar" a confluência de) interdisciplinaridades e introduzir (desenvolver) modelos de liderança adequados.
É aqui que entra a inovação associada à liderança, contemporânea de uma acelerada mutação tecnológica, da necessidade de partilha de conhecimentos e objectivos e onde os sistemas de informação (para os profissionais e para os doentes) desempenham um papel nuclear.

A questão da(s) motivação(ões) é (são), obviamente, complementar(es) e integra(m)-se, fundamentalmente, nos instrumentos de liderança. Noutra oportunidade voltaremos a este assunto.

Para já, a questão da liderança, levanta-me uma inquietante pergunta:
No “nosso” modelo SNS estão criadas (ou foram pensadas) condições objectivas para o exercício de uma efectiva liderança pelos profissionais de Saúde?
É-Pá

2 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Arrisco: Não foram

2:33 da tarde  
Blogger Mário Lino said...

Foi pena que este post do e-pá não fosse mais discutido.
O PKM não considerou a "influência das associações de doentes" como nuclear. O destaque deve ter sido do editor do DE.
De qualquer maneira, a resposta do joapedro ao desafio do e-pá, foi simples, directa e... derrotista!

Mas é estranno assumir-se este derrotismo. Não é verdade que se mantém uma discreta 'lei' em que os Pres dos CA dos HHs públicos são sempre (!!!) médicos?
Portanto, é um facto que os profissionais de saúde (pelo menos os colegas médicos) estão de facto em posição de liderança! Para além disso, os enfermeiros têm sempre assento no CA.
Já o segundo aspecto mencionado nesse extracto do texto do PKM, a motivação, é um problema diferente que reflecte um outro problema do nosso SNS. Talvez estes lideres (médicos e enfermeiros nos CA dos HHs) estejam desmotivados porque, na verdade, estão limitados e de mãos atadas pelo facto de serem nomeados pelo Ministro! ou seja, ao politizar (partidarizar) o topo da gestão hospitalar cria-se um sistema em que, apesar de termos profissionais em posição de liderança, estes não a assumem pois estão totalmente dependentes e receosos dos humores do Poder da João Crisóstomo e dos momentos de "sacudir a água do capote" do IGIF e das ARS (que também têm que passar a culpa de eventuais maus resultados para os HH a quem não deram apoio nenhum). Isto desmotiva.

10:13 da manhã  

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