sexta-feira, junho 18

Domingo, Portugal defronta a Espanha

1. - Hoje de manhã dei comigo a pensar no jogo de Domingo.
Portugal, disputa com a Espanha a passagem aos quartos de final.
O pior adversário que nos podia calhar nesta altura.
Explico porquê.
A selecção da Espanha é uma das mais fortes do Euro 2004.
Por outro lado, um grande número de Portugueses, habituados a ver os jogos do campeonato Espanhol pela TV, têm a selecção espanhola como a sua segunda preferência, imediatamente a seguir à selecção Nacional.
Domingo, ao comemorarmos eufóricos a vitória da selecção Portuguesa, é-nos lícito pensar porque raio não nos calhou outro adversário a eliminar.

2. - Este dilema futebolístico levou-me a uma reflexão sobre o ministro da saúde.
Que respeito nos merece Luís Filipe Pereira como adversário?
LFP é um ministro trabalhador, empenhado na realização de um projecto em que acredita.
Professor de estratégia, a sua reforma do sistema de saúde é fortemente alicerçada numa sólida formação teórica sobre o processo de mudança e desprezo pela realidade e os profissionais dos serviços de saúde.
É um dos melhores ministros do governo de Durão Barroso, O que, diga-se em abono da verdade, também não é difícil.

3. - Sendo um tecnocrata empedernido, LFP demonstra pouca sensibilidade para o exercício da gestão numa área social como a Saúde.
A avaliação da eficiência em saúde não se pode limitar à utilização de rácios quantitativos, elaborados a partir de conceitos como os de orçamento, número de profissionais de saúde, horas de trabalho, doentes saídos, número de camas.
É também necessário a utilização de rácios qualitativos, elaborados a partir de conceitos qualitativos embora quantificáveis, como seja os de demora do acesso, resultado do tratamento, variáveis que traduzem a eficiência das organizações de saúde na capacidade de gerar “ganhos em saúde” (impacto sobre o estado de saúde da população)

4. - Por outro lado, também é certo que devemos ter presente que o conceito de saúde - todos devemos ter saúde - evoluiu para o conceito de que todos devemos ter direito ilimitado aos serviços de saúde.
Nesta perspectiva, os cidadãos são levados a utilizar os cuidados de saúde como de um mero bem de consumo se tratasse. Mais, são compelidos a procurar cuidados de saúde que não necessitam.
Como os recursos são limitados, o Estado financiador deixa de poder suportar os custos com a Saúde (nem seria justificável que continuasse a suportar face à alteração do comportamento da procura).

5. - Face ao aumento incomportável dos gastos com a saúde, determinado pela procura ilimitada de bens saúde (semelhante à procura dos outros bens doe consumo no mercado livre), a solução encontrada foi empurrar a prestação de cuidados para o sector privado.

Chegamos assim ao objectivo último da política de saúde deste governo: prestadores privados financiados pelo estado.

LFP está predestinado a cumprir esta Missão: privatizar as unidades de saúde do SNS. Objectivo que coincide com um principio estrutural do seu pensamento: o que é privado é bom.

6. -Como homem, como técnico LFP, merece-nos toda a consideração.
Desprezamos, profundamente, as suas opções políticas por as acharmos injustas. Não podemos deixar de discordar com a actuação desenvolvida sob a bandeira da melhoria da eficiência do SNS, cujo resultado é o favorecimento de meia dúzia de empresários em detrimento dos utentes do SNS, seleccionados segundo as suas possibilidades económicas no acesso à prestação de cuidados.