A fuga de Durão Barroso
O Exemplo dos Ratos
Aqui há uma semana, com pretensiosa ironia, escrevia-se nesta Coluna que a remoção do doutor Durão Barroso para Bruxelas seria «uma causa verdadeiramente nacional», pois que, «segundo os resultados das últimas eleições, 33 por cento dos eleitores apoiariam a proposta porque sim e cerca de 60 por cento porque não.»
Vá lá tentar fazer-se ironia num país sisudo. A meio da semana, o doutor Guilherme Silva contrapunha que «Durão Barroso tem um compromisso com os portugueses e está fora de questão não o cumprir até ao fim». Mas o próprio doutor Barroso levou mais a sério a proposta que os compromissos.
Agora, e falando sério, parece que ninguém tem dúvidas de que será uma grande honra para a Pátria que o presidente da Comissão Europeia seja um português. Mesmo que se trate de um português que acabou de levar uma «banhada» eleitoral, logo em matéria europeia, e, por isso mesmo, seja «um líder frágil», um «candidato de recurso», «sobrevivente da sessão de tiro aos pombos» que foi a corrida à presidência da Comissão, como escreve a imprensa europeia. O primeiro-ministro, estrondosamente derrotado nas europeias, vai fugir aos problemas que aí vinham.
Parece sina ou maldição. De há dois governos para cá, os primeiros-ministros designados na sequência de eleições fogem, para Bruxelas ou para parte incerta, às primeiras contrariedades.
Ao mesmo tempo que o actual primeiro-ministro se prepara para fugir à crise que a «banhada» deixava antever, o actual presidente da CML aproveitaria para deixar a quem vier atrás a tarefa de tapar os buracos do Túnel do Marquês, do Parque Mayer, do Casino, da Feira Popular, do Hipódromo, da pista de gelo.
O protocolo do Estado deveria mudar a fórmula do juramento de lealdade dos titulares de cargos políticos, acrescentando-lhe o compromisso de honra de exercer os mandatos até ao fim. O comandante do navio é o último a abandonar o barco. Porém, os governantes de Portugal preferem o exemplo dos ratos.
João Paulo Guerra
Diário Económico 29.06.04
Aqui há uma semana, com pretensiosa ironia, escrevia-se nesta Coluna que a remoção do doutor Durão Barroso para Bruxelas seria «uma causa verdadeiramente nacional», pois que, «segundo os resultados das últimas eleições, 33 por cento dos eleitores apoiariam a proposta porque sim e cerca de 60 por cento porque não.»
Vá lá tentar fazer-se ironia num país sisudo. A meio da semana, o doutor Guilherme Silva contrapunha que «Durão Barroso tem um compromisso com os portugueses e está fora de questão não o cumprir até ao fim». Mas o próprio doutor Barroso levou mais a sério a proposta que os compromissos.
Agora, e falando sério, parece que ninguém tem dúvidas de que será uma grande honra para a Pátria que o presidente da Comissão Europeia seja um português. Mesmo que se trate de um português que acabou de levar uma «banhada» eleitoral, logo em matéria europeia, e, por isso mesmo, seja «um líder frágil», um «candidato de recurso», «sobrevivente da sessão de tiro aos pombos» que foi a corrida à presidência da Comissão, como escreve a imprensa europeia. O primeiro-ministro, estrondosamente derrotado nas europeias, vai fugir aos problemas que aí vinham.
Parece sina ou maldição. De há dois governos para cá, os primeiros-ministros designados na sequência de eleições fogem, para Bruxelas ou para parte incerta, às primeiras contrariedades.
Ao mesmo tempo que o actual primeiro-ministro se prepara para fugir à crise que a «banhada» deixava antever, o actual presidente da CML aproveitaria para deixar a quem vier atrás a tarefa de tapar os buracos do Túnel do Marquês, do Parque Mayer, do Casino, da Feira Popular, do Hipódromo, da pista de gelo.
O protocolo do Estado deveria mudar a fórmula do juramento de lealdade dos titulares de cargos políticos, acrescentando-lhe o compromisso de honra de exercer os mandatos até ao fim. O comandante do navio é o último a abandonar o barco. Porém, os governantes de Portugal preferem o exemplo dos ratos.
João Paulo Guerra
Diário Económico 29.06.04
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