terça-feira, fevereiro 8

Seguro obrigatório para a saúde.


Manuel Delgado, Presidente da APAH
O Estado devia criar um seguro obrigatório para a saúde é a opinião de Manuel Delgado, presidente da APAH, em entrevista à revista Gestão Hospitalar.
- Gestão Hospitalar (GH) - Como funcionaria esse seguro social ?
- Manuel Delgado (MD) - Era acabar com os impostos gerais como fonte de financiamento da Saúde e criar um seguro social, fora do Orçamento de Estado, com um Instituto Financeiro para a Saúde para o qual todos os cidadãos descontariam. Descontariam não por estarem doentres mas por serem cidadãos e aqui é que está a grande diferença.
Poder-se.ia encontrar uma forma de passar as verbas do Orçamento para um Instituto Público que funcionaria como segurador, para o qual todos os cidadãos descontariam todos os meses, 7 ou 8 por cento, dos seus rendimentos, sendo dessa parcela ressarcidos em sede de impostos, obviamente.
- G.H. – Na sua óptica, esse seguro deveria ser obrigatório ou os cidadãos poderiam optar por um seguro privado ?
- M.D. – Eu acho que deveria ser obrigatório. Há aqui um risco de desnatação, um perigo que podemos correr, que é o de cidadãos mais ricos e mais saudáveis quererem sair do sistema público. As companhias de seguros agradeceriam.
- G.H. – Mas não é isso que já está a acontecer?
- M.D. – É e eu acho errado, porque conduz a uma saúde a duas velocidades – para pobres e para ricos.
- G.H. – À semelhança do modelo americano?
- M.D. – Do americano, do brasileiro. O Brasil tem o Serviço Unitário de Saúde que, aparentemente, é como o nosso. Só que este sistema tem poucos recursos porque um nicho de população prefere gastar uma parte – que não é pequena – do seu rendimento em seguros privados. E que nicho é esse? É o que se refere às classes média-alta e alta. O cidadão normal vai a um hospital público e arrisca-se a não ter assistência médica.
- G.H. – Acha que isso poderia acontecer em Portugal caso se prosseguissem as actuais políticas ?
- M.D. – Com certeza. Se continuássemos todos os dias a convidar as pessoas com mais poder económico a fazer seguros privados de saúde arriscávamo-nos a deixar no serviço público os mais pobres e debilitados. E o sistema ficaria sem dinheiro, apenas com os mais doentes, porque os saudáveis saíriam para companhias de seguros privadas. Os prémios que as companhias impõem aos cidadãos são tendencialmente crescentes em função do risco de adoecer. Portanto, sou absolutamente contra os modelos de "opting out."

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Entrevista interessante. O problema dos seguros privados põe em risco a solidariedade do sistema, como é evidente.

12:34 da manhã  

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