terça-feira, abril 26

Modelo de Saúde

- Gestão Hospitalar (GH)Como é que se controlam os custos, para que todos tenham acesso à Saúde?
- Alain Enthoven (AE)(*) – O que eu proponho é um modelo de concorrência entre diversos planos de prestação e financiamento de cuidados de Saúde. Um, em que o Governo paga para que todos fiquem cobertos pelo plano mais barato. E, se o utente quiser alguma coisa para além disso, tem de pagar a diferença do seu próprio bolso.
Este plano de baixo custo é de muito boa qualidade, embora a sua liberdade de escolha seja limitada.
- GHLiberdade de escolha em que sentido?
- AE – De médicos. Estas organizações estabelecem acordos com grupos específicos de médicos e o utente concorda em efectuar todos os tratamentos com esse grupo. Assim, a organização pode negociar o preço, as disposições relativas aos custos de gestão, etc.
Depois temos três outros planos de seguros que são semelhantes ao modelo tradicional com uma taxa por serviço. Pode-se ir a qualquer lado (livre escolha), mas tem de se pagar mais do próprio bolso e o prémio do seguro também é mais elevado.
- GH Reduzir a liberdade de escolha do doente é uma boa maneira de controlar custos?
- AE – Sim. Para atrair doentes, as organizações de cuidados de saúde têm de oferecer um serviço em troca do dinheiro e conter os gastos. Trabalham com os médicos para encontrar formas económicas de actuar.
In Gestão Hospitalar - n.º 4 - Abril 2005.
(*)Alain Enthoven - professor de gestão pública e privada na universidade de Stanford.
Neste modelo a universalidade do sistema é "plafonada". O estado (ou outro financiador do sistema) é responsável pelo pagamento de um pacote de cuidados fixo, assegurado por determinada entidade prestadora de cuidados (a opção por outro tipo de cuidados ou por outros prestadores é possível caso os utentes paguem a diferença de custos) com quem negociou previamente todas as condições.
O problema deste modelo reside na dificuldade de manter a qualidade das prestações dos planos de baixo custo, só exequível num sistema de elevada concorrência entre prestadores (o que não se verifica em Portugal).

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Esta proposta fez-me lembrar a entrevista de Miguel Cadilhe ao Semanário Económico em que o ministro da economia do Cavaco Silva disparou estas perolas sobre a saúde:
"A saúde como qualquer outro serviço público deve ser, tanto quanto possível, submetida à regra “utilizador/pagador”, temperada por condições de efectiva capacidade de pagamento. O Estado moderno, contido, eficiente, rodeado de todas essas globalizações,não vai poder suportar facturas sociais, que sejam exorbitantes, muitas vezes em benefício, aliás, de pessoas que não precisam e não contribuíram."
Não deixa de ter razão nalguns pontos.
Talvez frequente a consulta externa do hospital de Santo António e tenha dificuldades em preencher a sua declaração de rendimentos.

5:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A proposta de Enthoven é mais ampla do que isso. Ao defender concorrência entre planos, abandona-se a ideia de financiamento via impostos pagos por todos, passando a um sistema de prémio de seguro em que cada um pagará de acordo com as suas características de risco, e em que será necessário criar uma outra qualquer forma de solidariedade financeira. Será que esta evolução é aceitável em Portugal?

9:58 da tarde  

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