segunda-feira, maio 23

Listas de Espera

1. - A acessibilidade, traduz a possibilidade de o utilizador de um determinado Sistema de Saúde, obter a prestação de cuidados, no momento e no local em que necessita.
A incapacidade de resposta do SNS tem originado o crescimento contínuo do número de utentes em espera cirúrgica.
Até 1992 não se conhecia a verdadeira dimensão do problema das listas de espera. O primeiro estudo exaustivo remonta a Junho de 1992, referindo, os seus autores, que a existência de doentes com uma média global de 223 dias de espera era de 92 mil.
A partir de 1995, os sucessivos governos, pressionados pela opinião pública, desenvolveram vários programas específicos de recuperação das listas de espera:
- Programa específico de recuperação de listas de espera (PERLE) - criado em 1995 pelo ministro da saúde do XII governo, o qual remetia a resolução da espera cirúrgica para o sector privado através da celebração de contratos com os hospitais.
- Programa de promoção do acesso (PPA) - Criado em 1999 pelo governo socialista de António Guterres, remetia a resolução das listas de espera para o melhor aproveitamento da capacidade hospitalar (actividade desenvolvida fora do horário normal). Esta produção hospitalar adicional era paga através de uma linha de financiamento especial, criada para o efeito.
- Programa especial de combate às listas de espera cirúrgicas (PECLEC) - criado pelo XV governo constitucional a partir de finais de 2001.
A resolução do Conselho de Ministros n.º 100/2002 de 26 de Abril, publicada no Diário da República n.º 121 de 25 de Maio, que criou o Peclec, refere que o número de doentes em lista de espera, em Dezembro de 2001, era de 90 451.
Para lançar a confusão sobre o número de doentes em espera cirúrgica, Luís Filipe Pereira decide criar duas listas de espera: a herdada da gestão anterior e a nova, constituída pelos doentes lançados em lista de espera a partir de 31 de Dezembro de 2001.
- Sistema integrado de gestão de inscritos para as cirurgias (SIGIC):
Perante o estrondoso fracasso do PECLEC (135 000 doentes em lista de espera ao fim de dois anos de execução), Luís Filipe Pereira lança novo programa, no qual garante ao utente a realização da cirurgia indicada pelo médico assistente, no prazo máximo de seis meses, através de um sistema de encaminhamento do hospital de referência (no caso de a cirurgia não ser efectuada num prazo razoável), para outro hospital da rede pública e, finalmente, a atribuição de um vale de cirurgia, permitindo-lhe escolher o local da sua realização.
2. - "O actual Governo herdou uma lista de espera para cirurgia que ultrapassava as 193 mil utentes no final de Janeiro último, mais cerca de cem mil do que o total estimado em meados de 2002" (link)
Segundo Cipriano Justo, "tendo em atenção o ritmo de crescimento, o número de utentes em lista de espera ultrapassa actualmente os 200 mil, prevendo-se que o tempo médio de espera suba inevitavelmente, se não se encontrarem rapidamente alternativas."
O actual ministro da Saúde, António Correia de Campos, já informou que o SIGIC é para continuar. A esperança de obter resultados satisfatórios através da execução deste programa, pura e simples, deve ser afastada.
Correia de Campos sabe, como ninguém, que a resolução do problema dos doentes em espera cirúrgica só terá êxito através de uma gestão global do acesso aos cuidados de saúde eficiente: rentabilização e melhoria da capacidade instalada (mediante a reorganização eficiente dos serviços), melhoria dos meios das especialidades mais carenciadas, e utilização do SIGIC ou outro qualquer programa especial, sem prejuízo da actividade normal em articulação com medidas visando a melhoria da organização dos serviços.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Segundo tenho ouvido várias vezes à Maria José Nogueira Pinto, o problema do SNS é que os hospitais só trabalham no período da manhã.
A falta de rentabilização da capacidade instalada é a principal razão das extensas listas de espera cirúrgicas.

9:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A existência de extensas listas de espera é a prova de que em Portugal o Direito à Saúde é violado de forma continuada.

Um estudo interessante seria procurar determinar quantos doentes faleceram por não terem acesso à cirurgia prescrita dentro do tempo recomendado.

12:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não nego uma evidência: que há problemas de acessibilidade. Mas a instituicionalização das listas de espera, como problema e como programa de solução, é preversa. De um recurso gestionário passa rapidamente a mais um instrumento de boicote do funcionamento normal dos serviços, a um instrumento de demagogia (política e institucional) e a um instrumento de potenciação abusiva de remunerações. E, mais grave de tudo, a um modo de instrumentalizar os doentes. Se, como refere um dos comentadores anteriores, seria interessante saber quem morreu à espera de vez, ambém não seria má ideia saber quantos foram operados desnecessariamente e quantos foram mal operados, no afá da remuneração ao acto.
Acredito que os programas de resolução de listas de espera resolveram os problemas de saúde de uns milhares de utentes. Antes assim. Mas pagámos todos um preço (no caso, um custo) muito elevado e, muito provavelmente, desnecessário.
ass: prateleira

5:50 da tarde  

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