Portugal Proíbido
Hoje Carcavelos, após o arrastão, o céu encoberto a ameaçar aguaçeiro, estava vazia de banhistas. Polícia por todo o lado como numa final de futebol. Os empregados encostados às portas dos cafés. Todos à espera dos banhistas e dos negros do arrastão.
O país também a fingir estupefacção fez a contabilidade do arrastão: quinhentos negros, vinte minutos para a polícia chegar, cinco feridos, três detidos, dezenas de pessoas assaltadas. Depois dos assaltos nos autoestradas, os arrastões. O que se seguirá?
A maioria dos portugueses também finge acreditar que tudo se resolverá com mais polícia, porrada e prisões. Os guetos suburbanos construídos de barracas imundas, sub-humanas, droga, violência, prostituição, desemprego, sofrimento, ficam do outro lado da cidade. Longe, muito longe.
- Como se atrevem estes negros a invadir a nossa praia?
Desabafava uma senhora gorda desbotada enquanto o seu caniche defecava no calçadão da marginal.
Se eu fosse preto suburbano, vinte anos, fichado pela polícia, sem estudos nem emprego, sonhos desfeitos, o orgulho que não sentiria ao ver os títulos dos jornais deste domingo. Um dia da raça em cheio. O Dez de Junho do Black Power. Uma operação exemplar, sem baixas, um aviso sério aos molungos estúpidos (1)
(1) - brancos.
7 Comments:
A criminalidade dos gangs quintuplicou nos últimos sete anos, avança o Diário de Notícias este sábado. Com base nos relatórios de segurança interna, o jornal adianta que entre 1997 e 2004, o número de delitos atribuídos a grupos de jovens aumentou 460%. A taxa de crescimento, no entanto, abrandou desde 2002.
O DN cita o relatório de 2002 do Ministério da Administração Interna (MAI), em que se pode ler que «a evolução geral desde 1997 demonstra uma tendência claramente positiva - à media de 32,5% ao ano até 2002 -, assumindo maior impacto nos grandes centros urbanos, onde factores socioeconómicos potenciam a emergência gradual de um espírito grupal predominantemente vocacionado para acções delituosas em determinadas franjas da comunidade».
Os documentos dos anos seguintes apontam para o um crescimento constante do fenómeno. A sua maior incidência, pelas áreas de jurisdição da PSP, está em Lisboa (61%), Porto (26%) e Setúbal (5%). O conjunto os três distritos representam 78,7% do total.
Apesar de se tratar de uma delinquência tipicamente urbana, desde 2000 verifica-se um aumento da incidência do crime chamado de spree em que os mesmos autores cometem uma série de incidentes, do mesmo tipo e num curto espaço de tempo, em diferentes zonas geográficas, usando, em geral, carros roubados. O alvo preferencial são os postos de combustível, lojas de equipamento informático ou grandes superfícies.
DD
O inédito "arrastão" da praia de Carcavelos só pode ter uma resposta forte em termos de segurança. Depois da demonstração de rigor e disciplina financeira, o Governo do PS tem de revelar a mesma determinação na questão da segurança, em que os governos de esquerda revelam habitualmente algumas dificuldades. Nada há de mais erosivo da confiança dos cidadãos nos governantes do que o aumento da insegurança. A garantia da segurança conta-se entre os mais fundamentais direitos dos cidadãos e entre as mais elementares tarefas do Estado.
No entanto, só um governo de esquerda pode também combater os factores da violência juvenil nos bairros suburbanos das áreas metropolitanas, povoados sobretudo por comunidades de origem africana, verdadeiros guetos onde mora a pobreza, o desemprego, o abandono escolar, o desamparo familiar, o desenraizamento e a exclusão social. Sem atacar a sério as raízes sociais dos "gangs" juvenis e por mais que se invista nas necessárias medidas de prevenção e de repressão da violência, a insegurança pode tornar-se um problema cada vez mais inquietante, com as suas sequelas em termos de fomento do racismo e da xenofobia.
Por isso, a questão da violência suburbana não é um assunto somente das forças de segurança e dos tribunais, longe disso.
Vital Moreira - Causa Nossa.
É curioso ver nestas alturas ver os cronistas da nossa praça pedir o reforço do papel do Estado.
O que nos resta do Império.
Será possível um dia acontecer um arrastão de Ucranianos?
Baixa instrução e qualificação profissional, desemprego elevado. As novas gerações já não estão dispostas a aceitar os sacrifícios dos pais. A marginalidade é a escapatória.
Mais de duzentos manifestantes são esperados no próximo sábado, no Martim Moniz, em Lisboa, num protesto "contra o aumento da criminalidade", organizado pela Frente Nacional, um grupo de extrema-direita. Embora, oficialmente, a PSP remeta mais informações para esta tarde, o DN apurou que a polícia já está a preparar um dispositivo de segurança, para evitar confrontos. No entanto, o Governo Civil de Lisboa assegura que ainda não recebeu a comunicação do evento, como manda a lei.
Segundo fontes da PSP, ouvidas pelo DN, está previsto "um policiamento visível" na zona do evento, quer para evitar confrontos com eventuais "contra-manifestações" - organizadas ou espontâneas -, quer para prevenir a ostentação de símbolos nazis ou xenófobos, sobretudo num local conhecido pela afluência de vários grupos de imigrantes. Outro factor que está a ser avaliado pelas forças policiais é o jogo de futsal Benfica-Sporting, marcado para essa tarde. A PSP considera que muitos dos protestantes seguirão para o jogo.
As brigadas de investigação da GNR, que têm seguido o fenómeno nas zonas periféricas da cidade, margem sul, Loures ou Alenquer, consideram que estes grupos de manifestantes "são núcleos residuais, sem grande expressão, mas estão a aumentar" e "podem arrastar as camadas mais jovens", explorando "os sentimentos de insegurança".
Aliás, sobre o fenómeno do neonazismo em Portugal, o Serviço de Informações e Segurança (SIS) , no relatório de Segurança Interna de 2004, afirma que este está "circunscrito a pequenos focos de acção irregular, com manifestações públicas muito restritas e contidas. Algumas franjas políticas radicais, embora mantendo as suas convicções, não alargaram a sua base popular de apoio". Neste relatório as claques de futebol são referidas como um terreno fértil para a divulgação da ideologia.
Contactado pelo DN, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP remeteu para hoje à tarde a divulgação de mais detalhes sobre a intervenção da polícia no sábado. "Neste momento ainda estamos a recolher informações sobre a manifestação e está a ser montado o planeamento de acompanhamento", afirmou ao DN fonte do gabinete de relações públicas.
"Se o Governo civil não nos der conhecimento da comunicação, a manifestação não estará autorizada e, como tal, actuaremos em conformidade com a lei, identificando os promotores da acção", acrescentou o mesmo responsável.
No site do movimento, os responsáveis da Frente Nacional justificam a iniciativa como forma de contestar o aumento da "criminalidade dos gangs" em "mais de 400% nos últimos anos". O apelo, que surgiu ainda na sequência do arrastão na praia de Carcavelos, é dirigido "a todos, independentemente da sua ideologia ou filiação partidária, que querem mais justiça, mais liberdade e um efectivo combate à criminalidade, nas suas raízes e origens".
Ontem um elemento da organização da manif disse ao Correio da Manhã ter comunicado o evento junto do governo civil. Mas o chefe de gabinete da Governadora Civil de Lisboa, António Sardinha, assegurou ao DN que, até ao final do dia de ontem, não tinha dado entrada qualquer comunicação sobre a manifestação de sábado.
Segundo explicou o responsável, o Decreto-Lei 406/74, sobre o direito de reunião, determina que todas as manifestações ou desfiles devem ser comunicadas ao respectivo governo civil, "por escrito", com "uma antecedência mínima de 48 horas". Ou seja, "teoricamente, a comunicação - que não é um pedido de autorização - deve dar entrada amanhã [hoje]".
Para António Sardinha, o objectivo da lei é permitir ao governo civil e às autoridades competentes que tomem medidas "a propósito de trânsito ou percursos", de modo a "acautelar o bem-estar e segurança dos cidadãos". "Tem que se analisar sempre os objectivos, as circunstâncias e os percursos, em conjunto com todas as entidades. Tudo pode acontecer", disse o chefe de gabinete do governador civil.
Incidentes de Carcavelos só deram origem a uma queixa
Termo de identidade e residência foi a medida de coacção mais grave decretada pelo Tribunal de Cascais relativamente a um dos três detidos nos incidentes de sexta-feira passada na praia de Carcavelos. Quanto aos outros dois, o caso seguiu para inquérito.
Houve ainda um quarto detido, uma mulher brasileira, na sequência de agressões às autoridades, mas a PSP considerou que ela não estaria envolvida nos assaltos que varreram o areal na tarde de dia 10: tentava cortar o companheiro com uma garrafa partida e acabou a agredir um polícia.
Quanto aos indivíduos levados a tribunal, têm idades compreendidas entre os 18 e os 21 anos e residem nos bairros da Venteira, Mina e Santa Filomena, concelho da Amadora.
Apesar do susto provocado pelo "arrastão" e das "dezenas de roubos" mencionados na altura, a verdade é que só uma queixa foi concretizada na esquadra de Carcavelos, o que leva o comandante metropolitano da PSP de Lisboa, superintendente Oliveira Pereira, a supor que os roubos não terão sido realmente tantos.
"No meio da confusão que se gerou, estou em crer que muitas pessoas que pensavam ter sido roubadas acabaram por encontrar os seus pertences caídos no areal ou optaram por não apresentar queixa contra terceiros", explica.
Com muita experiência de policiamento nas praias da Linha de Cascais, Oliveira Pereira lembra que os assaltos em grupo sempre foram uma constante, nomeadamente em Carcavelos e Estoril.
"Sempre foi comum juntarem-se vastos grupos nas praias de onde depois divergiam pequenos núcleos de oito ou dez indivíduos que particavam assaltos. Concluímos que na sexta-feira aconteceu o mesmo, só que devido às centenas de pessoas que se encontravam na praia o fenómeno tomou outras proporções. De um grande grupo de 400 ou 500 pessoas só 30 ou 40 praticaram ilícitos", afirma o responsável do Comando da PSP de Lisboa.
Para o superintendente Oliveira Pereira, os assaltos também terão sido decididos na altura na praia e não fruto de uma organização mais elaborada que levasse centenas de pessoas a Carcavelos com intuitos criminosos.
Oliveira Pereira esclareceu ainda que o caso continua a ser investigado, com base em imagens e depoimentos de testemunhas oculares. Foi apurado que alguns dos indivíduos envolvidos nos roubos já estão referenciados por outros crimes.
16.06.2005
Anabela MendesPÚBLICO
Arrastão" leva a troca de palavras entre PP, BE e PCP
PP, Bloco de Esquerda e PCP envolveram-se numa acesa troca de palavras esta quinta-feira na Assembleia da República devido ao "arrastão" na Praia de Carcavelos. O PP utilizou o tema para sugerir a necessidade de alterar o Código do Trabalho. BE e PCP não gostaram das palavras usadas por Nuno Melo.
)O arrastão na Praia de Carcavelos, na sexta-feira passada, foi tema de debate acesso, esta quinta-feira, na Assembleia da República.
No período de antes da ordem do dia, o CDS-PP abordou o assunto para sugerir a necessidade de alterar o Código Penal, apresentando algumas propostas como a questão da idade para efeitos de imputabilidade.
«Quando o excesso vem do outro lado, quando o excesso seja justificado por quem viola a lei, por quem causa alarde social, nessa mesma esquerda-chique o silencio é quase sempre regra», disse Nuno Melo para apoiar a vontade do PP para altar o Código Penal, sustentando que é preciso censurar os criminoso e louvar a polícia.
A intervenção do líder parlamentar do PP deixou o Bloco de Esquerda indignado. A deputada Ana Drago respondeu com acusações aos populares.
«A intervenção que o senhor deputado fez nesta câmara é ao jeito e na tradição populista, xenófoba e preconceituosa. Nada de novo no CDS, nada a que o CDS não nos tenha habituado durante estes últimos anos. Só faltou fazer um apelo ou apoiar explicitamente, a manifestação de extrema-direita que vai existir em Portugal a propósito do arrastão. Envergonha esta câmara, envergonha o estado de direito», disse.
Em defesa do partido, Nuno Melo, líder da bancada do PP; argumentou que está do lado dos trabalhadores, «das pessoas que trabalham que foram para a praia descansar» e foram arguidas.
Na bancada do PCP, António Filipe, classificou de «grave» a intervenção de Nuno Melo, considerando que usar «uma questão como esta (o arrastão na Praia de Carcavelos), de uma forma alarmista e como arma de arremesso politico-partidária é o pior que se pode fazer ao nosso país e é o piro que se pode fazer para discutir estes problemas.
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