Surrealismos
Dali - The persistence of memory - 1931
Com o passar dos anos, inevitavelmente, modificamo-nos. Mais calmos, tolerantes, capazes de suportar todas as provocações.
Tem acontecido assim comigo.
Não há regra sem excepção.
Quinzenalmente, às quintas feiras, mal posso segurar a impaciência, ansioso por ler a coluna do doutor em Gestão de Saúde pela University of Manchester, Paulo Kuteev-Moreira(link)
Tem acontecido assim comigo.
Não há regra sem excepção.
Quinzenalmente, às quintas feiras, mal posso segurar a impaciência, ansioso por ler a coluna do doutor em Gestão de Saúde pela University of Manchester, Paulo Kuteev-Moreira(link)
A exposição é, por vezes, atabalhoada. As alegorias forçadas. A frase tirada a custo. Chato como palavras cruzadas. Mas eu aprecio. Sempre gostei de enigmas.
Esta semana a alegoria mete défice e surrealismo. Camembert e relógios derretidos. Positivistas intérpretes lógicos do mundo em choque com os agentes políticos (puros surrealistas, irracionais, sonhadores, lunáticos, poetas, trovadores quixotescos).
É neste ponto que entra Correia de Campos (surrealista) em oposição a Luís Filipe Pereira (positivista).
E como é que o surrealista Correia de Campos se propõe combater o défice da Saúde?
Surrealizando: reforço das farmácias sociais? Descida dos preços dos medicamentos? Denuncia das Parcerias Público-Privadas (PPPs) como um mau negócio para o estado, e cancelamento dos concursos em curso? Encerramento e fusão de hospitais? Alteração da lógica ruinosa (!) de financiamento através dos GDHs? Abolição das práticas de incentivo à “produtividade” dos clínicos baseadas em taxas de ocupação de camas? Promulgação do “Acto de Enfermagem”? Pagamento de horas extra apenas aos indivíduos em regime de exclusividade? Liberalização das convenções e contratualização destes serviços em regime concorrencial com os hospitais públicos? E que tal, depois destas medidas surrealistas, repensar o modelo de financiamento? Contratualizar os cuidados intermédios não-hospitalares e domiciliários em pacotes financeiros integrados geridos por seguradoras de saúde? E contratualizar PPPs apenas para construção e manutenção mantendo a gestão pública dos serviços?
Final feliz. A boa política de saúde parece estar ao alcance de positivistas e surrealistas. Basta surpreender. Que o Correia de Campos não nos oiça. Quer dizer, não nos leia. Sob pena de isto se complicar ainda mais.
3 Comments:
Triste ideia misturar Dali com a reforma da Saúde e o Correia de Campos.
Salvador Dalí: o surrealista que persistiu na memória popular
Salvador Dalí gostava de moscas, via-as como um símbolo de coisas boas. Gostava sobretudo dos seus olhos, compostos por milhares de minúsculas lentes. São olhos formados por uma manta de olhinhos, o que permite ao insecto ver em várias direcções ao mesmo tempo. Uma ideia que Dalí quis ver reproduzida na cúpula de vidro que coroa o Museu Teatro Dalí, em Figueres, a cidade catalã onde nasceu e morreu.
Hoje, no entanto, inverte-se a lógica da mosca: olhares de vários continentes voltam-se para um mesmo ponto, Figueres. É ali que esta manhã, pelas 8h45 locais, os "tambores de Calanda" - instrumentos tradicionais da Semana Santa - vão rufar à porta do nº 6 da Rua Monturiol. Tudo porque foi ali, há exactamente 100 anos, que nasceu o artista que nos habituou a relógios moles, elefantes com patas de aranha, ovos gigantescos e tantas outras imagens surrealistas.
Isto passou-se em 2004, penso eu.
Gostei.
Um abraço
joão pedro
Enviar um comentário
<< Home