domingo, outubro 30

Nomeação dos Gestores Hospitalares

Só os burros é que não mudam de ideias (Mário Soares).

«Exige-se que, nas escolhas dos altos responsáveis da administração pública, das instituições públicas e das empresas com participação de capitais públicos, predominem considerações de mérito e não critérios meramente político-partidários. Só assim se credibiliza o Estado e se evitam os custos sociais que resultam da substituição maciça de dirigentes sempre que muda o partido que suporta o Governo. Passados 30 anos sobre a instauração da democracia, é tempo de acabar com esta prática que, cada vez mais, mina as possibilidades de desenvolver o país»
Cavaco Silva, manifesto eleitoral.

O autor da afirmação eleitoral acabada de transcrever (Cavaco Silva) foi o responsável, (através de Leonor Beleza, enquanto Ministra da Saúde) pela inovação de começar a nomear gestores políticos para os Conselhos de Administração dos hospitais com base em critérios «meramente político-partidários». Antes disso, os Administradores dos Hospitais eram nomeados na sequência de concursos públicos nacionais, em que o que imperava era única e simplesmente o mérito.

O que faz Cavaco hoje e, antes dele também Leonor Beleza (há bem pouco tempo) vir dizer o que diz?
Será mera retórica eleitoral?
Não acredito. Acredito sinceramente que Cavaco, neste ponto, influenciado, provavelmente, pela sua delfim (Leonor Beleza) já se deve ter apercebido do mal que fez aos hospitais, à saúde, «às possibilidades de desenvolvimento do país» e os «custos sociais» (e políticos) que gerou com a sua insensatez. Estou certo que ele, melhor do que ninguém, está hoje em condições de perceber o quanto é errado o actual sistema de nomeação dos gestores políticos com base apenas na confiança político-partidária.

Cavaco Silva e Leonor Beleza são duas pessoas inteligentes. Dão hoje a mão à palmatória. Só lhes fica bem reconhecerem o erro. Afinal, como dizia Mário Soares «só os burros é que não mudam de ideias».

E CC, apoiante do MASP («se fiz parte do MASP I e do MASP II, porque não havia de fazer parte do MASP III?»- CC dixit) o que pensa ele fazer? Para já, à boa maneira socialista, foi cavalgando no sistema de nomeações criado pelo PSD, nomeando «meramente com base na confiança político-partidária». Mesmo os que deixou ficar (caso da maioria dos CAs dos HH SA) fê-lo com base no mesmo critério. Quer os que nomeou de novo quer os que lá deixou ficar, são todos comissários políticos de CC. Por eles responde politicamente.

Até quando?
Irá levar os mesmos 17 anos que levaram Cavaco Silva e Leonor Beleza?

Talvez a necessidade de reeleger Mário Soares não seja compatível com tanta demora. Era bom, Professor Correia de Campos, que não perdesse mais tempo. Até final do ano, o mais tardar, exige-se que mostre a sua inteligência. Altere o sistema de nomeação dos gestores hospitalares. Tire o tapete ao Professor Cavaco Silva. E (re)mereça o nosso respeito.
Vivóporto

4 Comments:

Blogger tonitosa said...

A obcessão pela nomeação em regime de "exclusividade" dos AH's para gerir empresas de prestação de cuidados de saúde já parece ser doentia. Concordo em absoluto com o fim das nomeações político-partidárias. Admito que concursos devidamente organizados (não fatos por medida) podem contribuir apara a melhoria da qualidade dos selecionados. Mas, então vamos fazer concursos a que poderão concorrer técnicos superiores onde "todos" os cursos julgados adequados (adm. pública, gestão, direito, engenharia, economia, gestão de RH, etc.) sejam tratados em pé de igualdade e depois com pós-graduações, mestrados e doutoramentos, além do curriculum profissional (carreira e experiência profissionais, etc.) a serem também factores de avaliação.
Os AH concorrerão então em igualdade com outros candidatos e seria mesmo desejável que fossem feitos concursos de provas públicas. Quem tem unhas tocará então viola!

1:09 da manhã  
Blogger xavier said...

A eleição de Cavaco Silva terá, forçosamente, influência directa na execução das políticas futuras e da política de Saúde em particular (por ser o sector da Estado mais gastador e onde se poderão obter maiores ganhos de eficiência)
.
Belmiro de Azevedo, ontem na TV, considerava que as eleições para Cavaco seriam mais uma coroação do que outra coisa.
E acrescentava que Cavaco Silva irá ter uma influência muito importante na actuação futura de José Sócrates.
Nas reuniões das quintas feiras, Cavaco Silva preparará muito bem os dossiers a discutir com o primeiro ministro. E por certo não deixará de ter uma forte influência na execuçãp das politicas a seguir.

Cavaco Silva passará a condicionar a actuação do primeiro ministro (politicamente tenrinho face à experiência e à personalidade vincada de Cavaco Silva), não só através das reuniões das quintas feiras, como através da chamada magistratura de influência. Acrescento eu.

Não tenho dúvidas, e toda a direita aposta nisso, que o presidente Cavaco Silva "abafará" o primeiro ministro e passará a ser ele o verdadeiro líder na definição e execução das políticas do nosso reino.
Em primeiro lugar das políticas económicas.
Será interessante verificar como CS enfretará o monstro que ajudou a criar.
Será que vamos ver o pai a matar o filho ?

Embora sabendo que as probabilidades de MS ganhar estas eleições são muito reduzidas vamos estar a seu lado. Para estarmos bem com a nossa consciência e porque os bravos do pelotão preferem morrer em combate.

9:26 da manhã  
Blogger tonitosa said...

E Belmiro de Azevedo também criticou as opções do Goveno relativas ao novo aeroporto. Eu ouvi...e uma e outra coisa não passam de opiniões de um dos nossos grandes empresários.

5:44 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Alrazi
No fundamental acho que estamos de acordo. Apenas estou em total desacordo com aqueles que acham que só os AH's podem desempenhar funções nos hospitais e que acham que os outros são estúpidos (ainda não vi defender de igual forma a ocupação de lugares noutros Organismos da Saúde?!).
Penso sobretudo que os dirigentes/gestores devem ser pessoas com perfil e competências adequadas aos lugares que ocupam. E não creio que os Hospitais não devam ser geridos da mesma forma que o são outras empresas (públicas ou privadas) porque isso não é incompatível com a adequada prestação de cuidados. Pelo contrário. Obedecer a princípios gestionários não é incompatível com a garantia de acesso universal aos cuidados de saúde e com um serviço de qualidade. Por exemplo, e como me parece óbvio, os responsáveis clínicos deverão ser médicos mas uma coisa é a gestão clínica nas suas componentes técnicas, outra é a gestão da produção e aí até podemos admitir que o(s) responsável(eis) da produção sejam de outras áreas de formação.
Acima de tudo há que apostar em equipas pluridisciplinares apoiadas por quadros técnicos competentes.
Ou será que os Hospitais privados que estão geridos por não AH's estão a ser mal geridos?!

8:22 da tarde  

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