sexta-feira, julho 14

Avaliação dos Administradores Hospitalares

Como se avalia o trabalho de um Gestor Hospitalar? Ou melhor de um CA de um hospital?
Pelo maior número de doentes tratados? Pela redução de custos? Pela satisfação percepcionada pelos utentes dos Serviços? Pelo volume de investimentos feitos no Hospital? Pela melhoria de resultados líquidos? Pelo clima interno da organização?
Parece-me que a resposta capaz de englobar as perguntas anteriores cabe na seguinte avaliação: grau de satisfação dos utentes e resultados do exercício.
A primeira porque tem a ver com qualidade dos cuidados e deve ser complementada com indicadores de eficácia (taxas de mortalidade, readmissões, demora média, etc.) a segunda por que associa eficácia à eficiência, permitindo avaliar custos e proveitos.
Depois poder-se-ão fazer avaliações mais ou menos aprofundadas sobre a actividade desenvolvida. Mas o que interessa aos utentes é um bom serviço de saúde e ao Estado interessa que esse serviço seja prestado ao menor custo possível.
Vamos lá então à questão de fundo deste post: quem são os gestores incompetentes, amadores, afilhados e correligionários? E qual a informação dispomos para os podermos considerar como tais.
Que há gestores melhores que outros, certamente que os há. Que há gestores incompetentes pode dizer-se, em teoria, que sim. Mas vamos lá à concretização. E podemos fazê-lo (se for essa a nossa convicção), ainda que as nossas opiniões possam ser contestadas.
Força. Venham os nomes ou os hospitais onde eles estão.
Só assim poderemos fugir à crítica de que "o que temos é inveja".
tonitosa

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9 Comments:

Blogger saudepe said...

Há muito tempo que a APAH devia ter elaborado um Código de Conduta e um conjunto de regras que definissem com clareza a função do Administrador Hospitalar.

Nunca é tarde para trabalhar nestes docmentos.

2:13 da manhã  
Blogger Xico do Canto said...

Avaliar o desempenho de um administrador é compará-lo a um desempenho padrão.

Quando avalio o desempenho dum colega comparo-o com aquilo que, na minha opinião e no conjunto de valores que perfilho, considero como bom, como desejável. E apesar do desempenho poder ser objecto de algumas metrias objectivas, a avaliação é, também e principalmente, suportada em juízos de valor.

Verifica-se, por isso, que o resultado duma avaliação depende de quem a faz. Cada cabeça sua sentença.
Seria um erro crasso promover a avaliação do desempenho de administradores sem antes estabelecer um quadro de referência com larga aceitação.

Mas quem é que poderá estar interressado em fazer tal avaliação? Teoricamente o Patrão. O político. Mas isto retira-lhe credibilidade nas nomeações das clientelas, logo não se fará. É para esquecer. É politicamente incorrecto.

2:58 da tarde  
Blogger Doutor Enfermeiro said...

A pergunta de facto é pertinente. Como se avalia um gestor hospitalar? Antes de mais, e para saber como me posiciono nesta questão, sou contra os administradores que não sejam Médicos ou Enfermeiros. Subsistem mil e uma razões para firmar esta minha asserção, mas de uma forma elementar pode ser argumentado pelo facto da saúde ser um sector cujas regras do mercado económico não são aplicáveis. Lida-se com vidas humanas, sentimentos, valores humanos, com a dignidade das pessoas, etc, e aqui meus amigos, não há teoria económica que nos valha. Daí a extrema necessidade de associar a formação em gestão à formação médica ou de Enfermagem (os Enfermeiros sempre se assumiram como excelentes gestores).
Esta nova geração de gestores, totalmente desconhecedores da saúde, faz-se retratar nas várias idiotices e patetices que vão dizendo e fazendo. Constata-se isto nas mais pequenas coisas do quotidiano. Não são sabedores de material hospitalar, de patologias, dos cuidados médicos/enfermagem, da dinâmica da saúde, não têm conceitos de saúde interiorizados, que são indispensáveis à gestão neste sector.
Eu mesmo posso dar exemplos que vivi, que encheram de sorrisos e pândega centenas de Médicos e Enfermeiros. Uma delas até gostaria de contar sucintamente: há bem pouco tempo, a instituição onde exerço, adquiriu algum material hospitalar novo (no sentido de substituir o obsoleto, quase pré-histórico), entre eles, monitores-desfibrilhadores de “ponta”.
A empresa fornecedora solicitou pequenas reuniões com médicos/enfermeiros no sentido de esclarecer dúvidas. As reuniões foram várias, pois os profissionais interessados também eram muitos.
Mas logo na primeira (a qual tive o prazer de lá estar), chegou o sr. Administrador, homem de tacho político, com formação em economia, profundo desconhecedor da saúde, detentor de um aspecto ignóbil marcado. Ao longo da sessão o sr. Administrador foi colocando as suas dúvidas “pertinentes”, algumas provocavam incredulidade no formador e sorrisos nos médicos/enfermeiros. Lá mais para o fim, o administrador tentava demonstrar à plateia que já se encontrava em delírio, que era um conhecedor destas lides dizendo ainda mais palermices, às quais os profissionais de saúde acabavam por reagir com grandes gargalhadas e espalhafato. Foi a partir deste momento que muitas anedotas acerca deste senhor começaram a “viajar” pelos corredores deste hospital. Exemplos como este repetem-se perpetuamente no dia-a-dia deste cómico administrador.
Outra: em declarações - no ano passado - a um jornal regional, este senhor queria fazer transparecer ao povo que conhecia o hospital. Mas fê-lo de uma forma “estatistica”, e mesmo assim, mal. Atestou no seu discurso hilariante que a estatística é enganadora, pois ele próprio cometia atropelos matemáticos e contradizia-se de uma forma vergonhosa… O povo ficou descontente. Ninguém gosta de ser uma “estatística”.
Neste momento, os custos deste hospital aumentaram, a precariedade tornou-se insustentável, as dívidas aos fornecedores acumulam-se, as horas extraordinárias esfumaram-se sabe-se lá para onde…
Esse nosso caro amigo, gosta é de passar uns fins-de-semana fora às custas do hospital, e passear-se no “carrito” que sempre quis comprar com fundos do erário público. Conseguiu comprá-lo. Tornou este hospital num “inferno hospitalar”, e no fim de tudo isto continua a não perceber patavina de saúde. Neste hospital reina a “rebaldaria”, a desordem, a anarquia autoritária, a democracia ditatorial…
Com os médicos, enfermeiros, auxiliares, administrativos, não conseguiu comprar outra coisa que não “guerras”, inventar interpretações de decretos e ordens de serviço que ninguém cumpre. Até as empregadas da limpeza gozam com o coitado….
Em suma, sou a favor da boa gestão, mas liderada por um profissional de saúde. Porque desta forma e neste ritmo, o que estes novos administradores vão conseguindo destruir o que tanto custou a colocar de pé.
Respondendo à questão, como avaliá-los? Não se avaliam, mandam-se embora do sector. A saúde não precisa de mais tachos de gestores incompetentes e desempregados…
A partir da sua chegada (da dos administradores não-médicos ou não-enfermeiros) nada melhorou, os cuidados tornaram-se de qualidade inferior, alguns custos foram reduzidos à custa da exploração dos trabalhadores e dos roubos assumidos aos fornecedores… Contas bem feitas, os custos aumentaram... tudo piorou.
Um utente hoje em dia chega ao hospital e é mal atendido. Faz poucos exames complementares de diagnóstico para poupar (diagnósticos incertos, errados…), chegam para ser operados (o que dá dinheiro aos hospitais) e depois na convalescença é-lhes dado um pontapé no “cú” para casa… resultado? Internamentos recorrentes com infecções, complicações, etc... Vão para os internamentos e deparam-se com falta de material, com material foleiro, rasca e barato, comida horrorosa, falta de recursos humanos (penam dias e dias em macas à espera de alguém que os atenda), outros ainda morrem sem que alguém que lhe chegue a tempo de ajudar ou apenas dar a mão. Morrem sozinhos, afogados na sua aflição e agonia, enquanto cá fora as famílias pensam que estão a ser bem atendidos, com bons equipamentos e muito pessoal. Os administradores nem sequer têm um palmo de testa para verem isto…. Até serem eles um dia, estendidos numa maca, “amontoados” em corredores frios, à espera de alguém que lhes traga uma simples injecção que lhes irá salvar a vida….

11:04 da tarde  
Blogger Xico do Canto said...

Agora compreendo a afirmação dum amigo que me dizia que os sapatos dos médicos não podiam ser feitos por sapateiros mas pelos próprios médicos, porque dos seus pés percebiam eles. Era a história dos médicos sapateiros.

O DOUTORENFERMEIRO, se não falasse de assuntos sérios, provocava-me uma sonora gargalhada.

A confusão que vai naquela cabecinha pensadora!

Comentários para quê? Vozes de burro não chegam ao céu.

Ainda assim lanço-lhe um repto. Dou-lhe um doce se conseguir indicar um autor de obras de gestão, ou de economia, que sustente a afirmação "(...) mas de uma forma elementar pode ser argumentado pelo facto da saúde ser um sector cujas regras do mercado económico não são aplicáveis (...)".

12:03 da manhã  
Blogger xavier said...

A avaliação dos AH devia ser feita necessáriamente através da aferição do desempenho com os objectivos contratualizados e com um conjunto de regras caracterizadoras da função, previamente definidas.

Vejam, por exemplo a carta de conduta dos NHS managers:
http://www.dh.gov.uk/assetRoot/04/08/59/04/04085904.pdf

Por sugestão do semmisericórdia estou a tentar alinhavar um post sobre esta matéria.

Quem faz falta para tratar esta matéria é o vivóporto.
Aproveito para lançar daqui um pedido ao VVP se nao quer ajudar nesta espinhosa missão.

Ao fim e ao cabo vamos estar em condições de responder à questão do tonitosa.

1:37 da manhã  
Blogger xavier said...

Sem dúvida que o comentário do doutorenfermeiro tem piada.

É evidente que os médicos e enfermeiros são gestores.
Basta pensar na ctividde de um director de serviço ou um enfermeiro chefe.
Poderão, como é evidente, desempenhar todas os tipos de gestão se tiverem competência para tal.
O que tem piada, segundo entendi, é a reivindicação de exclusividade.
Gestão nos HH e CS só com doutoresenfermeiros.
É experimentar.

1:44 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Caro Xico do Canto
Não discordando de si, no caso em apreço parece-me que um Gestor, ou um Órgão de Gestão, têm que ser avaliados em função dos resultados obtidos pela Organização.
Resultados considerados no contexto em que a correspondente actividade se desenvolve e por referência ao que se espera de uma gestão normalmente diligente.
E os resultados de um Hospital são em grande medida mensuráveis. Sejam financeiros sejam de produção ou de qualidade. Se a uma quebra na produção (doentes assitidos em SU, cirurgias, consultas externas, partos, etc) se associa um aumentos dos custos de exploração, as coisas têm que ser muito bem explicadas. Se aumentam os recursos e a produção diminui, isto tem que ser muito bem explicado.
Se os objectivos fixados para a Organização de acordo com os recursos disponíveis, não são atingidos, isso tem que ser muito bem explicado.
Se o número de óbitos no hospital associados a uma determinada enfermidade aumentou, isso deve também ter uma explicação aceitável.
Enfim, a avaliação, como diz deve ter presente quadros de referência ou como diz o Xavier, "a avaliação dos AH devia ser feita necessáriamente através da aferição do desempenho com os objectivos contratualizados e com um conjunto de regras caracterizadoras da função, previamente definidas".
E os valores de referência devem ser, tanto quanto possível, ajustado pela realidade concreta do País e da Organização em processo de avaliação (ambiente externo e interno, tecnologia, recuros humanos, etc.).
Não concordo com um processo de avaliação de um Gestor ou de um Órgão (colegial) de gestão, baseado em "juízos de valor". Esses juízos de valor podem e devem complementar a avaliação mas não me parece que devam ser o seu principal suporte.

2:20 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Ao doutorenfermeiro,
O seu comentário encerra acusações que, a serem verdadeiras, configuram actuação criminosa.
E como profissional, deve denunciá-las, sob pena de poder ser corresponsabilizado (criminalmente) por omissão de denúncia de crime ou ocultação de crime (os juristas que me desculpem a falta de rigor técnico).
O colega deve estar certamente a "brincar" mas ... "com coisas sérias não se brinca".
Eu quero ser mais generoso que o meu amigo dizendo-lhe que não sou contra Gestores que sejam médicos ou enfermeiros!
Mas também lhe digo que, ao contrário do que diz (para justificar a sua opção exclusiva por gestores médicos ou enfermeiros) a saúde para muitos médicos e enfermeiros é mesmo um negócio( e infelizmente num mercado oligopolista). Basta vermos quanto se paga por um acto médico ou mesmo por um acto de enfermagem nas clínicas (estabelecimentos) particulares.
E como sabe muitas vezes os doentes dos estabelecimandos de saúde públicos (hospitais e centros de saúde) são "desviados" por médicos e enfermeiros para consultórios e clínicas particulares (angariação de clientes) sendo que estes, normalmente fragilizados pela doença, não têm liberdade de escolha!
Termino dando-lhe os parabéns pela sua fértil imaginação. O que para um doutorenfermeiro também não é de estranhar!
Já agora diga lá o nome do seu hospital. Denuncie os incompetentes mas baseado em dados concretos e relativos à gestão.
E não se esqueça que o Administrador não trata doentes nem faz diagnósticos, nem opera doentes, nem lhes dá alta.
Mas sabe uma coisa: ou você não frequenta o seu próprio hospital ou não tem o mínimo respeito pelos profissionais de saúde.
E há tantos e tão bons nos nossos hospitais!

2:34 da manhã  
Blogger Doutor Enfermeiro said...

O caso está mais do que denunciado, agora resta esperar pelo desenvolvimento de um processo que à partida sabes-se que irá ser infrutífero.

De facto, para muitos médicos e Enfermeiros a saúde é um negócio. Exercem a sua ciência e tentam daí tirar lucros. Os AH são TODOS uns economicistas, uns falhados. Compreendo que em muitos sectores de mercado um gestor poder desempenhar bem o seu papel sem entender coisa alguma desse mesmo sector, na saúde, como disse, isto não se aplica.
E é por isso que a saúde está como está. Foram os AH que assim a reformaram. Um exemplo paradigmático, nos EUA quem tem dinheiro ou sai barato, usufrui de cuidados de saúde, quem não têm dinheiro, pode estar certo que a ajuda não chegará.
Continuo a dizer (e sei que corro o risco de ser incompreendido, principalmente num blog como este) que os AH só deveriam ser médicos ou Enfermeiros.

Xico do canto disse:
"Agora compreendo a afirmação dum amigo que me dizia que os sapatos dos médicos não podiam ser feitos por sapateiros mas pelos próprios médicos, porque dos seus pés percebiam eles. Era a história dos médicos sapateiros."

Este foi um exemplo infeliz, estúpido, desadequado e tosco. O amigo não é daqueles "administradores" que engolem os supositórios com ajuda de um copo de água, pois não?

7:01 da tarde  

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