sábado, julho 4

Governo, processo de tomada de decisão


Conta o Dr. Mário Soares que, quando era Primeiro-ministro, reuniu a nata dos Economistas Portugueses, para recolher opiniões sobre a adesão de Portugal à CEE.
Eram todos contra. E desenvolveram cenários catastrofistas para a hipótese da nossa entrada na Comunidade.
O Dr. Mário Soares saiu da reunião, regressou ao seu gabinete e tomou a decisão, inabalável de pedir a adesão de Portugal à CEE.
Tratava-se duma decisão essencialmente política que foi, felizmente, tomada em sede própria.
Hoje
, diz o Dr. Mário Soares, todos aqueles economistas são a favor.

Em 1976 o Dr. António Arnault deu um despacho que abria os postos das Caixas de Previdência a toda a população.
Tivesse o Dr. Arnault consultado os Técnicos do seu Ministério e estes lhe diriam que aquele despacho era inexequível.
Estou em crer que o próprio Dr. Arnault sabia que assim era.
Mas o seu despacho foi uma decisão política, destinada a abrir caminho ao SNS.
O SNS nasceu e desenvolveu-se constrangido pela falta de meios. Foi necessário “sangue, suor e lágrimas” de muitos profissionais de saúde para que vingasse.
Hoje, ninguém contesta a sua importância.

Nos anos 80 discutia-se a construção do Hospital de Tomar. Os serviços de planeamento eram contra. A capacidade instalada naquela área geográfica já era excedentária.
Um governo do Prof. Cavaco Silva decidiu-se pela construção.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; não consta que aquela decisão tenha resultado de qualquer estudo custo-benefício.
Hoje, temos um Centro Hospitalar, integrando três hospitais, completamente ingovernável.
Foi o preço da invasão da esfera técnica pelo poder político.

Depois de muitos anos de indecisão, de avanços e recuos, o Governo nomeou uma Comissão Técnica para estudar a localização do Centro Materno Infantil do Norte.
Com base nesse estudo decidiu-se pela integração, do Centro Materno Infantil, no Centro Hospitalar do Porto.
Entretanto, uma bem conseguida campanha publicitária dá conta da decisão do Hospital de S. João construir um novo Hospital Pediátrico.
Inaugurámos, assim, um novo modelo de decisão. A decisão institucional, tomada à revelia duma decisão política apoiada num estudo técnico.

O Governo não terá nada a dizer sobre isto?

Brites

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8 Comments:

Blogger Politólogo said...

O Animal Feroz que (afinal) nada sabia de política…

O episódio Manuel Pinho antecipa o (triste) fim de um ciclo político tumultuoso, difícil e atribulado que será recordado nos manuais de ciência política como mais um exemplo ilustrativo de como os governos perdem eleições mau grado a qualidade das oposições. José Sócrates foi vítima de si próprio e da enorme dificuldade em temperar determinação com arrogância, persistência com teimosia, coragem com voluntarismo. Não percebeu o país quando este, por várias vezes, lhe deu sinais de “estar farto” da persporrência de alguns ministros. Trocou a protecção dos amigos ministros pelo respeito que devia ao país. Não percebeu que não podia ter na mesma equipa personalidades de grande qualidade como Vieira da Silva, Dias Amado ou Mariano Gago, com truculentos personagens como Mário Lino, desastres naturais como Rui Pereira, esotéricos seres como Jaime Silva, Maria de Lurdes Rodrigues e Alberto Costa ou inexistências políticas como Ana Jorge. Na saúde, aliás, seria útil se alguém do núcleo político, que ainda conserve um pingo de réstia de lucidez, alertasse a senhora ministra da saúde que em nada ajudará o partido do governo, nas próximas eleições, se persistir em fazer o papel de uma espécie de pivot do magazine da gripe. É que corre o sério risco de quando, e se as coisas começarem a correr mal ter de pedir ajuda ao Dr. Francisco George para fazer o papel que agora deveria ser dele. Vale a pena lembrar a fábula do Pedro e do lobo…

1:01 da manhã  
Blogger sillyseaspn said...

Os Estarolas…

Este episódio da construção do Hospital Pediátrico no S. João ilustra bem os tempos que vivemos. O HSJ assumiu-se como um estado-federado, apeteceu-lhe ter um hospital pediátrico, lançou a campanha do Joãozinho, com galas à mistura e chamadas de valor acrescentado. É a gestão estarola no seu melhor. Não tardará estarão a fazer merchandising, lançarão uma lotaria especial, transformarão a casa mortuária num bingo, montarão quartos privados com jacuzzi e filmes pré-pagos. Esperaremos para ver a corrida tauromáquica anual do HSJ e quiçá o arraial do S. João com martelinhos e alho-porro. O que vale é que com a vinda da Dra. MFL o Prof. Rui Nunes (ministro ou PCA do HSJ) rapidamente criará o St. John’s Trust Foundation Hospital…

1:10 da manhã  
Blogger tambemquero said...

O Estado deverá sair a ganhar com a primeira PPP na área da Saúde. Pela parte privada, a HPP ainda não tem a mesma certeza. O administrador, José Miguel Boquinhas, justifica a dúvida com a «imensa conflituosidade» originada pela ausência de uma série de indicadores no caderno de encargos.
A gestão privada no Hospital de Cascais, da rede pública, tem de seguir um caderno de encargos com cerca de quatro mil páginas. O modelo de parceria público-privada (PPP), por ser novo, apresenta «imensas dificuldades» e é «imensamente conflitual» com a esfera pública.

Tempo de Medicina

Começou o choradinho em relação ao cumprimento do contrato PPP.
Segundo JMB, o Estado vai ganhar e o HPP ainda não sabe o que lhes vai acontecer...
O que se pedia de início era uma gestão competente, sem malabarismos em relação à gestão de pessoal.
Ao propôr contratos com restrição de direitos aos funcionários do Hospital de Cascais não será o HPP a gerar a conflitualidade a que alude?

6:52 da tarde  
Blogger Omessa said...

Excelente post deste Brites, que mostra clareza e argúcia qb.

De facto pasma-se ao ver um baronete contrariar uma decisão do governo que o plantou no lugar de gestor, o qual obriga a cumprir o planeamento de saúde.
Esta actuação, pensada e divulgada aos quatro ventos numa campanha de marketing, irá provocar consequências negativas em vários tabuleiros e nomeadamente:

- Aumenta os custos nos hospitais do Porto que ficarão com taxas de ocupação menores do que o desejável;
- Captura para o Porto os poucos pediatras que há disponíveis, deixando à míngua o resto da região. Isto vai provocar iniquidade de acesso com transferências e deslocações desnecessárias e custosas à Invicta.

Ninguém lembra ao dito que o hospital faz parte do SNS e que os gestores estão obrigados a procurar o óptimo para este Serviço? Talvez começar com um cartão Pare, Escute e Olhe.

Após o fiasco monumental que foi a campanha de recolha se o adepto do «modelo institucional» (eu é que sei e faço) continuar na mesma senda não haverá alguém na tutela com uma «cartolina vermelha» para mostrar?

Já tarda!

8:54 da manhã  
Blogger Rapa tira deixa said...

Quem lê as declarações de JMB fica com «imensas» dúvidas:

1ª Será que o «parceiro» privado ao longo dos quatro anos do concurso não teve tempo de ler e compreender o caderno de encargos, o programa de procedimento, a proposta que apresentou e demais peças que assinou e ficaram no contrato?

2ª Que tipo de «imensas» dificuldades são inesperadas «por ser novo»?

3ª Apesar das «quatro mil páginas» do caderno de encargos a «imensa conflitualidade» deve-se à ausência de uns indicadores?

4ª Se mal entram no combóio chegam logo à estação da pedinchisse e da reclamação não será melhor um tratamento radical?

9:14 da manhã  
Blogger Antunes said...

QUEM NÃO TEM COMPETÊNCIA NÃO SE ESTABELECE.

Acontece que JMB tem vindo a demonstrar não estar à altura deste projecto.
Como não esteve na gestão do CHLO cujos péssimos resultados o demonstram.

O novo Hospital de Cascais, como Adalberto Campos Fernandes refere, poderia contribuir um forte estímulo para as administrações das EPEs.
Poderia...
A continuar assim, arrisca-se a ser um forte candidato à abertura dos telejornais.

9:25 da manhã  
Blogger cotovia said...

HAJA CALMA...

Vamos ter eleições em setembro.

JMB é convidado para um alto cargo governativo.

E leva consigo, Luís Pedroso de Lima, ex presidente da "ACE Compras Partilhadas em Saúde” (um êxito que a Paula Nanita está a pagar).

Sócrates, primeiro ministro de um Governo minoritário, convida Rui Nunes para presidente do Conselho de Administração do St. John’s Trust Foundation Hospital…

PKM é nomeado presidente da comissão encarregada de estudar a viabilidade da rede de Trusts nacional da qual farão parte, entre outros, Jorge Abreu Simões.

Moral da história:
a) Se te queres ver livre deles, promove-os;
b) Este pessoal o que sabe fazer é girar de poleiro em poleiro;
c) Quanto pior for a performance mais depressa funciona a geringonça.

5:43 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Cotovia:

Um excelente quadro do "Centrão" a funcionar...

11:35 da tarde  

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