quarta-feira, julho 1

Falar claro... Quem quer ?


A intervenção do Olho Vivo link é magnífica e verdadeiramente marcante.
Quem duvida que “a defesa do SNS passa, em primeiro lugar, por clareza nos princípios e firmeza nos propósitos”? Ainda que, parece-me, nada disso possa considerar-se alheio à estratégia se esta for qualquer coisa do que esperamos dela. Na falta de estratégia, privilegia-se a táctica, ou seja, faz-se o que, para os objectivos de cada momento, se afigura mais conveniente, e assim se mandam para as urtigas a clareza nos princípios e a firmeza nos propósitos.

Horácio foi, para muitos, o maior dos poetas latinos, ombreando com Virgílio e até superando-o se não na vertente “patriótica” da obra legada, pelo menos na perfeição formal da sua métrica e na actualidade das suas composições, bem mais próximas do dia a dia do Lácio em que viveu. “Epicuri de grege porcus” (seguidor dos princípios epicuristas), na sua própria auto definição, não consta que a temática hospitalar tenha estado entre as por ele versadas. Seguramente foi outro Horácio que veio ao Saudesa, brindar-nos com o brilhante comentário sobre “o fantástico, surpreendente e espantoso domínio da perplexidade”
link para onde somos atirados pelas cândidas declarações de MD e pela “receita” (correcta, mas insuficiente, digo eu) que o Brites lhe contrapõe. Insuficiente porque há mais e incontornável, ou seja, sem cuja resolução nunca sairemos do ponto em que estamos, e o que falta falta no SNS, mas, infelizmente, não só no SNS. Cada dia que passa traz-nos novas exemplificações disto mesmo, mas não vou por aí porque quero confinar-me apenas à área da saúde.

Diz MD que «há aspectos que não correram bem, um deles, foi a politização das administrações, que, em determinados períodos da nossa vida democrática, tem sido escandalosa.» Já o sabíamos; o que não sei é qual o seu critério para distinguir os períodos escandalosos dos restantes. Pelo contrário, a minha percepção é a de que essa tem sido uma constante na área da saúde, independentemente de quem exerce o poder. Admito que a APAH e o seu Presidente poderiam ter feito mais neste domínio. Antes de mais, na linha defendida pelo Brites e visando os resultados por ele formulados, ou seja, batendo-se por um sistema de avaliação responsabilizante das administrações hospitalares (não só dos AH formados pela ENSP, que são a minoria) e responsabilizantes também de quem as nomeia; depois, pugnando pela valorização dos AH, pela qual não se tem feito o suficiente. Deveria ser melhorado e actualizado o respectivo currículo formativo, (excessivamente formal e praticamente estagnado há muitos anos em contraponto com a evolução verificada nas ciências e nas tecnologias da saúde, assim como na visão dos equilíbrios dos profissionais entre si, com a população servida e com as áreas interdependentes ou condicionantes); deveria haver outro nível de exigência; falta criar outra concepção e outra dinâmica de promoção de iniciativas visando a actualização e melhoria contínua dos profissionais.

No entanto, não acompanho o Horácio quando parece esquecer que os AH e a APAH não têm poder comparável com o dos Médicos e da sua Ordem e Sindicatos. Isto é, nunca seria bastante, por maior que fosse, a qualidade das administrações hospitalares. Por quê? Porque as coisas só acontecem quando podem acontecer. Até lá vão acontecendo outras coisas, como, de forma lapidar, diz o Olho Vivo: discursos ziguezagueantes, titubeantes e equívocos. Exemplos? Não. Basta ler o Saudesa dos últimos dias.

O Olho Vivo tem razão: tudo isto dói e custa muito a fazer… Ou se quer ou não se quer.

Aidenós

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8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

De todas as discussões surgidas, o "não se quer" é a explicação mais plausível. É certo que a APAH não tem os mesmos "poderes" que a Ordem dos Médicos (e ainda bem). Duvido porém que se os tivesse, optasse por um papel activo de avaliação das gestões hospitalares e muito provavelmente adoptaria, isso sim, a postura praticamente sindicalista que a Ordem dos Médicos usa na sua intervenção pública.

Mesmo sem esses "poderes" não vejo o que impeça a APAH de fazer uma avaliação do funcionamento das administrações hospitalares, sem mais impacto do que a nomeação pública de bons (e eventualmente mais) exemplos de gestão hospitalar. Se tiver um processo sério e transparente de "certificação" de bons administradores hospitalares, certamente que haveria efeitos de influência sobre todos.

É muito português ter que esperar que seja constituida uma comissão por decreto ministerial para algum propósito que poderia ser também conduzido de forma autónoma pela "sociedade civil", ainda que organizada em torno de uma classe profissional. Neste aspecto, a APAH só se pode queixar de si própria.

9:09 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Proposto novo modelo de gestão hospitalar

Um novo modelo de gestão dos hospitais públicos foi ontem proposto por Rui Nunes, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Inspirado nos Foundation Trusts britânicos, o "hospital fundação estatal" foi apresentado como a "terceira vaga de reformas" que o sector hospitalar necessita, numa altura em que assenta sobretudo no modelo dos hospitais EPE (Entidades Públicas Empresariais).
O novo modelo apresenta uma série de vantagens, segundo Rui Nunes - que coordenou um projecto de investigação sobre este tema em conjunto com Guilhermina Rego. Para além de poderem ter "um melhor desempenho económico e financeiro" - porque aqui serão "plenamente aplicadas" as regras da gestão características da iniciativa privada -, estes hospitais terão a hipótese de captar donativos da comunidade (ao abrigo da lei do mecenato) e contarão com um Conselho de Curadores, escolhido pelo Governo e pela população. Numa fase inicial, sugere-se que apenas as unidades com elevada pontuação no sistema de avaliação em preparação pela Entidade Reguladora da Saúde sejam alvo desta transformação.
JP 30.06.09

Depois das PPP´s à portuguesa, eis que alguém se lembra de avançar com os Trusts à Portuga.
Isto em articulação com o SINAS (estão a ver...).

Toda a gente parece interessada em fazer do SNS uma feira de experimentação, para ver se a coisa acaba mais depressa.

5:25 da tarde  
Blogger vida nova said...

Aí está o aidenós de novo agora, ainda com mais acutilância e capacidade de síntese.
Já estava a fazer falta ao saudesa.

O que se dispensava eram as arengas do Rui Nunes, lembram-se daquele que esteve na ERS e que nada fez para além de se pavonear. Para o fim dava entrevistas a dizer que o que a ERS se propunha fazer até ao fim do ano era saber quem estava em processo de acreditação!
Para isso bastava um secretária, um telefone e uma manhã, dispensava-se toda estrutura da ERS mais as suas mordomias.

Que credibilidade tem para vir falar agora de gestão de hospitais, ele que nem a ERS foi capaz de gerir?

7:25 da tarde  
Blogger Politólogo said...

Tendências Pré-Eleitorais…

Em tempo pré-eleitoral é preciso estar atento aos sinais. O Prof. Rui Nunes dá sinal de vida posicionando-se como um dos nomes disponíveis para a equipa da saúde (isto na eventualidade do PSD vir a ganhar as eleições). Fiquemos todos atentos aos movimentos não só desta iminente personalidade mas também de Paulo Kuteev-Moreira, Jorge Paulo Roque da Cunha, Nascimento Costa, Mendes Ribeiro e Pedroso Lima. Deste grupo emergirá a elite que irá “rasgar” a parte referente à saúde da legislatura que ora se conclui.

11:41 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Venha o diabo e escolha.

12:02 da manhã  
Blogger Unknown said...

Aquecer os motores…

Fonte geralmente bem informada (próxima do PSD) garante que já se iniciaram as acções de formação e reciclagem da elite gestionária dos HH’s SA tão injusta e discricionariamente afastada por ACC e que se prepara para regressar em força a partir de Outubro. As acções iniciaram-se, em ambiente reservado, num Hotel de Sesimbra tendo os grupos sido arrumados por origem sócio-profissional. Ao que parece o grupo mais dinâmico era constituído pelos oficiais superiores na reserva.

12:08 da manhã  
Blogger Hospitaisepe said...

Já se iniciou mas é a partilha dos "jobs for the boys", à boa maneira do Bloco Central.

Repartição virtual do bolo antes das eleições para motivação da rapaziada.

8:45 da manhã  
Blogger xavier said...

Estive uns dias fora em local ermo, sem internet, imagine-se.
Interessante o comentário do Politólogo.
Um verdadeiro elenco de luxo!

10:23 da tarde  

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