EHCI 2009 (conclusão)
2- Problemas metodológicos
Depois, balizas muito largas produzem viés. Por ex., são “fracos” os sistemas de saúde com menos de 70% de despesa pública, assim qualifica-se de modo igual um sistema com 20% de contribuição do Estado (Bismarckianos) ou um SNS com 69%. Tempos muito reduzidos conduzem igualmente a enviezamento, devia tomar-se o tempo aceitável clinicamente ou, quando não exista, um tempo não muito reduzido (7 dias para TAC?).
“Pagamentos informais a médicos”: trata-se de um indicador dependente de opiniões, cuja fundamentação e ajustamento será sempre questionável.
Alguns dos objectivos não estão representados no Índice (qualidade, eficiência macroeconómica) e alguns têm ponderação errada (ex. equidade) – de modo semelhante com algumas dimensões (ex. continuidade de cuidados). Também não são considerados aspectos importantes de especificidade nacional, dou dois exemplos:
• O SU em Portugal tem procura muito maior que a doutros países, daí maior despesa e excesso de inapropriação (desperdício não avaliado pelo índice) mas também maior acesso e minorar o efeito de tempos de espera nos CSP e acesso a especialistas e MCD (3.1, 3.2, 3.5) – aspecto não considerado.
• Especificidade portuguesa de ter vários subsistemas e elevada % privada no ambulatório e MCD gera menor peso das esperas e resultados do SNS, o que também não foi considerado.
É duvidosa a adequação do indicador “variação da taxa de suicídios”. Naturalmente pode usar-se dentro de um país para monitorizar a evolução e medir o desempenho desse sistema, porém não serve como medida de desempenho comparativo de sistemas porque, será de esperar, têm taxas iniciais muito diversas e derivadas a factores diferentes nem todas ligados aos serviços de saúde.
Os valores obtidos da qualificação suscitam alguma perplexidade (ou não, considerando a falta de rigor do Índice):
• Albânia tem o acesso melhor ex-aequo (187 pontos), maior que países com excelentes resultados em saúde como a Suécia (93) e MUITO MAIOR que outros que os cidadãos reconhecem como bons (RU com 80)?
• Que dizer da tendência geral ascendente da qualificação? Não significará que há “jogo de números”?
Resta reconhecer a importância que tem a satisfação dos doentes como medida de desempenho, tomada de modo cientificamente adequado e em complementaridade com outras medidas. Aproveito para desafiar o blogue a dar exemplos de como tudo iria melhor se fosse considerada no desempenho das Unidades.
O Índice é essencialmente uma qualificação – bons, razoáveis e fracos – não uma classificação, como tal não serve para ordenar e muito menos comparar o desempenho de sistemas de saúde de países diferentes. Quando se dispõe apenas de uma qualidade, não um valor quantitativo, fica-se impedido de calcular médias, somar ou ordenar conforme a pontuação. Apresentamos um exemplo simples, em que comparamos igual qualificação (5 BB, 2 RR, 3 FF) com a classificação diferente que ilustra esta conclusão.
Naturalmente a pontuação final depende da classificação em cada critério e da respectiva ponderação – quando temos meras qualificações sobra demasiado espaço para a subjectividade e manipulação de números e não pode haver apreciação e ordenação global. Também já vimos que o peso de algumas componentes é desproporcionado (ex. medicamentos) o que gera enviezamento.Depois, balizas muito largas produzem viés. Por ex., são “fracos” os sistemas de saúde com menos de 70% de despesa pública, assim qualifica-se de modo igual um sistema com 20% de contribuição do Estado (Bismarckianos) ou um SNS com 69%. Tempos muito reduzidos conduzem igualmente a enviezamento, devia tomar-se o tempo aceitável clinicamente ou, quando não exista, um tempo não muito reduzido (7 dias para TAC?).
“Pagamentos informais a médicos”: trata-se de um indicador dependente de opiniões, cuja fundamentação e ajustamento será sempre questionável.
Alguns dos objectivos não estão representados no Índice (qualidade, eficiência macroeconómica) e alguns têm ponderação errada (ex. equidade) – de modo semelhante com algumas dimensões (ex. continuidade de cuidados). Também não são considerados aspectos importantes de especificidade nacional, dou dois exemplos:
• O SU em Portugal tem procura muito maior que a doutros países, daí maior despesa e excesso de inapropriação (desperdício não avaliado pelo índice) mas também maior acesso e minorar o efeito de tempos de espera nos CSP e acesso a especialistas e MCD (3.1, 3.2, 3.5) – aspecto não considerado.
• Especificidade portuguesa de ter vários subsistemas e elevada % privada no ambulatório e MCD gera menor peso das esperas e resultados do SNS, o que também não foi considerado.
É duvidosa a adequação do indicador “variação da taxa de suicídios”. Naturalmente pode usar-se dentro de um país para monitorizar a evolução e medir o desempenho desse sistema, porém não serve como medida de desempenho comparativo de sistemas porque, será de esperar, têm taxas iniciais muito diversas e derivadas a factores diferentes nem todas ligados aos serviços de saúde.
Os valores obtidos da qualificação suscitam alguma perplexidade (ou não, considerando a falta de rigor do Índice):
• Albânia tem o acesso melhor ex-aequo (187 pontos), maior que países com excelentes resultados em saúde como a Suécia (93) e MUITO MAIOR que outros que os cidadãos reconhecem como bons (RU com 80)?
• Que dizer da tendência geral ascendente da qualificação? Não significará que há “jogo de números”?
Resta reconhecer a importância que tem a satisfação dos doentes como medida de desempenho, tomada de modo cientificamente adequado e em complementaridade com outras medidas. Aproveito para desafiar o blogue a dar exemplos de como tudo iria melhor se fosse considerada no desempenho das Unidades.
Hermes
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6 Comments:
Infelizmente, com falta de mais tempo, friso apenas alguns momentos de perplexidade suscitados por este post do hermes:
“• O SU em Portugal tem procura muito maior que a doutros países, daí maior despesa e excesso de inapropriação (desperdício não avaliado pelo índice) mas também maior acesso e minorar o efeito de tempos de espera nos CSP e acesso a especialistas e MCD (3.1, 3.2, 3.5) – aspecto não considerado.”
Q: Então agora querem suavizar a gravidade de um dos problemas mais gritantes do nosso SNS (o indevido uso dos SU?)? O indice clarifica, precisamente, o longo caminho que os CSP ainda têm à sua frente em Portugal.
“• Especificidade portuguesa de ter vários subsistemas e elevada % privada no ambulatório e MCD gera menor peso das esperas e resultados do SNS, o que também não foi considerado.”
Q: ora, temos aqui o hermes a valorizar os subsistemas? Deve ter-se distraido, pois essa é uma área tabu para este governo e o próximo (a menos que na saúde se faça um acordozinho com o dr Portas).
“É duvidosa a adequação do indicador “variação da taxa de suicídios”. Naturalmente pode usar-se dentro de um país para monitorizar a evolução e medir o desempenho desse sistema, porém não serve como medida de desempenho comparativo de sistemas porque, será de esperar, têm taxas iniciais muito diversas e derivadas a factores diferentes nem todas ligados aos serviços de saúde.”
R: aqui estamos de acordo. Mas alerto para o contexto sobretudo nórdico da equipa deste think tank.
“Os valores obtidos da qualificação suscitam alguma perplexidade (ou não, considerando a falta de rigor do Índice): • Albânia tem o acesso melhor ex-aequo (187 pontos), maior que países com excelentes resultados em saúde como a Suécia (93) e MUITO MAIOR que outros que os cidadãos reconhecem como bons (RU com 80)?”
Q; os resultado da Albânia suscitam perplexidade se estivermos com preconceitos. De contrário, suscitam curiosidade. Aliás, conforme talvez o hermes saiba, os sistemas de saúde do leste da Europa, se os bloguers fizerem um esforço por os analisar, suscitam muitas curiosidades deste tipo. Sabe que a sua base (histórica) de cuidados na comunidade deixou muitas sementes positivas. Tivessem eles acesso a mais capital de investimento e mais curiosidades destas ocorreriam… sem preconceitos.
O Hermes trouxe-nos dois excelentes posts em que analisa a validade do EHCI 2009 na medição do desempenho, na óptica dos doentes, de sistemas de saúde.
Dividiu a sua análise em duas partes: na primeira aborda os problemas conceptuais e, na segunda os problemas metodológicos.
Como é habitual nos seus textos, o assunto foi examinado com muita perícia, só possível a quem domina bem a matéria e possui aguda capacidade de análise.
Comentando a primeira parte, o Luisinho começou por afirmar que o assunto “merece ser rebatido” e aguçou-me o apetite para o que poderia ser uma boa discussão sobre este tema.
Infelizmente a discussão foi encerrada, mesmo antes de começar, sob o pretexto de que o texto do Hermes partiu dum pressuposto errado.
Os manos do Luisinho não quiseram ficar atrás e, depois do Huguinho vir em defesa do mano, o Zézinho apareceu para comentar a segunda parte.
Infelizmente não tinha muito tempo para discutir o aspecto mais relevante – o erro crasso de transformar uma “qualificação” numa “classificação” – e escolheu outros aspectos menos importantes. Mas mesmo esses, a falta que o tempo faz, tratou-os à voil d’oiseau.
Agradeço-lhe no entanto ter-me chamado a atenção para as curiosidades Albanesas, um país que eu sabia ter uma taxa de literacia superior à Portuguesa.
Quanto à saúde, fiquei então a saber (OMS) que em 2006 a taxa de mortalidade infantil era de 15/1000, (cinco vezes superior á nossa), a mortalidade neonatal 9/1000( tripla da Portuguesa) , a mortalidade materna 92/100.000 ( em Portugal 11) e a esperança de vida á nascença 71 anos, menos 8 que em Portugal.
Parece pois (os preconceitos dão-se mal com a frieza dos números) que a “sua base (histórica) de cuidados na comunidade” não “deixou sementes muito positivas.”
1º Vejo que não contestou nem tentou por em causa os problemas metodológicos principais que identifiquei no ìndice. Ainda bem que está de acordo.
2º Quanto aos seus comentários:
A) Referência ao SU em Portugal. Não se trata de «suavizar» nada, apenas de reconhecer o erro do índice que não considera o muito maior acesso que a facilidade de acesso ao SU confere em Portugal, o que se tivesse sido feito teria benefciiado a classificação do nosso sistema. Pensei que o parágrafo era claro e quem lesse percebia à primeira, mas pelos vistos não.
B) Idem para subsistemas e maior % de prestação privada (paga ou não pelo público). Não estava distraído, repare:
i) Se queremos medir a acessibilidade do sistema Português em 2008 essa nossa especificidade deve ser incluída, como no anteror;
ii) Falou-se nos subsistemas mas também no ambulatório e MCD privados, que o Zézinho fpelos vistos nem leu...
C) Claro que um sistema NUNCA tem apenas o SNS mas também formas de seguro colectivo e uma parte totalmente privada que inclui seguros privados. Ninguém deve preocupar-se porque há consumistas na saúde, desde que os mesmos paguem os actos. O que já não parece aceitável é quererem tudo, mais e melhor do que é oferecido pela comunidade, e que sejam os contribuintes a pagar! Nos seguros colectivos não públicos em que os contribuintes não pagam (na ADSE pagam e muito...) põe-se questões de risco moral mas o problema é das seguradoras e dos aderentes que irão pagar prémios mais altos.
D) Finalmente quanto ao acesso na Albãnia. limito-me a recomendar-lhe uma visita e observação in loco «sem preconceitos» para que possa ver a «curiosidade» e por que não senti-la?
OBAMA para Ministro da Saúde!...
PKM para a Albânia!...
BAILE
Viram por aí o Pato Donald e os sobrinhos, os conhecidos Zezinho, Huguinho e Luisinho?
Devem ter regressdo à DisneyLÂNDIA.
É demais...é muito potencial de fogo.
A propósito de professores, quanto não vale este Hermes?
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