EHCI 2009
A comunicação social referiu-se ao "Euro Health Consumer Index 2009" (EHCI) link excessiva e desproporcionadamente, dado o seu pouco valor e nenhuma base científica. Bem estiveram os comentários do saudesa e o do MS: “Não se trata de avaliação objectiva … condicionada por perspectiva desfavorável aos sistemas baseados em serviços nacionais de saúde". Os problemas são muitos, indicaremos alguns.
1- Problemas conceptuais
O índice foi concebido para medir o desempenho na óptica dos doentes, no pressuposto que maior acesso e escolha individual na procura e competição na oferta conduzem a melhor resultado do sistema de saúde, pelo que os sistemas com SNS seriam inferiores. Não é bem assim:
a) Competição vs cooperação. A competição tem um papel limitado em saúde, dado que o consumidor não goza da soberania doutros sectores: não tem informação, não paga o preço e tem escolha limitada de produtos e fornecedores.
Ao invés a cooperação impõe-se internamente (especialidades, grupos profissionais) e externamente, com os restantes serviços de saúde e sociais.
b) Consumismo e escolha individual vs planeamento da rede e coordenação. Encorajar a escolha individual gera consumismo. O maior consumismo, em saúde, não é necessariamente melhor, por vezes é pior (ex. erros, radiações).
Será preferível racionar com base em sãs decisões clínicas que obter o mesmo efeito através de preços e co-pagamentos que afectam a equidade.
Por outro lado faz sentido investir mais em cuidados de proximidade evitando o uso inapropriado de cuidados especializados, daí a importância do acesso rápido a CSP mas não do “acesso directo a especialista”- incluir os dois aspectos demonstra desconhecimento da importância da coordenação de cuidados e das consequências nefastas da inapropriação para o sistema de saúde, em especial para os contribuintes e para outros utentes.
c) Satisfação do doente vs equidade, sustentabilidade e resultados em saúde. É possível, mas não desejável, ter satisfação de doentes através da multiplicação de actos, sem melhorar a eficiência e os resultados em saúde. O Índice coloca vários países com provada equidade, com excelentes resultados na saúde e na eficiência global em lugares menores – Finlândia, Noruega e Suécia (esta com máximo possível em resultados na saúde fica apenas em 9º) –, porque no Índice é o tempo de espera e os medicamentos que pesam.
Quanto à oferta o sistema de saúde compõe-se de prestadores públicos (SNS e saúde pública) e privados (lucrativos ou não). Avaliar o desempenho do sistema obriga a considerar todos os prestadores, não apenas o SNS. Em Portugal o tempo de espera deve considerar os que resultam do acesso ao sector privado em todos os serviços em que haja oferta, em especial naqueles em que a oferta pública é minoritária (ambulatório programado e MCD). Ora não existem valores credíveis para a espera, a utilização ou os resultados no sector privado.
Os objectivos essenciais do sistema de saúde são: a) Resultados (na saúde, qualidade, satisfação de doentes e população); b) Eficiência micro e macroeconómica; c) Equidade. Alguns dos objectivos são contraditórios, isto é obter melhor desempenho num implica pior resultado noutro. Por exemplo:
• Maior liberdade de escolha dos consumidores, gera menor desempenho na equidade e na eficiência macroeconómica, devido à multiplicação de actos sem eficácia, duplicados e dispendiosos (face a substitutos). Põe em causa a sustentabilidade do sistema e o acesso equitativo dos cidadãos. Nos EUA um estudo (NEIH, 2008) concluiu que 29,3% dos gastos do sistema, num total de 674 mil milhões de dólares, resultam de má utilização ou sobreutilização que coexiste com áreas com subutilização.
• A boa prática não se compadece com a multiplicação de actos e contactos da iniciativa do doente e impõe a gestão cuidada da doença pelo médico (agente), em especial nos doentes crónicos em que é vital a continuidade e coordenação de cuidados. Segundo um estudo de 2009 (NEJMpo907185) os doentes com cinco ou mais condições crónicas representam 76% das despesas do Medicare e um gasto per capita 17 vezes maior que os que não têm doença crónica.
O Índice não refere a continuidade, dimensão incluída na satisfação dos doentes (Linder-Pelez, 1982), e não valoriza o gasto global em saúde face aos resultados. Quanto à equidade inclui-a (mal) na “generosidade” do sistema e atribui-lhe importância menor – vale tanto como a taxa de cataratas e muito menos que o tempo médio até um novo medicamento ter subsídio público. Valoriza demais o tempo de espera e a escolha pelos doentes, fomentando o consumismo e a inapropriação que geram desperdício e perda de sustentabilidade do sistema. Como estes aspectos são limitados por co-pagamentos em sistemas Bismarckianos, há enviezamento do índice.
Os sistemas de saúde têm vários stakeholders: clientes, cidadãos e contribuintes, profissionais de saúde, Estado, fornecedores. Como a saúde não é normalmente paga no acto do consumo, e como os consumidores não sabem bem o que precisam, há interesses contraditórios: doentes que querem o máximo, com a maior qualidade, já e próximo da sua habitação; cidadãos e contribuintes que desejam que haja eficiência e apropriação para equidade, sustentabilidade e equilíbrio de objectivos da despesa do Estado. Assim a liberdade de escolha do doente (que não paga e ignora o que necessita) deve ceder ao interesse:
a) Doutros doentes, arbitrado por profissionais que decidem conforme a boa prática e as necessidades dos doentes.
b) Geral, decidido democraticamente e consubstanciado em regras de disponibilidade, acesso e utilização dos cuidados de saúde. Por exemplo o desejo de acesso imediato a um especialista choca com o doutros doentes mais necessitados e com as regras que visam evitar a inapropriação de cuidados (recurso a CSP para menor desperdício e melhores resultados globais).
c) Geral, de alocação racional de recursos visando a satisfação das necessidades de toda a população e o interesse público acima doutros interesses, por ex., da indústria farmacêutica e lobbies diversos.
O Índice confunde o interesse das farmacêuticas com o dos doentes e sobrevaloriza a opinião dos consumidores em saúde, que é importante mas deve ser tomada complementarmente a outros (superiores), atribuindo um peso desmesurado aos medicamentos (37,50) e ao tempo de espera (40,00), face ao impacto na saúde (35,1), e-saúde (12,50), direitos de doentes (19,44) e “generosidade” (21,43).
Não percebemos como a divulgação deste Índice pode reduzir a assimetria de informação dos doentes (pág. 25) – pretensão sem substância nem sentido.
Mesmo antes do arrolamento dos problemas metodológicos, que se irá seguir se o blogue mostrar interesse em os conhecer, pedia desde já as críticas e achegas a todo o blogue.
1- Problemas conceptuais
O índice foi concebido para medir o desempenho na óptica dos doentes, no pressuposto que maior acesso e escolha individual na procura e competição na oferta conduzem a melhor resultado do sistema de saúde, pelo que os sistemas com SNS seriam inferiores. Não é bem assim:
a) Competição vs cooperação. A competição tem um papel limitado em saúde, dado que o consumidor não goza da soberania doutros sectores: não tem informação, não paga o preço e tem escolha limitada de produtos e fornecedores.
Ao invés a cooperação impõe-se internamente (especialidades, grupos profissionais) e externamente, com os restantes serviços de saúde e sociais.
b) Consumismo e escolha individual vs planeamento da rede e coordenação. Encorajar a escolha individual gera consumismo. O maior consumismo, em saúde, não é necessariamente melhor, por vezes é pior (ex. erros, radiações).
Será preferível racionar com base em sãs decisões clínicas que obter o mesmo efeito através de preços e co-pagamentos que afectam a equidade.
Por outro lado faz sentido investir mais em cuidados de proximidade evitando o uso inapropriado de cuidados especializados, daí a importância do acesso rápido a CSP mas não do “acesso directo a especialista”- incluir os dois aspectos demonstra desconhecimento da importância da coordenação de cuidados e das consequências nefastas da inapropriação para o sistema de saúde, em especial para os contribuintes e para outros utentes.
c) Satisfação do doente vs equidade, sustentabilidade e resultados em saúde. É possível, mas não desejável, ter satisfação de doentes através da multiplicação de actos, sem melhorar a eficiência e os resultados em saúde. O Índice coloca vários países com provada equidade, com excelentes resultados na saúde e na eficiência global em lugares menores – Finlândia, Noruega e Suécia (esta com máximo possível em resultados na saúde fica apenas em 9º) –, porque no Índice é o tempo de espera e os medicamentos que pesam.
Quanto à oferta o sistema de saúde compõe-se de prestadores públicos (SNS e saúde pública) e privados (lucrativos ou não). Avaliar o desempenho do sistema obriga a considerar todos os prestadores, não apenas o SNS. Em Portugal o tempo de espera deve considerar os que resultam do acesso ao sector privado em todos os serviços em que haja oferta, em especial naqueles em que a oferta pública é minoritária (ambulatório programado e MCD). Ora não existem valores credíveis para a espera, a utilização ou os resultados no sector privado.
Os objectivos essenciais do sistema de saúde são: a) Resultados (na saúde, qualidade, satisfação de doentes e população); b) Eficiência micro e macroeconómica; c) Equidade. Alguns dos objectivos são contraditórios, isto é obter melhor desempenho num implica pior resultado noutro. Por exemplo:
• Maior liberdade de escolha dos consumidores, gera menor desempenho na equidade e na eficiência macroeconómica, devido à multiplicação de actos sem eficácia, duplicados e dispendiosos (face a substitutos). Põe em causa a sustentabilidade do sistema e o acesso equitativo dos cidadãos. Nos EUA um estudo (NEIH, 2008) concluiu que 29,3% dos gastos do sistema, num total de 674 mil milhões de dólares, resultam de má utilização ou sobreutilização que coexiste com áreas com subutilização.
• A boa prática não se compadece com a multiplicação de actos e contactos da iniciativa do doente e impõe a gestão cuidada da doença pelo médico (agente), em especial nos doentes crónicos em que é vital a continuidade e coordenação de cuidados. Segundo um estudo de 2009 (NEJMpo907185) os doentes com cinco ou mais condições crónicas representam 76% das despesas do Medicare e um gasto per capita 17 vezes maior que os que não têm doença crónica.
O Índice não refere a continuidade, dimensão incluída na satisfação dos doentes (Linder-Pelez, 1982), e não valoriza o gasto global em saúde face aos resultados. Quanto à equidade inclui-a (mal) na “generosidade” do sistema e atribui-lhe importância menor – vale tanto como a taxa de cataratas e muito menos que o tempo médio até um novo medicamento ter subsídio público. Valoriza demais o tempo de espera e a escolha pelos doentes, fomentando o consumismo e a inapropriação que geram desperdício e perda de sustentabilidade do sistema. Como estes aspectos são limitados por co-pagamentos em sistemas Bismarckianos, há enviezamento do índice.
Os sistemas de saúde têm vários stakeholders: clientes, cidadãos e contribuintes, profissionais de saúde, Estado, fornecedores. Como a saúde não é normalmente paga no acto do consumo, e como os consumidores não sabem bem o que precisam, há interesses contraditórios: doentes que querem o máximo, com a maior qualidade, já e próximo da sua habitação; cidadãos e contribuintes que desejam que haja eficiência e apropriação para equidade, sustentabilidade e equilíbrio de objectivos da despesa do Estado. Assim a liberdade de escolha do doente (que não paga e ignora o que necessita) deve ceder ao interesse:
a) Doutros doentes, arbitrado por profissionais que decidem conforme a boa prática e as necessidades dos doentes.
b) Geral, decidido democraticamente e consubstanciado em regras de disponibilidade, acesso e utilização dos cuidados de saúde. Por exemplo o desejo de acesso imediato a um especialista choca com o doutros doentes mais necessitados e com as regras que visam evitar a inapropriação de cuidados (recurso a CSP para menor desperdício e melhores resultados globais).
c) Geral, de alocação racional de recursos visando a satisfação das necessidades de toda a população e o interesse público acima doutros interesses, por ex., da indústria farmacêutica e lobbies diversos.
O Índice confunde o interesse das farmacêuticas com o dos doentes e sobrevaloriza a opinião dos consumidores em saúde, que é importante mas deve ser tomada complementarmente a outros (superiores), atribuindo um peso desmesurado aos medicamentos (37,50) e ao tempo de espera (40,00), face ao impacto na saúde (35,1), e-saúde (12,50), direitos de doentes (19,44) e “generosidade” (21,43).
Não percebemos como a divulgação deste Índice pode reduzir a assimetria de informação dos doentes (pág. 25) – pretensão sem substância nem sentido.
Mesmo antes do arrolamento dos problemas metodológicos, que se irá seguir se o blogue mostrar interesse em os conhecer, pedia desde já as críticas e achegas a todo o blogue.
Hermes
Etiquetas: Hermes
18 Comments:
Excelente.
Este post é a prova de que há muito mais vida para além do acanhado mundo em que navegam os liberais de pacotilha como o nosso PKM.
Este longo post do hermes merece ser rebatido porque enviesa o trabalho deste think tank.
Na Verdade, se hermes fosse um colaborador (anonimo) do OPSS, este post seria de uma profunda desonestidade intelectual. Mas não deve ser…
Vejamos dois pontos caricatos no post:
1) “dado o seu pouco valor e nenhuma base científica”????
Enfim, trata-se de um mero julgamento preconceituoso do hermes. A base é suficientemente cientifica para o aceitarmos como um bom contributo para o pensamento sobre sistemas de saúde. A menos que nos queira clarificar com o que quer dizer com “base cientifica” no contexto das ciencias da gestão?
Na verdade, maus e preconceituosos foram os comentários do saudesa e o do MS: “Não se trata de avaliação objectiva … condicionada por perspectiva desfavorável aos sistemas baseados em serviços nacionais de saúde". O pressuposto de ambos (que quase parecem a mesma pessoa) não é verdadeiro!
Vejamos,
“O índice foi concebido para medir o desempenho na óptica dos doentes, no pressuposto que maior acesso e escolha individual na procura e competição na oferta conduzem a melhor resultado do sistema de saúde…” … até aqui estamos de acordo!
Mas, no resto da frase “…pelo que os sistemas com SNS seriam inferiores”… estamos em TOTAL desacordo pois esse presusposto nunca esteve nem está na cabeços colaboradores do think tank.
Necessita o hermes de entrar em contacto com os autores para esclarecer? Terá que nos revelar a sua identidade para facilitarmos esse processo…
Assim, encerra aqui a discussão, pois todo o restante post parte de um pressuposto errado.
Agora, questionem estes factos se tiverem “argumentos” honestos:
“The target for maximum wait to see your primary care doctor (no more than 7 days) is underachieved only by Portugal, where the corresponding figure is < 15 days.” (p.9). Sim?
Por outro lado, nada que nos surpreenda nos dados seguintes:
“Outros parâmetros em que o sistema de saúde português obteve má classificação foram no acesso ao médico de família no próprio dia e nas cirurgias programadas que demoram mais de três meses.
O acesso a novos medicamentos para as doenças oncológicas recebeu também má nota." sim?
"Por outro lado, o sistema de saúde nacional recebeu nota média no que respeita à comparticipação do Estado no valor dos medicamentos.”. SIM?
Mas, amigos bloguers,
“...Nem tudo é mau, Portugal obteve boa classificação na redução da taxa de mortalidade infantil e no número de transplantes de rins por milhão de habitantes..."
Portugal surge bem classificado num outro indicador, pelo facto de quatro milhões de pessoas na região de Lisboa poderem marcar as consultas via Internet." SIM?
Mas, "...apesar dos indicadores pontuais com classificação razoável ou boa, o sistema de saúde português apresenta um «contínuo declínio»." SIM?
Quem nega estes factos? E reparem que não se verifica nenhuma referencia ao SNS (mas ao sistema de saúde).
Os 38 indicadores avaliados foram distribuídos em seis categorias - direitos dos pacientes e informação, e-Saúde, tempo de espera por tratamento, resultados do tratamento, variedade e alcance dos serviços prestados e acesso à medicação. SIM?
Agora, façam vocês um estudo diferente com outras categorias, como é normal numa sociedade livre!
Custa-vos enfrentar estas Verdades sobre o SISTEMA de saúde nacional?
Sempre que algum "escrito" questiona os vossos Dogmas, tratam logo de tentar descredibilizar, deturpar o que foi escrito e, como neste caso, fingir que se trata apenas de um ataque subversivo de "suecos maldosos" que querem destruir o SNS... acham que assim contribuem para o melhor desenvolvimento do SNS?
Na verdade, Joaopedro, os Escritos" a favor dos seus Dogmas (defendidos por outros colegas de blogue) encontram-se sempre em maioria esmagadora no blogue e em Portugal. Nem vejo porque se preocupam tanto. talvez peso na consciencia de que afinal, nem tudo são rosas no nosso SNS, certo?
A vossa cisma com PKM representa bem esse trauma... Parecem o Bush a manipular a opinião publica mundial quando andava pela Casa Branca (... buu, buu... o fantasma e ininmigo invisivel...)
Mas o Prof. imigrou, certo?
Este luisinho começa por dizer que o homem merece ser rebatido mas depois não se atreve a apresentar um argumento ou desenvolver uma ideia.
Pobreza compensada com verborreia e um chorrilho de nomes feios, é a noção que tem do que é um debate. Ok, como diz o povo «quem dá o que tem a mais não é obrigado»...
Todos apreciámos muito a sua convicção, não preconceituosa.
Ou os dotes de advinhação..."nunca esteve na cabeça dos colaboradores do think thank"...
O chico espertismo de tentar virar o bico ao prego: não consigo contrariar ou "rebater" mas "questinem lá estes factos se tiverem argumentos honestos". O que está em causa é analisar o valor do consumer índex, nada mais.
O luisinho, e mais o huguinho e o zezinho, não tem por aí uma ideiazinha mesmo pequenina?
Alarme
«Bastonário [da Ordem dos Médico] diz que há "excesso de alarme" na resposta à gripe A». link
Por uma vez concordo com ele. Mas a comunicação social, mesmo a que tem responsabilidades, não vive sem "sangue". A Ordem dos Médicos, aliás, também tem tirado partido disso, quando lhe convém...
vital moreira, causa nossa
Não está em causa o trabalho dos autores do EHCI. O que importa analisar são os pressupostos e objectivos que Index persegue.
Ora este trabalho do EHCI visa "medir o desempenho na óptica dos doentes no pressuposto que maior acesso e escolha individual na procura e competição na oferta conduzem a melhor resultado do sistema de saúde".
Como é bem de ver o nosso Sistema de Saúde tem outras prioridades e fundamentos pelo que a avaliação do INDEX é naturalmente inadequada e injusta.
Triste é haver gente que não consegue perceber isto e se sente feliz pela baixa classificação atribuída a Portugal pelo Index.
Dava jeito.
Parabéns ao Hermes pela excelente análise, extremamente esclarecedora relativamente ao que está em jogo. A desmontar de forma perfeita e limpa os argumentos dos habituais arautos da desgraça que pretendem fazer do Index uma arma de arremesso.
Uma vez que chamaram por mim…
O post do hermes é agressivo para com os autores do trabalho. Tenta descredibilizar de uma forma enviesada pois a “ciência” aplicada aqui é exactamente a mesma que, por exemplo, a OMS ou a OCDE aplica nas comparações entre sistemas de saúde.
O Luisinho defendeu, e bem, o equilibrio “cientifico” q.b. deste tipo de trabalhos para questionar as ideias redutoras apresentadas por hermes.
O que surpreende no post de hermes, e outros que lhe seguiram a “pista”, é a tentativa de desconsiderar, desvalorizar e apresentar como desnecessária uma análise dos sistemas de saúde baseados na medição do desempenho na óptica dos cidadãos (sim, porque nem todos doentes…).
Então… “Como é bem de ver o nosso Sistema de Saúde tem outras prioridades e fundamentos” ??? Dr. Feelgood, o senhor sente-se bem a afirmar isto?
Então, o cidadão não devia estar no centro do sistema? Como se propõe promover esse principio sem começar por este tipo de análise?... Deve estar a brincar a com malta… ou somente a defender o amigo hermes.
Byrodiskuo… sim,que tal virar o disco para as prioridades do cidadão?...
E deixem-se de insultos ao meu amigo Luisinho, sim?
Se o index tivesse colocado Portugal nos 5 primeiros?... teria sido bem melhor... Sim?
Bora lá trabalhar para isso?
Negociação do ACT distante das EPE
O anúncio da formalização do acordo colectivo de trabalho (ACT) a aplicar, nas entidades públicas empresariais (EPE) inseridas no Serviço Nacional de Saúde, aos médicos a elas vinculados foi feito pelo Governo a 24 de Setembro. Mas os responsáveis pelas EPE parecem não estar familiarizados com o documento.
«Tempo Medicina» tentou obter reacções por parte de diversas administrações de EPE que constam da lista de outorgantes do ACT divulgada pelos sindicatos médicos e, em duas semanas de tentativas, as respostas que chegaram apenas davam conta da dificuldade em responder, no prazo estabelecido, às questões colocadas. A justificação apresentada pela maioria das administrações para a impossibilidade de haver comentários ao acordo assinado foi o facto de não conhecerem ainda o documento em pormenor.
Mesmo o representante das instituições com estatuto EPE nas negociações do ACT, o director clínico do Hospital de S. Teotónio e ex-dirigente da Federação Nacional dos Médicos, Cílio Pereira Correia, foi vago nas respostas às perguntas colocadas pelo nosso Jornal sobre como foi feito o processo negocial. Afirmou que, na sua opinião, o ACT é um «documento basilar» que vem «garantir a progressão» na carreira dos médicos com contrato individual de trabalho. Mas questionado sobre se essa é também a visão geral dos responsáveis pelas EPE que aderiram ao acordo, Cílio Pereira Correia não se comprometeu e afirmou: «Não estou na cabeça das pessoas.»
O próprio processo de nomeação dos representantes das EPE parece ter contribuído para que as negociações não tenham ainda sido bem interiorizadas por essas entidades. Conforme explicou Cílio Pereira Correia, foi nomeado um «conjunto de representantes» das EPE pelas administrações regionais de Saúde e, posteriormente, foi determinado que seria ele a representar todas as entidades nas negociações.
Também os responsáveis pelas instituições que não aderiram ao ACT não se mostraram disponíveis, até ao fecho da edição, para explicar as razões que levaram à decisão de não aderir. Todavia, o presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Torcato Santos, esclareceu que esta instituição outorgou o ACT, embora não conste da lista de entidades aderentes divulgada pelos sindicatos.
tempo de medicina 12.10.09
Abaixo a discussão pimba
Este luisinho/huguinho é um básico que não consegue discernir para além dos anúncios do CM e que apenas pretende divertir-se à nossa custa.
Caro Xavier é tempo de nos proteger deste SPAM inspirado no grande guru sueco, a fazer escola, sob pena de nos transformarmos num sitio dos debates pimba.
Como toda a gente sabe, quando se trata de comparar sistemas de saúde, o importante é ter em atenção que todos eles diferem quer na maneira como são organizados os cuidados quer no modo como os prestadores são pagos, bem como no peso relativo dos sectores público e privado e na forma como o sistema é financiado.
Esta questão do "cidadão no centro do sistema" não passa de mais uma balela de liberalismo requentado.
O que me espanta, efectivamente, mais uma vez, é a impreparação generalizada dos nossos jornalistas, incapazes de abordar certos temas ou de uma apreciação mais fina, mais elaborada, alinhando todos pelo mesmo diapasão. Verdadeiros "Maria vai com a outras."
Caro Luisinho e Huguinho
Um debate é feito da combinação de ler (ouvir), compreender , contestar e advogar ideias e alternativas. Discussões de Benfica-Sporting, bons-maus, preconceituosos-escorreitos não interessam, porque nada adiantam nem permitem aprender, são pura perda de tempo. O Prof. PKM sabe-o bem pois é um Prof e por isso é pena que não esteja nesta discussão.
Em primeiro devem os meus caros compamheiros de debate, que o é pouco infelizmente, começar por ler o que escrevei e depois, garantir sustentação ao que afirmam.
O Luisinho, tudo o indica, terá ficado pelo 1º parágrafo do meu post e por leitura rápida dos restantes argumentos, de que não gostou, por isso não tentou perceber e muito menos rebater.
O Huguinho devia ler (melhor) os esquemas de avaliação de desempenho de sistemas de saúde da OMS, OCDE, doutras instituções:
a) Todos foram concebidos para medir o desempenho GLOBAL, isto é, relativo aos objectivos principais que são os que arrolei no post inicial (tempo de resposta e a aceitabilidade pelos consumiodres englobados como resultados na eficácia). Não apenas concebido essencialmente para a responsiveness, como este, mas também para os restantes objectivos e com a ponderação adequada- este foi "acrescentado" de indicadores ao longo dos anos como quem remenda sucessivamente uns calções rotos na esperança de os transformar num fato completo.
b) A óptica dos consumidores (doentes) é importante mas também o é a dos cidadãos e dos restantes stakeholders - veja o Huguinho a referência no post inicial e evite as confusões. Porque os restantes objectivos devem ter ponderação muito superior ? (veja a avaliação da OMS e da OCDE) Porque a finalidade essnecial do sistema é produzir saúde, distribuindo cuidados de modo equitativo pela população e fazê-lo de forma sustentável. Se o Huguinho ainda não descobriu que há «outras prioridades e fundamentos» para um sistema de saúde (como diz o Dr.Feelgood) leia, agora, a avaliação do desempenho da OMS e OCDE.
c) Importa o desempnho na óptica dos consumiodres, o sistema deve colocar o doentes e a população no centro das suas preocupações, mas deve o Huguinho perceber que vale menos que os restantes também porque: 1º São, na maioria, resultados qualitativos e sujeitos a erro de apreciação - o que é pacífico e abundantemente relatado na literatura; 2º A satisfação dos doenets obtém-se também relativamente a actos ineficazes, duplicados e desnecessários; 3º A satisfação com o acesso imediato esconde o aumento de tempo de acesso para outros doenets (ex. sucessivas consultas subsequentes que aumentam o tempo de espera por uma primeira); etc, etc...
d) Ninguém quer atacar os autores do índice, apenas mostrar que o dito carece de valor precisamente porque porque foi mal concebido, está enviezado e tem metodologia errada - como se mostra no texto que enviei com o primeiro ao Grand Patron do blogue e nosso comum amigo.
Agradeço os vossos comentários e aproveito para secundar algumas das apreciações do Byrodiksuo - vejam lá uns argumentos e tragam também o Zézinho!
Para quem dúvida do efeito maléfico do consumismo em saúde e das consequências nefastas que pode ter a indução de determinados actos sem que estejam montados mecanismos de controlo adequados, aqui deixo a notícia.
Portugal opera mais que outros
Excesso de cirurgias às cataratas custa 2,4 milhões de euros
IVETE CARNEIRO *
Portugal está a fazer mais 25% de cirurgias às cataratas do que países europeus com características semelhantes. O excesso é apontado pela Sociedade Portuguesa de Oftalmologia e representa um custo de 2,4 milhões de euros.
António Travassos, presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), garantiu ontem, a propósito do Dia Mundial da Visão que hoje se assinala, que muitas operações podem não ser necessárias. Há vários graus de cataratas e uma afecção incipiente pode não ser prejudicial para certas actividades profissionais.
A prova do excesso, para o oftalmologista, está nos números de outros países europeus, com características semelhantes às de Portugal. Enquanto o Programa de Intervenção em Oftalmologia - que visou atacar as listas de espera - permitiu operar "perto de 120 mil doentes", um país como a Bélgica, com uma população sensivelmente igual, contabilizou, no mesmo espaço de tempo, "menos de 80 mil intervenções". O mesmo se passa com a Áustria e a Holanda, garante António Travassos.
A cerca de 800 euros por operação às cataratas, o excesso calculado pela SPO representa um acréscimo de custos de 2,4 milhões de euros. Mas o alerta do presidente da SPO não visa a contenção de gastos. "Tudo o que o Estado gasta a tratar pessoas é bem gasto" e a "filosofia" do Ministério da Saúde (MS) "tem sido excelente". Até porque a decisão é dos médicos.
Aliás, esta é justamente a reacção do MS quando confrontado com as críticas. Fonte do gabinete da ministra da Saúde admite um aumento da actividade cirúrgica: mais de 81 mil intervenções em 2008 e de 47 mil no primeiro semestre de 2009. Mas atribui-a à recuperação das listas de espera, em que muitos portugueses de "algumas regiões" estavam "há algum tempo". Mas garante não haver "indicações" de um excesso de referenciação para a cirurgia, "até porque a indicação cirúrgica é sempre colocada por um médico".
No entender de António Travassos, uma catarata em fase inicial tem indicação cirúrgica para profissionais com necessidade de grande acuidade visual, como os pilotos de aviação ou os cirurgiões, mas já não terá para um professor ou para um trabalhador rural, por exemplo. "É de bom senso" operar "com indicação cirúrgica em função das necessidades", até porque pode haver patologias associadas que, se não forem detectadas ao mesmo tempo, acabam prejudicadas pela cirurgia, como os edemas oculares.
PS
Mas garante não haver "indicações" de um excesso de referenciação para a cirurgia, "até porque a indicação cirúrgica é sempre colocada por um médico".
Esquece-se é de dizer que quem coloca a indicação é quem pratica habitualmente a intervenção.
Este segundo post do hermes é mais equilibrado.
Neste debate, excluindo os habituais comentários rasteirinhos da Joapedro, temos indicios de um certo distanciamento, por parte dos bloggers, no que diz respeito ás metodologias utilizadas e, sobretudo, um evidente distanciamento em relação ao conceito de cidadão no centro do sistema de saúde conform desenevolvido por Maria de Belém, Constantiono Sakellarides e recentemente defendido por Manuel Alegre. Será que para estes o conceito é apenas uma balela?
Vejamos outros pressupostos questionáveis do hermes:
“É possível, mas não desejável, ter satisfação de doentes através da multiplicação de actos, sem melhorar a eficiência e os resultados em saúde.”
Sim? Mas este fenómeno verifica-se no nosso SNS. Ou nega essa evidência (discretamente escondida nos EPE?)
“O Índice coloca vários países com provada equidade, com excelentes resultados na saúde e na eficiência global em lugares menores – Finlândia, Noruega e Suécia (esta com máximo possível em resultados na saúde fica apenas em 9º) –, porque no Índice é o tempo de espera e os medicamentos que pesam.”
Sim? O 9º é bem melhor que o nosso. E o indice é aceite como um contributo positivo na melhoria do sistema de saúde sueco (em complemento com outros indices).
“Quanto à oferta o sistema de saúde compõe-se de prestadores públicos (SNS e saúde pública) e privados (lucrativos ou não). Avaliar o desempenho do sistema obriga a considerar todos os prestadores, não apenas o SNS. Em Portugal o tempo de espera deve considerar os que resultam do acesso ao sector privado em todos os serviços em que haja oferta, em especial naqueles em que a oferta pública é minoritária (ambulatório programado e MCD). Ora não existem valores credíveis para a espera, a utilização ou os resultados no sector privado.”
Sim? Deixo um desafio: porque não experimentam perguntar ao sector privado em Portugal sobre estes tempos? E depois compará-los, de facto, com o SNS… depois publiquem para que alguns factos passem a ser do conhecimento público.
“Os objectivos essenciais do sistema de saúde são: a) Resultados (na saúde, qualidade, satisfação de doentes e população); b) Eficiência micro e macroeconómica; c) Equidade.”
Sim? Pois, o Indice considera dimensões cruciais de a)
"Alguns dos objectivos são contraditórios, isto é obter melhor desempenho num implica pior resultado noutro. Por exemplo:
• Maior liberdade de escolha dos consumidores, gera menor desempenho na equidade e na eficiência macroeconómica, devido à multiplicação de actos sem eficácia, duplicados e dispendiosos (face a substitutos).”
Sim? será por isso que o nosso SNS, sem liberdade de escolha, apresenta os piores indices de eficiência da União Europeia? E preocupantes multiplicações de actos sem eficácia, duplicados e dispendiosos (face a substitutos). Quer negar estes factos?
“…Põe em causa a sustentabilidade do sistema e o acesso equitativo dos cidadãos. Nos EUA um estudo (NEIH, 2008) concluiu que 29,3% dos gastos do sistema, num total de 674 mil milhões de dólares, resultam de má utilização ou sobreutilização que coexiste com áreas com subutilização.”
Sim? Ninguém efectivo conhecedor dos sistemas de saúde advoga os EUA como exemplo! Olhemos antes para França e Holanda ou até o Reino Unido. Volto a constatar que os problemas de sustentabilidade que o nosso SNS enfrenta(rá) e as graves inequidades verificadas convivem com uma realidade sem liberdade de escolha.
PS: agora, talvez o Pato Donald esteja disponível para comentar algum desenvolvimento mais terra-a-terra neste debate. Mas somente assumindo a perspectiva do cidadão. Isto, caso algum dos cidadãos, neste blogue representados como passivos e ignorantes, coloque aqui algum post (uma vez que até agora são sobretudo profissionais e gestores do SNS a postar defendendo o seu melhor interesse de classe profissional e institucional).
Vejam o nível deste comentário:
PS: agora, talvez o Pato Donald esteja disponível para comentar algum desenvolvimento mais terra-a-terra neste debate. Mas somente assumindo a perspectiva do cidadão. Isto, caso algum dos cidadãos, neste blogue representados como passivos e ignorantes, coloque aqui algum post (uma vez que até agora são sobretudo profissionais e gestores do SNS a postar defendendo o seu melhor interesse de classe profissional e institucional).
Só uma mente doente é capaz duma coisa destas.
É por isso que eu defendo uma solução radical para este SPAM.
DELETEMO-LO
Caro Zezinho
Lamento constatar que o seu post evidencia problemas semelhantes aos do Luisinho.
1º Tentação para descontextualizar uma ideia para depois a atacar ...
Separei no post inicial os consumidores (doentes) dos cidadãos (que constituem a população e ora são votantes ora contribuintes ora consumidores) para mostra que quando há consumismo e uso inapropriado se verifica contradição de interesses entre os consumidores e os cidadãos - quando o uso é adequado já não ha esse problema. Tirou do contexto fez que não percebeu (será que não percebeu mesmo??) e chamou em seu socorro personalidades ilustres... Não havia necessidade!
2º Virar o bico ao prego e atirar depois areia para os olhos...
a) Ter satisfação da maneira errada (com multiplicação d e actos e etc.) . Não se tratat de saber se existe ou não no nosso SNS, mas de frisar que isso desvaloriza a importância da satisfação relativamente aos restantes objectivos do sistema de saúde. Mas parece-me que não haverá dúvidas a que nos sistemas «Bismarckianos» essa situação será muito mais frequente que nos que se baseiam num SNS.
b) Seu comentário ao facto do índice não considerar a parte privada, que no nosso sistema é muito maior que nos restantes países com SNS não é contestação ou pedir esclarecimento. Já que «eles» não calcularam «porque não experimentam perguntar». Quem quer avaliar os sistemas é que tem que fazer o trabalho bem feito, não os utilizadores do índice.
3º Afirmações bombásticas sem sustentação ou prova....
a) SNS «apresenta os piores índices de eficiência da UE...»-. Não nego que há campo para reduzir ineficiências do SNS como dos restantes prestadores privados (que têm dos preços mais altos da UE, como reconheceu a OCDE), os quais constituem em conjunto o nosso sistema de saúde, mas daí a classificar o SNS, e apenas ele, daquela maneira cheira a preconceito...
b) Idem no parágrafo seguinte: «SNS sem liberdade de escolha». Não há liberdade de escolha? Veja a facilidade com que se acede ao SU sem haver qualquer urgência, a permissividade para ter uma 2º, 3ª ou 4ª consulta subsequente a pedido, ou fazer um TAC ou RMN ou a facilidade de recurso a entidades convencionadas para CE, MCD e operações em lista de espera. Mas LEMBRE-SE é o SISTEMA de saúde que se quer avaliar e aí temos todos os subsistemas, seguros privados e recursos pelo próprio a privados.
4º Pôr as palavras na boca de quem as não proferiu e chamar nomes ...
Não lhe fica bem apodar de passivos e ignorantes os cidadãos. As referências no post inicial são para o desconhecimento do doente, pacífico na literatura, sobre o que necessita naquilo que é verdadeiramente importante e decisivo pelos custos e impacto na saúde - por exemplo que operação? Com ou sem internamento?
Não batam mais no ceguinho...
Enviar um comentário
<< Home