Sustentabilidade do SNS (2)
Financiamento da Saúde
O financiamento da Saúde faz-se desde sempre por recurso ao
Orçamento do Estado: o Governo discute e decide a fatia desse bolo global que será
atribuída à Saúde.
Uma vez que a Constituição estipula que cabe ao Estado a
criação e gestão do SNS, criou-se a convicção generalizada que tem que ser o
orçamento geral da Nação a suportar os custos.
Daí resultam incapacidades e ineficácias de gestão
tremendas, como referi em post anterior: orçamentos baseados no histórico,
variações inesperadas do total atribuído no ano, impossibilidade de previsões e
programas plurianuais, impossibilidade de definição com rigor do custo dos atos
produzidos, impossibilidade de dar a cada doente uma factura personalizada ( não cobrável) dos custos
causados por cada tratamento.
Muitas vezes já o Tribunal de Contas, auditando as contas se
referiu a estas irracionalidades , sem qualquer resultado, embora com melhorias
significativas que a longa experiência vai permitindo.
Acresce ainda que esta forma de orçamentação faz com que o
cidadão não faça ideia de qual é a sua contribuição para a saúde.
Apenas sabemos que uma enorme fatia ( de 7 a 10 mil milhões
de euros, nos últimos anos) sai do orçamento, mas cada um de nós desconhece
quanto efetivamemnte contribuiu para as despesas do sector.
Talvez por isso, muito frequente é ouvirmos pessoas
afirmando os seus direitos porque pagam os seus impostos para a Segurança
social.
Uma grande percentagem da população não sabe que a Segurança
Social nada tem a ver com o financiamento da Saúde( e ,já agora, que não há
Caixas há quarenta anos!).
Defendo , sem sucesso até agora, que a forma mais justa,
mais equitativa, que nos colocaria a todos iguais no ato da prestação de serviços e bem conhecedores
de quanto pagamos, seria a criação de orçamento próprio para a Saúde, à
semelhança do que sucede para a Segurança Social e em tantos países da U.E.
Tal como a Segurança Social que dispõe de orçamento próprio
constituído pelas contribuições dos trabalhadores e patronato, também a Saúde
teria o seu próprio financiamento feito por impostos consignados a esse fim.
Os vários milhares de milhões de euros seriam diminuídos dos
nossos impostos gerais “aliviando” o orçamento geral e passaríamos a pagar, de
acordo com a nossa capacidade económico, um imposto consignado à Saúde.
Então, dado que cada um pagaria de acordo com a sua
capacidade económica, estaríamos todos em igualdade de direitos no ato da
prestação de cuidados, saberíamos com rigor a nossa contribuição e o sector
teria uma visão clara da sua situação financeira.
Não sou a favor de um copagamento diferenciado pela riqueza
de cada um na altura da utilização dos serviços, pela complicação burocrática
que isso provocaria e pela denúncia da riqueza ou pobreza do cidadão que
procura o serviço, introduzindo nefastas desigualdades no atendimento
Semelhante à “Assurance Maladie” francesa, este sistema,
estudado e configurado em rede com as
regiões de saúde, pelos especialistas nestas matérias, traria um enorme ganho à racionalização e escrutínio
das despesas.
Atrevo-me mesmo a afirmar que um imposto consignado à saúde,
do mesmo valor que o actualmente vindo do orçamento geral, seria suficiente nos primeiros anos.
Será que o Dr. Paulo Macedo concorda?
Paulo Mendo
Boa noite,
Acabo de ler a posição do Dr Ferreira do Amaral sobre o financiamento da Saúde.no post que publicou do Saudesa de hoje.
Há anos que venho dizendo e repetindo esta mesma proposta, sem que ninguém dela tome conta: nenhum economista, nenhum grupo estudioso se interessou pelo assunto e continua a ser opinião generalizada que o financiamento tem que vir do Orçamento de Estado porque a Constituição ( que se está a tornar um velho espartilho do Restelo) assim o exige..
Ora eu julgo que, não só, não exige, como nem é preciso tocar-lhe.
Na tentativa de mudar o sistema, apresentei publicamente, como Ministro da Saúde, em 1995, um estudo, elaborado pela equipa do Prof. Diogo Lucena, como texto base para discussão pública, que deve andar perdido ou escondido em alguma gaveta do Ministério e dos múltiplos órgãos de comunicação social a quem foi profusamente distribuído.
Foi por isso, com grande surpresa e alegria esperançosa que vi a posição coincidente com a minha do Prof. Ferreira do Amaral.
Ainda há um mês, em 10 de Novembro, publiquei no Blog “Portugal Contemporâneo” um “post”, sobre o tema. Aqui o transcrevo (acima).
Etiquetas: Sustentabilidade SNS
3 Comments:
Parece-me haver uma diferença fundamental entre Ferreira do Amaral e Paulo Mendo quanto à forma de “alimentar” um orçamento próprio para o SNS.: Através da consignação de uma parte do IRS ao SNS (Ferreira do Amaral), criando um imposto adicional (Paulo Mendo).
Ora esta diferença faz toda a diferença entre as duas propostas. Sendo favorável à ideia comum, a vantagem de um orçamento próprio para o SNS, discordo em absoluto que se sobrecarregue com mais um imposto um País esgotado do ponto de vista tributário. Sendo o financiamento conseguido através de IRS, o princípio da proporcionalidade estaria assegurado e o peso fiscal para os cidadãos seria nulo.
Quanto à Constituição estar a tornar-se um velho espartilho do Restelo ……… estaremos, respeitosamente, em total desacordo.
Tavisto,
Com certeza expliquei-me mal.
O que proponho ė que o O E deixe de incluir o O. da Saude e ,portanto, os impostos gerais diminuam desse valor (9Mm €) e a saude passe a ter O proprio de acordo com a capacidade economica de cada um.
Quanto à Constituição, foi feita em enquadramento que está desajustado da realidade nova que ė a U. E. e as novas relações de soberania que isso impõe.
Abç
Grato pela explicação.
Abraço e Boas Festas.
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