MORTES POR CALOR - Ministro voa nas asas de Ícaro.
Ministro defende-se do calor.
O Ministro da Saúde anunciou a 04 de Maio, a criação de um plano de contingência para fazer face às vagas de calor, o qual deverá estar operacional a partir de 15 de Maio, havendo necessidade de mobilização dos hospitais e centros de saúde.
Público 05.05.04.
Comentário:
1. - O Verão de 2003 foi marcado pela morte de um elevado número de cidadãos portugueses devido à vaga de calor.
O ministro da saúde contestou na altura, de forma atabalhoada, as estatísticas que apontavam para a ocorrência de cerca de duas mil mortes.
2. - A morte por calor afecta, essencialmente, a população idosa, devido ao mau funcionamento dos mecanismos biológicos que mantêm o corpo humano a uma temperatura constante (37 graus), independentemente das variações de temperatura verificadas no meio ambiente.
O ONSA - Observatório Nacional de Saúde -, é a entidade que, em Portugal, tem a responsabilidade de desenvolver a investigação, vigilância e monitorização dos efeitos climáticos na saúde e na mortalidade (projecto Ícaro).
O sistema Ícaro, activado de 15 de Maio a 30 de Setembro, todos os anos desde 1999, ano da sua criação, prevê quatro níveis de alerta das ondas de calor, accionados com base na informação sobre o cálculo do impacto das temperaturas máximas previstas sobre a mortalidade que é efectuado através de um modelo estatístico, índice de Ícaro, obtido a partir da seguinte fórmula:
(Número de óbito previstos / Número de óbitos esperados ) - 1
O relatório índice de Ícaro é comunicado, diariamente, pelo ONSA, à Direcção Geral de Saúde que, nas situações previstas, faz accionar o SARA (Sistema de alerta e resposta adequada) e o Serviço Nacional de Protecção Civil.
Mais informação sobre o sistema de prevenção Ícaro, consultar: http://www.onsa.pt/
3. - Um estudo recente, publicado no "Diário de Notícias", baseado nos dados estatísticos do INE, refere que o número de óbitos verificados em Agosto de 2003, devido ao calor, foi de 2 007.
Para chegar a esta conclusão, o referido estudo compara o número de mortes verificadas em agosto de 2003 - 9 982 - com a média do mês homólogo entre 1996 e 2002 (7 995 mortes).
4. - Os números oficiais sobre o número de mortes causados pela vaga de calor de 2003, tem evoluído da seguinte forma:
a) - O ministro da saúde refere no parlamento, em 03 de Setembro, que o número de mortes devido à vaga de calor de Agosto, era de quatro.
b) - Em Outubro de 2003 a Direcção Geral de Saúde eleva este número para quinze.
c) - Em Janeiro de 2004, o número oficial aumenta para 1 316 mortes, sendo este número considerado positivo, em relação à capacidade de resposta do SNS, comparado com o ocorrido em 1981, quando, numa sucessão menor de dias quentes, morreram 1 900 pessoas.
d) - Em 04 de Maio de 2004, no anúncio do programa de contingência, o ministro admite que o número de mortes verificadas em Agosto de 2003, devido à vaga de calor, foi de 1 953.
5. - Concluindo:
Dispondo de informação fiável e de meios de acção adequados , não se compreende como é que, o ministro da saúde, não fez accionar, em tempo oportuno, as medidas necessárias que poderiam ter evitado o elevado número de mortes ocorridas em Agosto de 2003.
Temendo o pior, vem agora, o ministro da saúde, anunciar à pressa, em princípios de Maio, o seu plano de contingência para prevenir os efeitos das ondas de calor do verão de 2004.
Este plano, para ser eficaz, requer a implementação de medidas especiais de planeamento, mobilização dos hospitais e centros de saúde e de pesados investimentos em instalações e equipamentos.
Mas a execução de obras e instalação dos equipamentos necessários é para efectuar, esclarece o ministro, em vários anos.
Pelo menos, quando o calor começar a apertar e se fizerem sentir os efeitos das vagas de calor, não o podemos acusar de não feito tudo para manter as aparências e o seu gabinete de relações públicas não se cansará de emitir comunicados, tentando convencer os cidadãos de que o senhor ministro está empenhado, desde a primeira hora, na resolução deste grave problema de saúde pública.
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