sábado, abril 24

PUREZA

A poucos minutos do dia 25 de Abril, um poema do grande Craveirinha.


Nós
Jamais ficamos lívidos.
E nascemos tão simples,
que o rubor em nossos rostos
não tem sentido
não é possível
nem existe.

É uma fonte de aves o nosso canto
e o grito de capataz
não é sonho inventado
mas existe na manhâ cósmica dos cargueiros atracados
e guindastes de duzentas e cinquenta toneladas.

Lívidos
nascem os outros
e o rubor em nossos rostos
não tem sentido nem existe.
Mas o permanente sentido de angústia
nossos corações de negros
faz cada vez mais puros

José Craveirinha
In “A voz de Moçambique” 31.03.1962

Etiquetas: