domingo, dezembro 26

Nua


Nua, és tão simples como uma das tuas mãos,
lisa, terrestre, minúscula, redonda, transparente,
tens linhas de lua, caminhos de macâ,
nua, és delgada como o trigo nu.

Nua, és azul como a noite em Cuba,
tens trepadeiras e estrelas no cabelo,
nua, és enorme e amarela
como o verão numa igreja de ouro.

Nua, és pequena como uma das tuas unhas,
curva, subtil, rosada até que o dia nasce
e entras no subterrâneo do mundo

Como num longo túnel de roupas e trabalhos:
a tua claridade apaga-se, veste-se, desfolha-se
e volta a ser outra vez uma mão nua.
XXVII soneto - Pablo Neruda.