quarta-feira, fevereiro 2

Papel do Estado

"O aspecto mais preocupante que a actual (pre)campanha eleitoral revela é a absoluta descrença que se instalou entre os comentadores e, provavelmente, no eleitorado. Esse cepticismo não resulta, porém, de não se acreditar na capacidade de intervenção do Estado, mas apenas do que respeita à qualidade dos políticos. Sendo certo que esta não é de molde a deixar-nos tranquilos, importa não lhes exigir o impossível, mas, pelo contrário, definir bem aquilo que têm obrigação de conseguir.
Em Portugal ainda prevalece a ideia de que podem esperar-se da intervenção do Estado medidas e resultados directos, mas não se concebe um outro tipo de actuação destinada a afectar, não os resultados, mas os incentivos e os constrangimentos que levem os agentes económicos a actuar de forma a que eles sejam atingidos. Ora são precisamente estes que temos de exigir aos políticos, sabendo que eles podem influenciar muito fortemente objectivos em que o Estado não tem qualquer intervenção directa.
Exemplos de críticas mal dirigidas são as que censuram o PSD por querer aumentar o peso das exportações (um objectivo aliás retirado da versão revista do seu programa eleitoral) ou o PS por ter como meta a criação de 150 mil postos de trabalho. Tais críticas não foram dirigidas aos incentivos que esses partidos se propõem criar para que tais objectivos sejam atingidos.
Dirigiram-se, sim, ao facto de o governo não ter nada a ver com as exportações e de terem de ser as empresas a criar emprego. Parecemos, portanto, reduzidos a uma dicotomia entre um Estado que já não existe – o que actua por intervenção directa na economia – e um modelo hiper-liberal em que o Estado não tem qualquer papel, o qual nunca existiu em parte alguma do mundo.
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Teodora Cardoso - Ordem dos Economistas