terça-feira, setembro 20

Para que serve o Vivóporto ?

Hosptal de Santo António, cidade do Porto.

Vivóporto nasceu no dia em que começou a ser público que a quase totalidade dos CAs dos HH SA iam ser reconduzidos pelo Governo PS. Não podia acreditar! Então andei eu a arregimentar votos para a maioria absoluta do PS, convencido e convencendo que com o Governo PS haveria moralização da gestão dos hospitais, iria ser implementado um novo modelo de gestão em que os AH iriam retomar o lugar que lhes é devido, que iriam cessar as mordomias dos gestores SA, que iriam acabar as nomeações a esmo de agentes políticos, que iria cessar a perseguição a quadros, chefias e funcionários hospitalares, que os hospitais iriam ser sintonizados com a nova política do Governo, que os funcionários públicos veriam o fim ao túnel do enxovalho a que estavam sujeitos, que os comissários políticos do PSD iriam retomar o lugar que lhes é devido fora do Estado que abominam mas do qual se servem, etc. etc. e que vejo eu? O Ministro da Saúde do Partido em que votei, o Professor que me habituei a estimar e a admirar, afinal, dando o dito por não dito durante a campanha eleitoral, vem fazer tudo ao contrário do que a maioria (absoluta) estava à espera, fazendo-nos a todos, sobretudo os mais empenhados, fazer figura de ursos e meter a violinha no saco das nossas pretensões.
Senti-me, sinto-me, sentir-me-ei indignado enquanto não vir mudar todo o panorama atrás descrito.
Estou a favor do programa de saúde do PS, estou a favor dos objectivos estratégicos para a saúde definidos nas GOP, estou a favor dos princípios definidos para os CSP, para a Saúde Pública, para os Cuidados Continuados, da transformação de todos os HH em EPEs, estou a favor de tudo isto. Não estou porém a favor da manutenção do sistema de gestão prevista para os HH EPEs se ela vier a manter o mesmo esquema de órgãos, modo de nomeação e posicionamento dos AH, nomeadamente, as nomeações políticas, o desprezo pelo mérito e o ostracismo dos AH quer dos lugares de topo quer dos lugares intermédios); não estou a favor que, mantendo-se o actual modelo de nomeação de gestores «comissários políticos», estes sejam maioritariamente de oposição à política do Governo, sejam maioritariamente pessoas sem formação específica de gestão hospitalar, continuem a gerir a seu bel-prazer os hospitais sem novas orientações do Ministro (quanto ao respeito a ter pelo pessoal, quanto a regras transparentes nas admissões e nas aquisições, quanto à isenção no relacionamento com os serviços e com as pessoas (todos devem ser havidos por iguais, não podendo tolerar-se que tudo se autorize a uns e nada se autorize a outros), quanto à transparência dos números e das contas, etc. etc.
Por fim, e não me quero alongar, também não estou de acordo com o modo como se tratam as pessoas mesmo não gostando delas. Querem mudar-se, pois mudem-se. Com explicações ou sem elas, de preferência com explicações. Mas deixar andar toda esta incerteza quanto às pessoas é o pior que se pode fazer às pessoas («coitadinhas», porque não?!), mas sobretudo às organizações. Alguém sabe em concreto se os CAs dos HH SA estão mesmo reconduzidos - já alguém viu publicado os despachos de recondução; alguém sabe até quando?; alguém sabe se eles ficam ou se vão aquando da transformação dos HH SA em EPEs? Alguém sabe o que se está a passar com o processo da transformação dos HH EPE?
Ouvem-se boatos, boatos e mais boatos. Desinformação, desinteresse. Apatia.
Não será tudo suficiente para justificar Vivóporto?
Por muito estimáveis que possam ser as pessoas elas não estão acima da crítica e nós da desilusão e da indignação. E do direito de a manifestarmos, quer isso doa ou não a alguém.

«quando um homem como tu renega o seu passado, esse homem mutila-se, demite-se duma parte essencial dele próprio e confessa, com o seu gesto, que enganou aqueles que nele acreditaram ou vai enganar aqueles que venham a acreditar» (Ferreira de Castro, A Curva na Estrada).

Vivóporto

3 Comments:

Blogger saudepe said...

Quem não sente não é boa gente.
Parabéns pelo texto.
Ficámos a saber quando nasceu , para que serve e quando acabará o Vivóporto..
Não sou daqueles que interpreta o entusiasmo no assestar de baterias ao ministro da saúde como uma estratégia de pressão ou de ressabiamente de um grupo de administradores hospitalares (AH) que ficaram de fora do pacote de nomeações efectuadas por Correia de Campos (CC) para os Conselhos de Administração (CA) dos hospitais.
O ressentimento é mais profundo.
A desilusão destes AH tem a ver com a sua passagem na ENSP, onde o actual ministro da Saúde leccionou Economia da Saúde. Aí CC (mestrado em Administração Hospitalar em Rénnes) transmitiu aos seus alunos a concepção de modelo de gestão hospitalar que, no seu entender, mais se aproximava da perfeição.
Volvidos alguns anos, depois de ter passado pelo Banco Mundial, CC terá mandado às urtigas o modelo de gestão que ensinou durante anos a fio, aparecendo como defensor acérrimo das Parcerias da Saúde e das modernas concepções liberais do salve-se quem puder porque o Estado Social já deu o que tinha a dar.
O ressentimento de alguns AH é profundo, dizia eu.
Não pode deixar de ser.
Até aqui tudo bem.
Desde que CC é ministro da Saúde desenvolveu uma série de acções de grande mérito, só possível num técnico que levou a vida inteira a estudar os problemas da Saúde.
O que tem caracterizado a acção política de CC, ao contrário de Luís Filipe Pereira, é que ela é toda fundamentada em estudos de grande fôlego elaborados pela fina flôr dos nossos técnicos de Saúde.
O vivóporto, aliás, reconhece que tudo está bem com excepção das nomeações dos gestores hospitalares, processo que se tem arrastado num impasse frustrantes para todos os profissionais da Saúde, reconheço.
De qualquer forma, também em relação a este ponto, há a enaltecer a mudança de estatuto jurídico dos hospitais SA, justificado num artigo exemplar do Francisco Ramos publicado no semanário Expresso.
É necessário agora proceder à reorganização dos hospitais segundo o novo modelo (SPA incluídos).
Será a altura oportuna de CC rectificar o que há a rectificar, retirando ao vivóporto a sua única razão de existir.
Faço votos que não.
Porque as intervenções do vivóporto são de grande qualidade, assim se mantenha a sua motivação na análise dos problemas da Saúde.
Em relação à obra já feita por CC há que ser mais justo nas críticas enaltecendo o que for feito com acerto.
A crítica não pode ser só deitar abaixo. Mais do mesmo. Há que saber criticar na positiva.

10:00 da manhã  
Blogger helena said...

Alfredo Lacerda Cabral, Administrador Hospitalar de carreira, é o novo presidente do conselho de administração do Hospital de São Bernardo, SA, em Setúbal, Administrador delegado do Hospital Ortopédico de Outão que passa a integrar o centro hospitalar formado por este hospital e o H. De São Bernardo.

11:47 da manhã  
Blogger ricardo said...

O caro amigo Saudepe está muito empenhado na defesa de CC.
Aqui na SaudeSA têmsido analisados amplamente os aspectos positivos da política do actual ministro.
Quanto a mim a crítica temsido equilibrada e justa.
O nosso amigo SaudEPE assim não o entende.
O ministro agradece mas por certo dispensa tão brilhante contributo.

2:32 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home