De cravo na boca
O Presidente da República brindou-nos com um discurso eminentemente social aquando das comemorações do 25 de Abril. Foi um discurso a preceito que, afinal, trazia um cravo de Abril, não na lapela, mas nas palavras.
Importa reflectir um pouco mais para além do verbo. As desigualdades, a desertificação do interior, a pobreza, têm sempre dois lados: dos privilegiados face aos desprotegidos, dos que vivem no litoral face aos que ainda vivem no interior, dos ricos face aos pobres.
E o apelo à Sociedade Civil – concerteza àquela parte que está do lado bom da História para que se movimente e tome iniciativas que mobilizem vontades e recursos para minorar as desigualdades, apesar de atraente e politicamente correcto, não chega.
Precisamos também de intervenção politica do Estado, no sentido de criar condições para que as desigualdades se esbatam, o interior se desenvolva e fixe a população e os pobres encontrem meios dignos de subsistência.
Vem a propósito situar a questão do lado da Saúde. É sabido, por estudos empíricos irrefutáveis, que os cidadãos social e economicamente mais frágeis apresentam também índices sanitários e de qualidade de vida mais baixos. E que neste particular, os idosos são, por maioria de razão, os maiores consumidores de cuidados de Saúde.
Assim, politicas efectivas de protecção do rendimento dos pobres e dos idosos e o desenvolvimento de redes de cuidados continuados que permitam associar, num processo integrado, o apoio domiciliário e a protecção da saúde, os cuidados agudos, os cuidados de convalescença, a reabilitação e os cuidados paliativos, são um imperativo nacional que em boa hora o nosso 1º Ministro anunciou nas vésperas do 25 de Abril.
Fica, no entanto, por saber, como é que efectivamente o modelo se irá desenvolver e, designadamente, qual o modelo de financiamento, partilhado entre os Ministérios da Saúde, do Trabalho e Solidariedade e o próprio utente, que irá ser implementado.
Não é fácil definir fronteiras claras entre o que são cuidados agudos e cuidados de convalescença e os respectivos custos nem sempre apresentam diferenças significativas. Por outro lado, a criação e desenvolvimento de áreas de internamento para doentes de evolução prolongada exigem importantes investimentos na reabilitação e no apoio socio-afectivo desses doentes, no sentido de lhes dar a dignidade que hoje lamentavelmente não têm.
Não se pense, por isso, que a implementação de uma rede de cuidados continuados irá, a curto prazo, diminuir os custos da saúde. A natureza dos cuidados a prestar e as remodelações a fazer em estruturas existentes, implicarão, numa primeira fase, custos mais elevados.
É neste contexto que devemos também reequacionar o financiamento do sistema de saúde. Há cada vez menos espaço para que os doentes paguem mais do seu bolso. Basta comparar a situação portuguesa com a que se observa nos restantes países europeus em que o “out-of-pocket” é francamente mais baixo (cerca de 18% do total da despesa da saúde contra mais de 30% em Portugal!).
Precisamos também aqui, de introduzir mais solidariedade no nosso sistema de saúde. Não propriamente através de atitudes caritativas voluntaristas e que funcionam esporadicamente em “nichos de solidariedade” pouco representativos. Mas sim, através de um modelo de financiamento que mantenha o princípio da contribuição de todos, universal e proporcional ao rendimento.
É, ao fim e ao cabo, tornar consequente o discurso político da solidariedade.
Importa reflectir um pouco mais para além do verbo. As desigualdades, a desertificação do interior, a pobreza, têm sempre dois lados: dos privilegiados face aos desprotegidos, dos que vivem no litoral face aos que ainda vivem no interior, dos ricos face aos pobres.
E o apelo à Sociedade Civil – concerteza àquela parte que está do lado bom da História para que se movimente e tome iniciativas que mobilizem vontades e recursos para minorar as desigualdades, apesar de atraente e politicamente correcto, não chega.
Precisamos também de intervenção politica do Estado, no sentido de criar condições para que as desigualdades se esbatam, o interior se desenvolva e fixe a população e os pobres encontrem meios dignos de subsistência.
Vem a propósito situar a questão do lado da Saúde. É sabido, por estudos empíricos irrefutáveis, que os cidadãos social e economicamente mais frágeis apresentam também índices sanitários e de qualidade de vida mais baixos. E que neste particular, os idosos são, por maioria de razão, os maiores consumidores de cuidados de Saúde.
Assim, politicas efectivas de protecção do rendimento dos pobres e dos idosos e o desenvolvimento de redes de cuidados continuados que permitam associar, num processo integrado, o apoio domiciliário e a protecção da saúde, os cuidados agudos, os cuidados de convalescença, a reabilitação e os cuidados paliativos, são um imperativo nacional que em boa hora o nosso 1º Ministro anunciou nas vésperas do 25 de Abril.
Fica, no entanto, por saber, como é que efectivamente o modelo se irá desenvolver e, designadamente, qual o modelo de financiamento, partilhado entre os Ministérios da Saúde, do Trabalho e Solidariedade e o próprio utente, que irá ser implementado.
Não é fácil definir fronteiras claras entre o que são cuidados agudos e cuidados de convalescença e os respectivos custos nem sempre apresentam diferenças significativas. Por outro lado, a criação e desenvolvimento de áreas de internamento para doentes de evolução prolongada exigem importantes investimentos na reabilitação e no apoio socio-afectivo desses doentes, no sentido de lhes dar a dignidade que hoje lamentavelmente não têm.
Não se pense, por isso, que a implementação de uma rede de cuidados continuados irá, a curto prazo, diminuir os custos da saúde. A natureza dos cuidados a prestar e as remodelações a fazer em estruturas existentes, implicarão, numa primeira fase, custos mais elevados.
É neste contexto que devemos também reequacionar o financiamento do sistema de saúde. Há cada vez menos espaço para que os doentes paguem mais do seu bolso. Basta comparar a situação portuguesa com a que se observa nos restantes países europeus em que o “out-of-pocket” é francamente mais baixo (cerca de 18% do total da despesa da saúde contra mais de 30% em Portugal!).
Precisamos também aqui, de introduzir mais solidariedade no nosso sistema de saúde. Não propriamente através de atitudes caritativas voluntaristas e que funcionam esporadicamente em “nichos de solidariedade” pouco representativos. Mas sim, através de um modelo de financiamento que mantenha o princípio da contribuição de todos, universal e proporcional ao rendimento.
É, ao fim e ao cabo, tornar consequente o discurso político da solidariedade.
Manuel Delgado, revista GH n.º 16
9 Comments:
Quando comentei o post da entrevista de Inês Guerreiro, como se recordam, transcrevi, entre outros os seguinte parágrafos:
"Nesta primeira fase da rede o pacote dos serviços de cuidados continuados será tendencialmente gratuito conforme a Constituição prevê para os cuidados de saúde em geral, agora, a família vai participar e participar com os rendimentos que tem e pode, e esse não deve ser factor distintivo dos serviços que são prestados.
.........
Tem de haver uma forte participação das pessoas para que tudo isso seja sustentável, e também acredito que o mercado se vá moldando e as seguradoras à semelhança do que ocorreu noutros países…"
E nesse comentário escrevi:
"...não sei se os "ganhos financeiros" de uma tal mudança serão defacto compensadores. Creio até que os custos tenderão a crescer o que em tempo de crise financeira do SNS poderá ser um entrave ao seu desenvolvimento".
Pois bem, cá temos o Presidnte da APAH a dar o seu contributo para que os utentes e suas famílias se vão "mentalizando" de que o SNS tendencialmente gratuito está a chegar ao fim.
É o regresso do pagamento de "taxas moderadoras" de acordo com o "rendimento", como se conclui do que se transcreve:
"Precisamos também aqui, de introduzir mais solidariedade no nosso sistema de saúde. Não propriamente através de atitudes caritativas voluntaristas e que funcionam esporadicamente em “nichos de solidariedade” pouco representativos. Mas sim, através de um modelo de financiamento que mantenha o princípio da contribuição de todos, universal e proporcional ao rendimento."
A breve prazo teremos, provavelmente, o Senhor Ministro da Saúde ou algum dos seus "Ajudantes" a voltar a agitar esta problemática.
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos!
O MD de cravo na boca ?
Modelo de financiamento que mantenha o princípio da contribuição de todos, universal e proporcional ao rendimento.
MD volta corajosamente ao tema.
Já não sei se são os AH que não merecem o presidente da APAH que têm, se é o presidente da APAH que tais ditosos associados tem, merecendo melhor sorte.
O Senhor Primeiro Ministro anunciou hoje no Parlamento a liberalização da propriedade das farmácias.
Ora aqui está uma medida que merece o meu aplauso.
Mas não devemos nunca esquecer a necessidade de um adequada (diria mesmo severa) regulação da actividade.
Liberalização da propriedade?
E da instalação? Abrem 300 novas Farmácias a conta-gotas?
Querem ver que os trespasses das Farmácias agora é que valerão os ditos milhões?
Aguardemos com a serenidade possível.
A nova lei das farmácias é uma esmagadora vitória da ANF sobre CC:
- Vão abrir pouquíssimas farmácias;
- Algumas das farmácias já existentes vão "beber directamente à fonte": 24 horas por dia, a funcionar nos próprios hospitais! (E a ANF garantiu que são as farmácias que já existem quem vai ter a prioridade nos concursos hospitalares!);
- Agora as farmácias associadas da ANF passarão a valer pelo menos o dobro...
Mais uma vez, a montanha pariu um rato: a nova lei dificilmente afectará a acessibilidade ao medicamento e em troca do benefício moral de permitir a propriedade a qualquer um, concedem-se benefícios que fazem com que as farmácias actualmente existentes aumentem exponencialmente o seu valor... lá se vai o argumento da AdC segundo o qual as farmácias eram estabelecimentos com rendibilidades supranormais!
Oportunamente escreverei sobre a forma como esta lei parece favorecer a verticalização, o que é precisamente o contrário de um dos grandes objectivos de CC!
É demasiada sem-vergonha.
Fica tudo na mesma, acessibilidade foi pró galheiro.
Viva o capital. Viva a ANF.
Grande manobra! Todo o mundo comido às escuras.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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