quarta-feira, junho 14

Monitorização do Consumo Hospitalar

H. São Bernardo - Setúbal

A monitorização da utilização de medicamentos em meio hospitalar constitui um instrumento essencial para a implementação de uma política de utilização racional dos medicamentos.
Um dos raros estudos de monitorização do consumo hospitalar de medicamentos que conheço, foi desenvolvido pela Unidade de Missão dos HH SA, em conjunto com o Infarmed, com o objectivo de determinar o perfil de utilização de antibióticos a partir da recolha de dados (Maio 2004) em seis hospitais (Hospital Geral de Santo António, SA; Hospital Infante D. Pedro, SA; Hospital de Santo André, SA; Hospital de Egas Moniz, SA; Hospital de São Francisco Xavier, SA e Hospital do Barlavento Algarvio, SA) link

Algumas das conclusões do referido estudo constituem, efectivamente, informação valiosa para delinear a estratégia de controlo do consumo de medicamentos (antibióticos) em meio hospitalar: link
a) - Durante o período de estudo, o consumo de antibióticos nos Serviços de Cirurgia variou entre 186,52 DDD/100 co/dia (H. de Egas Moniz) e 432,00 DDD/100 co/dia ( H. Infante D. Pedro), sendo a média do total dos hospitais de 338,12 DDD/100 co/dia .
Ortopedia, apresentou valores de variação mais baixos: 56,42 DDD/100 co/dia e 242,86 DDD/100 co/dia, com uma média de 167,45 DDD/100 co/dia;
b) - A maior parte do consumo de antibióticos nos serviços de Cirurgia e Ortopedia (60 a 80%) destinou-se à profilaxia da infecção no local cirúrgico, sendo apenas 20 a 40% utilizados para fins terapêuticos, atestando a adesão geral à prática da profilaxia da infecção no local cirúrgico;
c)- Dos 1.154 antimicrobianos analisados no estudo, 71,2% foram administrados para “profilaxia”, sendo esta a indicação com maior peso em todos os hospitais em análise;
d) - Constatou-se que as cefalosporinas (J01D) foram o grupo ATC3 a ser mais prescrito em todos os hospitais, independentemente da indicação, à excepção do Hospital de S. Francisco Xavier. Só este grupo representa 50,4% do total das prescrições dos 6 hospitais, seguido pelo grupo dos betalactâmicos/penicilinas (J01C; 24,5%).
Este facto é esperado, atendendo a que as cefalosporinas, estão, geralmente, recomendadas para a profilaxia da infecção pós-cirúrgica;
e) - É, hoje em dia, geralmente aceite que o prolongamento da utilização do antibiótico para além da duração do acto cirúrgico não acrescenta qualquer benefício à sua utilização em toma única, só contribuindo para o aumento dos custos da profilaxia e desenvolvimento de resistências bacterianas.
No presente estudo, a duração média da utilização de antibióticos para a indicação “profilaxia” foi de 2,61 dias.
f) - Em termos de análise por ATC3, o custo médio mais elevado verifica-se nos grupo dos betalactâmicos/penicilinas e das cefalosporinas. A Piperacilina+Tazobactam e a Cilastatina+Imipenem são responsáveis por 64,7% dos custos totais da antibioterapia, atestando a frequência da sua utilização em profilaxia, prática para a qual existem, de acordo com as actuais recomendações, alternativas de eficácia reconhecida e com eventual benefício em termos de custo.
g) - o custo médio da profilaxia por acto cirúrgico variou de forma significativa entre os diferentes hospitais, com um mínimo de € 16,29 para o H. de Egas Moniz e um máximo de € 120,10 para o H. Infante D. Pedro, variação que poderá ser explicada, em parte, pela frequência da utilização de Carbapenemes neste último hospital. O reduzido número de infecções pós-cirúrgicas encontrado durante o estudo não permite avaliar se as diferentes práticas de profilaxia se associaram a variações no risco da sua ocorrência.

CC, na cerimónia de assinatura do protocolo com a Indústria reconheceu a necessidade de monitorizar os grupos de medicamentos com maior peso na despesa hospitalar (oncológicos, HIV/Sida).
Aguardamos com expectativa os resultados da anunciada medida de monitorização do consumo hospitalar de medicamentos .
Nota: DDD - Dose Diária Definida. DDD/100 camas ocupadas/dia, sendo que 100 DDD/100 camas ocupadas/dia representa a administração de 1 DDD/dia de antibiótico, independentemente do tipo de antibiótico, a cada doente internado.

2 Comments:

Blogger ricardo said...

Acontece que mesmo quando há estudos, quando dispomos de dados de informação fiáveis, desgraçadamente, não conseguimos utilizá-los para melhorar a gestão dos nossos hospitais.

Uma nova cultura de gestão leva muitos anos a construir.
Como referia a Bastonária dos Enfermeiros na entrevista à GH, o pessoal médico só agorar está a despertar verdadeiramente para os problemas da gestão

Li com atenção este estudo que o Xavier aqui referiu.
Apetece fazer as sacramentais perguntas:
- As conclusões deste estudo foram comunicadas a todos os hospitais do SNS ?
- Porque não foi repetida a recolha de dados para verificar a evolução da situação ?

O costume, limitamo-nos a fazer umas fogachadas de vez em quando.

3:46 da tarde  
Blogger saudepe said...

Nesta área, para obter resultados no controlo da despesa com medicamentos, basta observar, cumprir os procedimentos correctos quanto à prescrição e dispensa dos medicamentos.

Prescrever antibióticos adequados para uma determinada situação clínica significa que ao mesmo tempo que se evita, por exemplo, a criação de resistência, a utilização da alternativa mais adequada sob o onto de vista económico.

Poupar é então sinónimo de prescrição correcta e administração correcta (observância dos horários das toma, etc).
Na área do medicamento à eficiência técnica corresponde a eficiência económica (são sobreponíveis).

É por isso que é muito importante a actuação das Comissões de Farmácia hospitalares e o desempenho dos farmacêuticos hospitalares na área da farmácia clínica.

E o que é que se nos depara nos hospitais ?
Burocracias.
As Comissões Hospitalares, salvo raras excepções, não funcionam.
Quanto aos farmacêuticos limitam-se, muitos deles, à execução de funções administrativas.

7:55 da tarde  

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