quinta-feira, junho 8

Um Bom Acordo


O País foi surpreendido com o cenário anunciado da revolução no mercado farmacêutico, traduzido no acordo de princípio assinado entre o Governo e a ANF, no passado dia 26 de Maio.
Os bons acordos são aqueles que satisfazem ambas as partes. E no caso vertente foi o que parece ter acontecido.
O governo teve uma vitória política significativa ao acabar com o condicionamento da propriedade das farmácias de oficina; a ANF pode ganhar, a prazo, um mercado objectivamente potenciado, com mais farmácias, diversificação de produtos e de serviços, horários de funcionamento alargados, novas farmácias dentro dos hospitais, “novos”doentes (os que agora se abastecem exclusivamente nas farmácias hospitalares) e, ainda, a legalização da pluripropriedade de estabelecimento.
Para além do ganho político imediato, o Governo deixa-nos também a imagem de que governa para os cidadãos: cria-lhes condições de acesso aos medicamentos, mais rápidas e confortáveis, estimula a diminuição dos preços, promove um novo conceito de ‘serviços farmacêuticos’ (que inclui o serviço domiciliário, a profilaxia e a educação para a saúde, os produtos naturais e de conforto e os meios auxiliares de diagnóstico, entre outros), permite a adequação da dispensa de medicamentos à exacta necessidade Ninguém
Ninguém terá grandes certezas quanto ao impacto deste conjunto de medidas no mercado farmacêutico.
O consumo de medicamentos aumentará, na razão directa do melhor acesso, dos preços mais baixos e até dos saldos de ocasião?
Os farmacêuticos continuarão a dominar o sector quanto à propriedade das farmácias, como com certeza esperam? As novas farmácias hospitalares retirarão clientela aos estabelecimentos limítrofes? Os medicamentos de uso exclusivamente hospitalar passam também para as farmácias de oficina? E os doentes? Passam a ser clinicamente acompanhados também no ambulatório das farmácias de oficina? E ficarão os hospitais públicos libertos da enorme factura que a medicação ambulatória representa? E quanto às embalagens? Teremos mesmo uma revolução na forma de acondicionamento e de apresentação dos fármacos? E isso eliminará mesmo as mini-farmácias que todos temos em nossas casas?
Há, como se vê, interrogações para todos os gostos e em todos os sentidos, alguns deles pouco conciliáveis.
Esperemos pela regulamentação que este acordo de princípios irá despoletar. E pela real evolução que se operará no mercado farmacêutico.
Estamos todavia convencidos de que se deu um passo importante para melhorar os serviços farmacêuticos em Portugal.
manuel delgado, editorial da revista gestão hospitala, Maio 2006.

MD apareceu, uma vez mais, nos órgãos de comunicação social a comentar este acordo do governo.
Não temos nada contra o facto do presidente da APAH gostar de comentar a política de saúde do VII governo constitucional .
O problema está quando MD, em nome dos AH, diz disparates, como aconteceu em relação ao ponto do acordo que prevê a concessão de farmácias a funcionarem nos hospitais públicos, considerando-a "uma medida confortável” para os doentes.
Medida confortável p/ os doentes?
MD estaria a pensar, certamente, nas associadas da ANF !

3 Comments:

Blogger Vladimiro Jorge Silva said...

Há outro ponto interessante e que todos parecem ignorar no caso das farmácias: é que com a lei actual (antes de CC) já existem condições populacionais para se abrirem algumas centenas de novas farmácias (talvez 300, em todo o país)...! Ou seja, de que vale baixar a capitação
se o Estado a seguir não abre concursos? Para abrir o número de farmácias anunciado (precisamente e curiosamente, 300...), não era necessário alterar a lei! É o jogo do faz de conta político ao seu melhor nível!

9:07 da manhã  
Blogger Farmasa said...

O Vladimiro pôs o dedo na ferida.

Todo este foguetório à volta das farmácias não foi mais que isso mesmo: Fizeram a festa, anunciaram-se vencedores, vencidos. Uma grande revolução. Para tudo ficar na mesma. Claro que vão abrir algumas farmácias para parecer que tudo mudou.

Vejam a lei e façam as contas ao número de farmácias que, já hoje deveriam existir nalguns locais.
Em termos nacionais a capitação está em cerca de 3800 por farmácia. Mas se formos para o concelho de Lisboa, aplicando a lei actual só deveriam existir 169 farmácias. Há 314. Por outro lado, se formos para concelhos do litoral mas fora de Lisboa e Porto, é um verdadeiro escândalo. Com a capitação nos 4.000 por farmácia o INFARMED já deveria ter aberto centenas de concursos. Porque não os abre? E quando os abre, porque é que nunca são para as freguesias mais populosas e sempre para as rurais? Não me digam que é para equilibrar a ofertam, porque já ninguém acredita nesse argumento!

E depois ainda querem que acreditemos que os concursos serão "transparentes"!

11:19 da manhã  
Blogger Farmasa said...

Perdão, enganei-me no número de farmácias em Lisboa: São 308.

11:20 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home