As novas Farmácias Sociais
Revista Sábado (RS) - Os medicamentos para o cancro e para a sida vão ou não ser vendidos nas farmácias? É o que diz o protocolo assinado com a Associação Nacional de Farmácias (ANF).
Correia de Campos (CC) - Os medicamentos que são distribuídos nos hospitais podem vir a ser dispensados.
RS - Dado o enorme volume de negócio que poderá representar para as farmácias, é legítimo concluir que essa foi uma manobra para calar o presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), João Cordeiro, que teve de ceder na questão da liberalização da propriedade?
CC - Não. Há cada vez mais evidência de que alguns doentes com sida estão inscritos em mais do que um hospital. É perfeitamente possível um doente ir buscar medicamentos a duas unidades.
RS - Para quê?
CC - Ontem reuni com vários hospitais e há evidência de que há pacientes que recolhem os medicamentos que são muito valiosos, revendendo-os, o que nos permite pensar que há um mercado paralelo de venda de medicamentos contra a sida em Portugal. Ainda não sabemos é a sua dimensão.
RS - E isso resolve-se com a venda nas farmácias?
CC - Resolve-se com duas coisas: com o registo dos pacientes. Sabia que não temos um registo de doentes com sida? É verdade, não temos…
RS - E o que é que se resolve com a venda nas farmácias?
CC - Porque é que aceitámos no protocolo com a ANF a dispensa nas farmácias?
RS - Para lha dar como moeda de troca pela assinatura do acordo, ou não?
CC - Não foi nada disso.
RS - Mas parece.
CC - Em primeiro lugar devo dizer-lhe que as próprias farmácias se disponibilizam para fazer essa distribuição gratuitamente a um preço nominal. Segunda questão: nós temos a certeza de que o sistema informático das farmácias nos dá garantias. Aqui o critério essencial é a comodidade do doente. Se para ele for mais cómodo ir buscar os medicamentos à farmácia, poderá ir. E até podemos articular com as farmácias a toma presencial.
RS - A minha dúvida é: as farmácias vão ou não ganhar dinheiro com isso?
CC - Não sei...
RS - Não estou a ver o líder da ANF, João Cordeiro, que nem se dá bem consigo, a fazer um enorme favor ao Ministério da Saúde a troco de nada.
CC - Porquê?
RS - Porque as farmácias não são instituições de solidariedade social.
Sejamos honestos: as farmácias têm feito aquilo a que você chama de grande favor ao Ministério ao distribuir seringas gratuitamente. Têm também feito a distribuição de preservativos e têm feito o apoio aos diabéticos. Tenho a convicção de que, se celebrarmos um acordo com as farmácias, ele será cumprido e passaremos a ter um registo terapêutico muito completo.
RS - Posso então concluir que a distribuição de medicamentos para a sida nas farmácias, juntamente com a possibilidade de abertura de estabelecimentos nos hospitais, não foi moeda de troca com a ANF?
CC - Não é. Quando a ANF propôs isso nas negociações dei imediatamente o meu acordo.
RS - E tem a certeza absoluta de que isso não lhe vai desequilibrar as contas no Ministério, uma vez que podem ser cobradas taxas sobre medicamentos caríssimos?
CC - Absoluta. Se for bem feito, não acontecerá.
Correia de Campos (CC) - Os medicamentos que são distribuídos nos hospitais podem vir a ser dispensados.
RS - Dado o enorme volume de negócio que poderá representar para as farmácias, é legítimo concluir que essa foi uma manobra para calar o presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), João Cordeiro, que teve de ceder na questão da liberalização da propriedade?
CC - Não. Há cada vez mais evidência de que alguns doentes com sida estão inscritos em mais do que um hospital. É perfeitamente possível um doente ir buscar medicamentos a duas unidades.
RS - Para quê?
CC - Ontem reuni com vários hospitais e há evidência de que há pacientes que recolhem os medicamentos que são muito valiosos, revendendo-os, o que nos permite pensar que há um mercado paralelo de venda de medicamentos contra a sida em Portugal. Ainda não sabemos é a sua dimensão.
RS - E isso resolve-se com a venda nas farmácias?
CC - Resolve-se com duas coisas: com o registo dos pacientes. Sabia que não temos um registo de doentes com sida? É verdade, não temos…
RS - E o que é que se resolve com a venda nas farmácias?
CC - Porque é que aceitámos no protocolo com a ANF a dispensa nas farmácias?
RS - Para lha dar como moeda de troca pela assinatura do acordo, ou não?
CC - Não foi nada disso.
RS - Mas parece.
CC - Em primeiro lugar devo dizer-lhe que as próprias farmácias se disponibilizam para fazer essa distribuição gratuitamente a um preço nominal. Segunda questão: nós temos a certeza de que o sistema informático das farmácias nos dá garantias. Aqui o critério essencial é a comodidade do doente. Se para ele for mais cómodo ir buscar os medicamentos à farmácia, poderá ir. E até podemos articular com as farmácias a toma presencial.
RS - A minha dúvida é: as farmácias vão ou não ganhar dinheiro com isso?
CC - Não sei...
RS - Não estou a ver o líder da ANF, João Cordeiro, que nem se dá bem consigo, a fazer um enorme favor ao Ministério da Saúde a troco de nada.
CC - Porquê?
RS - Porque as farmácias não são instituições de solidariedade social.
Sejamos honestos: as farmácias têm feito aquilo a que você chama de grande favor ao Ministério ao distribuir seringas gratuitamente. Têm também feito a distribuição de preservativos e têm feito o apoio aos diabéticos. Tenho a convicção de que, se celebrarmos um acordo com as farmácias, ele será cumprido e passaremos a ter um registo terapêutico muito completo.
RS - Posso então concluir que a distribuição de medicamentos para a sida nas farmácias, juntamente com a possibilidade de abertura de estabelecimentos nos hospitais, não foi moeda de troca com a ANF?
CC - Não é. Quando a ANF propôs isso nas negociações dei imediatamente o meu acordo.
RS - E tem a certeza absoluta de que isso não lhe vai desequilibrar as contas no Ministério, uma vez que podem ser cobradas taxas sobre medicamentos caríssimos?
CC - Absoluta. Se for bem feito, não acontecerá.
Fernando Esteves, revista sábado, 29.06.06
Esta entrevista de CC, de que reproduzimos a primeira parte, link é de uma enorme infelicidade.
Entre muitas outras pérolas, para justificar a transferência de medicamentos de distribuição exclusiva hospitalar para as farmácias da ANF, o ministro da saúde, António Correia de Campos, chega ao ponto de admitir a possibilidade de articular com estas farmácias as tomas presenciais de antivíricos.
Estão a imaginar as filas de doentes do SNS ao balcão das farmácias comunitárias de copo na mão a aguardar a toma da manhã ?
Tudo gratuito e porque o sistema informático das farmácias privadas dá melhores garantias no controlo dos doentes com HIV/Sida. Sim, porque os hospitais públicos e os CS não têm registo destes doentes.
Como por encanto, aí temos a ANF, até há bem pouco, perigoso monopólio da Saúde, reconhecida como entidade de solidariedade social acarinhada pelo Estado.
Surpreendente !
12 Comments:
Qual o segredo das Farmácias???
Compatibilizar os seus legítimos interesses com o interesse dos doentes e o interesse nacinal!!!
"
Sejamos honestos: as farmácias têm feito aquilo a que você chama de grande favor ao Ministério ao distribuir seringas gratuitamente. Têm também feito a distribuição de preservativos e têm feito o apoio aos diabéticos. Tenho a convicção de que, se celebrarmos um acordo com as farmácias, ele será cumprido e passaremos a ter um registo terapêutico muito completo."
CC dixit
Em relação a estes factos finalmente reconhecidos por CC e a sua equipa, cujos ganhos para a Saude se encontram deviadamente calculados e fundamentados... eu acrescentaria ainda a toma presencial de metadona e brupenorfina em terapeuticas de substituição de opiácios, já realizada a título gratuito em muitas farmácias...
Por isso meu caro Xavier a figura de estilo
"Estão a imaginar as filas de doentes do SNS ao balcão das farmácias comunitárias de copo na mão a aguardar a toma da manhã ?"
Já acontece discretamente em muitas farmácias em gabinetes próprios... e "by the way" a farmácia fornece a água e os copos descartáveis!!!
Um abraço
Eduardo Faustino
Mas afinal alguém duvida que o papel dos Farmacêuticos está muito para além da venda de medicamentos?
Não é o Farmacêutico muitas vezes o nosso primeiro conselheiro (quase médico)e que evita o recurso a hospitais e centros de saúde.
Esta animosidade contra os Farmacêuticos já começa a parecer mais uma das nossas características: inveja.
PS: como se sabe sou favorável à liberalização (regulamentada) das farmácias reconhecendo o papel que desempenham os Farmacêuticos e não ignorando que, de um modo geral, o negócio é rentável. Mas é esse um dos principais objectivos de qualquer "empresário"
Confesso que não tenho a inteligência ou a perspicácia necessária para entender o rumo, a estratégia, de CC. O homem surpreende-me a cada dia.
Caro Tonitosa, a expressão "quase médico" não é muito lisonjeira para nós...
CC nesta entrevista é levado às cordas pelas perguntas e réplicas previsíveis do jornalista.
As entrevistas são, habitualmente, um ponto forte da actuação do ministro, pela forma clara, pronta, preparada, como consegue fazer passar os seus pontos de vista.
Desta vez, as respostas saíram-lhe pouco certeiras, algumas inábeis, como à pergunta, se as farmácias iriam ou não ganhar dinheiro com a distribuição dos medicamentos hospitalares, respondendo que não sabia.
Não sabia, não é resposta que se dê.
Mas o mais grave é a forma como justifica a transferência dos medicamentos distribuídos pelas farmácias hospitalares para as farmácias privadas.
Mais uma vez, CC demonstra não ter muito apreço pelas farmácias hospitalares, quando o senhor ministro sabe quanto desprezado e sacrificado tem sido esta área hospitalar.
No lugar de apostar no investimento, na dotação de recursos para a melhoria destes serviços, CC prefere entregá-los às fatias às associadas da ANF.
Isto não é, no nosso entender, boa política.
Caro M.S. Peliteiro,
Peço desculpa se o termo é injusto ou contém algo de incorrecto.
Não quis ofender os Farmacêuticos enquanto nossos primeiros conselheiros...antes pelo contrário.
Mas o que quis referir é que Vocês, Farmacêuticos, não sendo médicos substituem-nos nesse primeiro contacto e dignóstico.
E já agora acrescento: a consulta é gratuita!
Tonitosa, eu entendi.
No entanto a afirmação "quase médico" pode deixar entender um estatuto de menoridade, quando deve ser de complementaridade.
A fronteira de acção não é bem definida, não tem acompanhado o evoluir das profissões e das práticas.
Por exemplo, agora, numa época em que as autoridades de saúde decidiram promover a automedicação - o que me parece errado - julgo que faria todo o sentido a criação de um novo grupo de medicamentos, os MSRMF - medicamentos sujeitos a receita médica ou aconselhamento farmacêutico. Na prática eles já existem; apenas não existe frontalidade para os definir e regular.
Sobre esta matéria e a idoneidade de Batel Marques, apenas mais um comentário: qual a "idoneidade" de F. Ramos (e CC - ninguém me confirmou se pertenceu ou não ao OPSS) para fazer parte do OPSS no tempo de LFP depois de terem sido governantes (da Saúde) anteriormente?
Ou seja, bastava constar no relatório que FR tinha sido Secretário de Estado da Saúde para as suas posições serem credíveis?
Não façam de nós parvos.
Que falta de urbanidade. Que casca grossa.
CC nesta entrevista, em relação ao professor Batel Marques, passou das marcas.
Os adversários políticos devem-nos merecer respeito.
CC trata o adversário à cabeçada.
Este comportamento do actual ministro da saúde só contribui para nos fazer lembrar a correcção do seu antecessor, Luís Filipe Pereira.
AGRADECIMENTO PUBLICO,
Queria agradecer publicamente, a Sua Excelência o Nosso Ministro da Saúde e à sua equipa, o privilégio que nos atribuiu criando um fundo especifico para pagamento atempado às Farmácias.
Nós sabemos modestamente que somos “special ones” e consequentemente merecemos um “tratamento diferenciado de todos os outros fornecedores do MS”!!!
Neste contexto venho agradecer publicamente o esforço financeiro do seu ministério e do das finanças, e prometo que p’rá próxima não vou esperar até ao ultimo dia do prazo para pagar o IRS /IRC...
Como media de solidariedade e a título de agradecimento para Sua Excelencia o nosso querido líder do Ministério da Saúde vou aumentar as margens dos MNSRM , para que fiquem claramente mais caros dos da Loja mais próxima, e assim corroborem inteiramente as Suas opiniões!!!
Sem outro assunto de momento,
Despeço-me com cordiais saudações
Eduardo Faustino
Farmacêutico de Oficina
O Prof. Batel Marques tocou claramente no ponto G de Correia de Campos. É uma delícia vê-lo espernear quando é confrontado com alguém que o enfrenta (e vence!) na área académica (onde CC se julga invencível). Aliás, a falta de urbanidade (parafraseando o Peliteiro) de CC quando fala do assunto é disso mesmo o melhor exemplo. O homem não se aguenta!
Já no "Prós e Contras" realizado há cerca de um ano Batel Marques havia sido brilhante e absolutamente contundente perante a corte de correligionários de CC que participou naquilo que mais parecia uma sessão pública de humilhação da classe farmacêutica.
Batel Marques seria certamente um bastonário muito melhor para a OF que o pacífico Aranda da Silva, sobretudo nos tempos que correm.
Em relação à posição de CC perante o OPSS, é lamentável ver alguém cuspir no prato de onde comeu e tratar desta forma pessoas que CC sabe serem muitíssimo competentes (a começar pelo Prof. Pedro Ferreira), muitas das quais até são politicamente próximas do governo.
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