domingo, abril 22

CHTMAD

hospital de vila real

Nesta entrevista ao “Liberal”, Carlos Vaz, AH, presidente do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) (Hospitais de Vila Real, Régua, Lamego e Chaves), tenta justificar, cheio de convicção, a política de saúde do actual governo para a região. LINK
LIBERALNesta alteração de Centro Hospitalar Vila Real/Régua (CHVRR) para Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) foi ouvido?
Carlos Vaz (CV) – Nos pontos em que o Sr. Ministro achou que eu me deveria pronunciar, seguramente como técnico com responsabilidades – há muitos anos – no Ministério da Saúde, dei os pareceres que achei convenientes. Quanto a toda a decisão da fusão/integração dos hospitais para fazer um grande Centro, essa foi da total responsabilidade do Ministério da Saúde e do sr. ministro. Como é óbvio também com a colaboração permanente dos políticos locais de toda a região. Mas o meu papel, em todo este projecto, é o de um mero técnico. Eu não me pronunciei – nem me pronunciaria – sobre as decisões tomadas.
LiberalMas concorda com esta alteração da organização hospitalar da região?
CV – Eu concordo e estou perfeitamente à-vontade porque, quando eu era director do Hospital de Bragança, fiz uma proposta pública para a criação do Centro Hospitalar do Nordeste. Isso foi em 1999. Não foi possível na altura mas, ainda bem, posteriormente foi constituído esse Centro. Como foi este e todos os outros. É de referir, só a título de exemplo para que se veja a grande necessidade destas reestruturações, que fui, creio que em 1982, à inauguração do primeiro Centro Hospitalar de França, em Rouen. Acompanhei a esse acto o director geral que era um grande homem no nosso país e estou a referir-me ao Dr. Quintanilha Mantas. Repare, isso aconteceu há 25 anos e, a essa distância, ainda andamos a discutir se vale a pena. Em quase toda a Europa já foram constituídos há muitos anos. Portanto, o caminho é este, o da centralização, quer pelas economias de escala que se conseguem a nível de consumo mas, fundamentalmente, para criar núcleos de grande diferenciação e grande qualidade para servirmos a população que temos. Se havia antigamente um grande handicap em toda a região que eram as acessibilidades, hoje, felizmente, com as auto-estradas com as IP’s e as SCUT’s, as deslocações fazem-se com mais celeridade, segurança e conforto. Com os meios e o País que temos, do que precisamos é de o desenvolver e, seguramente também, de evoluir quer na qualidade técnica – que já é muita – quer nos custos. Precisamos de ter uma visão permanente do sector. Hoje ainda se vê como quase pecado falar-se na Saúde e dizer-se que é preciso controlo e contas certas e correctas. Eu sou um defensor acérrimo de que às instituições – quer sejam hospitais que prestam um serviço perfeitamente diferenciado, quer quaisquer outras instituições públicas – o que não pode faltar é nada aos doentes, dando-lhes os melhores cuidados ao melhor preço. Pode haver boas contas e trabalhar-se com eficácia e com eficiência. É esse o caminho que temos a percorrer. É uma das grandes exigências e acho muito bem.
LiberalExiste a ideia de que as populações não foram devidamente informadas sobre o encerramento das maternidades, urgências e SAP’s, o que terá originado um coro de protestos e manifestações. Com outra abertura e diálogo o resultado não teria sido outro?
CV – Eu discordo dessa visão e penso que também é, de facto, a opinião de muita gente. Mas, se reparar, nos últimos dois anos o sr. ministro multiplicou-se em explicações à população, através da comunicação social, falando da necessidade das integrações. Foi sempre a posição do sr. ministro de que não fecharia nenhuns serviços sem criar melhores condições de qualidade, objectividade e eficácia para o tratamento dos doentes. O que é um facto, infelizmente, é que, quando se começou a falar na comunicação social foi sempre pelas piores razões pois os estudos técnicos foram muitíssimo bem feitos, por especialistas da área. O dr. Correia de Campos teve o cuidado de afirmar que uma coisa são os estudos técnicos – que têm que ser feitos e são necessários – e outra são as decisões políticas. Já há muitos meses que o ministro e a sua equipa andavam a negociar com os autarcas. Infelizmente a comunicação social faz o que deve fazer, porque trabalha com factos e realidades, dá mais destaque às manifestações. Isto não é uma crítica aos jornalistas mas o que eu acho é que houve muitos aproveitamentos políticos, mesmo locais e regionais, para exacerbar estas realidades quando, efectivamente, o que se queria fazer era dar mais qualidade aos utentes porque muitas das urgências e muitos dos SAP’s que estão abertos criam uma falsa sensação de segurança às populações. E isto porque, como dizem alguns técnicos e muito bem, não há urgências, há consultas de agudos e há emergências. E quando um de nós tem um problema muito grave, por exemplo um enfarte do miocárdio, um acidente vascular cerebral (AVC) ou um acidente de que resultam politraumatismos, deve ir imediatamente para um centro com condições onde tenha cuidados intensivos e que tenha equipas permanentes de especialistas e, fundamentalmente, equipamentos para nos salvar. São estas situações que põem eventualmente, em risco o doente. Esta é a diferença entre a vida e a morte. Ao deslocar-se muitas vezes a uma pequena urgência, que até pode estar cheia de profissionais, pode lá ter o melhor médico do mundo mas se não tem equipamento, ou os meios técnicos necessários para uma intervenção, para agir perante o doente, a única coisa que se faz é transportá-lo dessa pequena urgência para um hospital polivalente onde haja condições. Um minuto, ou dez minutos ou meia hora é a diferença entre a vida e a morte. É essa dicotomia e essa realidade que, de facto, se torna muito difícil explicar às populações. Quando têm um acidente, quando está politraumatizado ou tem um enfarte do miocárdio – até porque ele não sabe o que tem – os bombeiros e o INEM, embora fazendo um trabalho fantástico, levando o doente ao centro de saúde quando não é o sítio certo, estamos a colocá-lo em risco. Quando o doente tem um problema grave deve, isso sim, ir quanto mais depressa melhor, num transporte com condições, para um hospital que efectivamente o possa acudir.(...)

Liberal 20.04.07