quinta-feira, abril 19

Farmácias, liberalização da propriedade


(...) Resta, por fim, a legítima questão não respondida pelos arautos da liberalização económica: o que muda com a liberalização da propriedade de farmácia? De acordo com estudos de outros países, as alterações repercutem-se de várias formas: assimetria de acesso a medicamentos; concentração e verticalização económica; perda de poder regulador do Estado; degradação da qualificação profissional nas farmácias; decréscimo da qualidade de serviço; e, não menos relevante, incapacidade de contenção de custos com os medicamentos. Ou seja, a escolha confronta-se entre um modelo regulado, conhecido e testado versus um modelo liberal, cujos países experimentadores têm agora maiores dificuldades de impor regulação e contenção económica. LINK

São estas questões e respectivas respostas que lanço para um contraditório, com a única ressalva de ser exigível uma confrontação séria e com fundamentação.
Aos decisores políticos do nosso país fica também o repto de responderem, de forma conclusiva, a uma última questão: os cidadãos que os elegem têm o direito de saber o que lhes estão a "vender".
Como nota final, o oráculo: a vingar a liberalização nestes moldes, desenganem-se aqueles que julgam que vão entrar num "negócio" altamente lucrativo. As farmácias não serão para os pequenos e médios investidores, que julgam entrar num oportuno retorno de investimento. Como noutros países a experiência demonstra que o verdadeiro "NEGÓCIO" será para três ou quatro grupos de grande dimensão, possivelmente multinacionais, que pacientemente acumularão farmácias, provavelmente a um ritmo de múltiplos de quatro como parece sugerir a proposta em discussão.
Aranda da Silva, jornal de negócios, 19.04.07
A originalidade do caso português: Aprovada a liberalização da propriedade das farmácias nos moldes em que foi proposta por este governo, numa primeira fase, a ANF, à semelhança do que está a acontecer relativamente à concessão das farmácias hospitalares, criará linhas de apoio e de financiamento para os seus associados acumularem grupos de quatro. Numa segunda fase, correspondente a um novo ciclo político de reforço liberal, depois de uma mexida no regime das incompatibilidades, a ANF encarregar-se-à de promover a verticalização do sector. Juntando ao domínio da distribuição a concentração do sector retalhista, com todas as consequências económicas e de acesso ao medicamento resultantes de tal situação.

4 Comments:

Blogger Vladimiro Jorge Silva said...

Pois, é caro Xavier! João Cordeiro bem disse que "ainda haveria de agradecer a CC"!
Iniciou-se agora o processo de completa integração horizontal e vertical das farmácias. E a ANF é claramente o agente mais bem colocado à partida para esta nova era.
A responsabilidade por tudo o que daqui para a frente acontecer terá apenas um nome: António Correia de Campos.

PS - Ainda não percebi como é que há pessoas de esquerda a defenderem o acto mais neoliberal praticado no sector da Saúde nos últimos anos.

12:38 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

A liberalização conduzirá inexoravelmente à concentração de mais poder na ANF.

Embora a ANF não possa ser proprietária de farmácias todos sabemos, desde que haja vontade e capital, como é fácil dar a volta ao texto (incompatibilidades).

12:52 da tarde  
Blogger Qtolomeu said...

Isso se não abrirem mais farmácias.
Se abrirem a ANF implode.
Portanto, só se CC quiser.

2:26 da tarde  
Blogger e-pá! said...

A manutenção dos anunciados privilégios da ANF, só será uma realidade se o Governo não utilizar os instrumentos legais que tem ao seu dispôr...
É outro tipo de "compromisso"... neste caso, com o mercado.

4:21 da tarde  

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