segunda-feira, abril 16

Saúde no Interior


Nos últimos tempos, o Sr. Ministro da Saúde tem insistido na ideia que a cobertura assistencial no Interior do País, está assegurada.
Trata-se, como é fácil de entender, de uma análise sectorial, bastante restritiva, baseada no ratio de médico/habitante.
Não vamos entrar nos movimentos migratórios internos, das freguesias para os concelhos, dos concelhos para a cidades polarizadoras regionais e finalmente destas para os grandes centros urbanos que estão identificados e estudados, e identificam uma progressiva desertificação do Interior.
O MS ao transmitir imagens distorcidas que ofendem a população "resistente" no interior ao processo de desertificação, deveria, antes de prosseguir com as suas concepções sobre demografia médica, no abstracto, observar um indicador do nível de atendimento dos serviços de saúde-a mortalidade infantil.
Sendo a média nacional, em 2001, de 4.8%, verificará haver um desvio padrão nos concelhos do interior para 6.8%.
(in LITORAL/INTERIOR: CLIVAGEM COM SENTIDO? VARIAÇÕES POPULACIONAIS INTER-CENSITÁRIAS NAS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS, Estela Alegria, CCDRN1)
Esta variação não diz nada ao responsável pela pasta da Saúde ou só o "preocupa" a média dos valores pagos por mês a clínicos gerais ?
É-Pá

10 Comments:

Blogger saudepe said...

A taxa de mortalidade infantil (óbitos de crianças com menos de 1 ano de idade por 1 000 nados-vivos) atingiu em 2004 o valor mais reduzido observado em Portugal, situando-se em 3,8‰.
Esta redução da mortalidade infantil contribuiu para o aumento da esperança média de vida à nascença, a qual passou de cerca de 75 anos em 1994 para cerca de 78 anos em 2004 (77 anos em 2003).
Dados do INE.

Não consegui obter dados por região, de forma a confirmar a manutenção da diferença referida pelo É-Pá em relação ao interior do país.

A metodologia sugerida pelo É-Pá parece-me efectivamente a melhor para apurar as desigualdade em termos de saúde, determinadas pela interioridade.

9:28 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Um dos "engulhos" de CC nas negociações entre o MS e autarquias sobre a necessária reorganização das urgências, passa pela dificuldade de compreensão do problema da clivagem Interior/Litoral.
Uma questão eminentemente política - tem sido tratada numa perspectiva demasiado técnica - que está a entrar (CC terá contribuído para isso) na ordem do dia das questões nacionais. Refiro-me à questão da Regionalização.

O slogan: "NÃO AO ENCERRAMENTO DOS SAP's" é, na verdade, uma consequência dessa clivagem, ou melhor, dessas clivagens. Estas não passam exclusivamente pela acessibilidade ou equidade do SNS.
Vão mais além e integram um conjunto de indicadores como o abastecimento de água, o saneamento básico, entre outros.
Há, todavia, um factor que assume particular relevância: o "emprego". Este, a par das infra-estruturas implantadas no terreno, condiciona os fluxos de migração interna (do Interior para o Litoral).
"A "análise
territorial da qualidade de vida e do bem-estar dos indivíduos e dos grupos que
constituem, afinal, o grande objectivo do desenvolvimento" (“Dinâmicas Territoriais: Portugal
na Transição do Século (XX/XXI)” por , Teresa Maria Vieira de Sá Marques, 2002). A análise debruçada sobre a qualidade de vida e do bem estar, não tem sido consideradas ou, melhor, politicamente ponderadas. E nascem aí as assimetrias do desenvolvimento, que indignam as populações do Interior. E, também, passam por aí as assimetrias dos indicadores de desenvolvimento (saúde, incluída).
Generalizando, a potenciação das chamadas "externalidades positivas de base", isto é, a melhoria das acessibilidades e a gestão das infra-estruturas logísticas (os SAP's entram aí), condicionam, a par de uma política de solos, a "competividade" Interior/Litoral.
Portanto, embora as reorganização das urgências seja um importante passo na gestão nacional do SNS, o MS tem de estar atento às sensibilidades (susceptibilidades) do Interior. Não foi o que se passou com o recente artigo de opinião de CC.
O que levou a imprensa regional (do Interior) a considerar a interioridade como se fosse uma "doença".

11:15 da manhã  
Blogger helena said...

Interior
O País tem andado a ver os problemas reais por um “canudo”, pelo que talvez seja tempo de voltar a assentar os pés na terra.

João Paulo Guerra

Por exemplo: o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) tem alguma razão quando acusa o Governo de, por tanto querer “fechar tudo”, qualquer dia encerrar “o Interior do País”. Se olharmos o mapa, certamente que o interior é mais atingido pelo fecho de escolas, de estabelecimentos hospitalares, como agora de tribunais. No litoral ficam as excepções para confirmar a regra.

Mas a devastação abate-se preferencialmente sobre o interior, como tratando-se de um Portugal dispensável, um país descartável, condenado à desertificação. Uma vez desertificado, esse Portugal poderá então cumprir um de vários destinos menores: campos de golfe ou plantações de eucaliptos, vazadouros de entulhos poluentes ou lixeira de produtos tóxicos. Muito meritório, pois algum sítio tem que arcar com a enorme produção de sujidade, e de sujeiras, desta espécie de civilização.

Um tal destino tem, todavia, que dispensar a população. É nessa fase que vamos, por agora. Fecham-se as maternidades, as escolas, os estabelecimentos hospitalares, e está percorrido meio caminho para que o empecilho populacional desampare a loja no espaço de uma geração, começando pelas crianças que nunca mais produzem e pelos velhos que nunca mais morrem.

Mas pronto, não se assustem. Isto é só o argumento de um filme de terror. E nem sequer se trata de um original mas de um argumento adaptado, neste caso por um elenco socialista. E o presidente da ANMP só não tem inteiramente razão porque os do seu partido, quando foi a sua vez de actuarem, desempenharam exactamente o mesmo papel.
JPG, DE 16.04.07

11:22 da manhã  
Blogger Diabo de Saias said...

Boa Noite Meus Senhores:

Venho só aqui dizer que, pese embora as críticas, é o tal especialista em Cirurgia de Ambulatório, que se tornou a charneira técnica de todo este blogue.

Pega em todos os assuntos, discute com os chamados especialistas em gestão de serviços de Saúde, "atacando" todas as áreas de ums forma espantosa.

Deve estar a surgir algum convite para jantar e depois para assessor de alguém do poder.

Menos da ANF ):

8:52 da tarde  
Blogger COSME ETHICO said...

A preocupação com a saúde e o bem-estar da população que vive no interior, ou nas ilhas, só fica bem a qualquer cidadão, muito mais aos políticos. A comunicação social, os representantes da população (autarquias) e dos profissionais de saúde, os partidos políticos e o próprio Ministro da Saúde têm-na evidenciado.

Saúde primeiro…

O artigo publicado por CC no JN (Ideias feitas sobre a interioridade) é um excelente artigo pela informação quantitativa que permite desmistificar acusações de abandono ou menor dotação de recursos em cuidados primários que, por desconhecimento, têm sido publicadas.
A equidade de acesso á saúde, pilar que caracteriza insofismavelmente um SNS, deve medir-se por indicadores de recursos, de utilização e de resultados.

Recursos

Ficou claro que há mais médicos de família no interior que no litoral (considerado) e tal não é de estranhar: decréscimo de população do interior com manutenção dos MF, face a acréscimo populacional no litoral sem crescimento suficiente. Acrescento que o nº de SAP por mil habitantes é também maior no interior do país. Portanto não é por falta de MF que o interior tem problemas de saúde (cuidados primários).

Utilização

Não basta haver recursos é necessário que sejam acessíveis (não haver barreiras, por ex. de custo), estejam disponíveis (ex. horário de funcionamento e sua adequação) e que sejam produtivos (ex. nº actos/habitante). O artigo de CC mostra que o nº avultado de SAP/ mil habitantes (ver quadro) tem fraca utilização no período da noite (Bragança) e que a % de consultas efectuadas nos SAP é muito elevada (26%) – ainda assim não se apresentou informação sobre o nº total de consultas (utilização total).

Para aceder ao quadro de dados clicar a seguinte
LINK


Podemos concluir que Bragança tem, relativamente ao Continente, mais SAP e camas de internamento no CA, bem como mais consultas por habitante. Tem também % de atendimentos não programados 57% superior á média do Continente. Não há iniquidade de acesso a consultas mas verifica-se menor eficiência (tem mais MF por habitante…) e desequilíbrio na distribuição consultas programadas/não programadas. Daqui resulta menor actividade que a possível, menor qualidade e maior custo – o ajustamento da situação é necessário.

Resultados

Havendo justificação, apropriação e qualidade nos actos praticados os resultados mostrarão os benefícios em (saúde e qualidade de vida, custo, satisfação). Ora não existem estatísticas fiáveis (disponíveis) sobre esses benefícios e a mortalidade é um indicador pobre e perigoso:

a)Pobre porque sendo uma situação extrema (rara) não traduz bem os resultados na saúde e na qualidade de vida e muito menos a relação com a actuação de um serviço de saúde apenas (CP).

b)Perigoso porque para ela concorrem variados factores (externos ás consultas de CP): genética, condições sócio-económicas, educação dos pais; qualidade e eficácia da actuação doutros serviços de saúde; disponibilidade e eficácia de actuação doutros serviços de CP (ex. atendimento domiciliário).

Particularmente a mortalidade infantil está bastante relacionada com as condições socio-económicas e educação dos pais bem como com o parto e com os cuidados que lhe são subsequentes. Não podemos aqui deixar de referir a convicção de que a concentração de blocos de partos irá melhorar os resultados (como ocorreu no tempo de Leonor Beleza). Não me parece que a mortalidade infantil seja uma boa aproximação á qualidade dos resultados da actuação de CP, ainda assim gostaria de lembrar que mais tempo para consultas programadas contribuirá para melhores resultados também na área infantil.

Depois a questão do bem-estar…

A sociedade deve preocupar-se em distribuir o bem-estar de modo mais ou menos equitativo, isto é, contribuir para que haja uma distribuição de rendimento e emprego que não crie ilhas de pobreza e exclusão, tanto mais que estas tenderão a provocar movimento acelerador para maior pobreza.

Esta responsabilidade pertence à Sociedade e a todo o Estado e deveria, em minha opinião, assentar em:

- Discriminação fiscal positiva;
- Plano de desenvolvimento integrado para as áreas mais deprimidas;
- Prioridade para atribuição de incentivos para investimentos privados;
- Idem para melhoria da acessibilidade (ex. estradas, caminhos de ferro, internet);
- Idem para apoio e para a melhoria da qualidade e dos resultados dos serviços públicos que se justificarem.

O que não nos parece boa ideia é continuarmos a atirar dinheiros públicos só porque antes isso já se fazia. Muitas vezes esses recursos beneficiam apenas alguns funcionários e serviços, muitos com interesse e qualidade discutíveis.

Em suma: desenvolver o interior e criar condições para que as pessoas não sejam discriminadas mas de modo adequado, não através da mera subsidiação ou do desperdício de recursos que poderiam servir para gerar desenvolvimento sustentado.

11:01 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Diabo de Saias

Compreendo que saia a terreiro em defesa do seu principe encalhado.
É bonito!
Mas pouco inteligente.
Melhor seria deixá-lo continuar a brilhar...
E talvez, assim, numa bela manhã primaveril, saia o almejado despacho e ele... finalmente, desencalhe.

Somos um país sebasteanista.
Proponho ao Xavier a mudança para "BLOGUE SANTEIRO

Que já aconteceram alguns milagres...já. Mas merecidos.

11:13 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

O Xavier deveria coligir um conjunto de procedimentos a que poderá chamar pomposamente "Manual de selecção de assessoria técnica para governantes em apuros".
ou
"Como seleccionar assessores para a governação da saúde".

Se na área do medicamento, CC tivesse vindo buscar alguns dos craques que por aí andam não tinha feito, certamente, as figuras que fez.

11:46 da tarde  
Blogger Unknown said...

É-Pá! Mas quem é que afinal mostra imagens distorcidas! Sejamos sérios! As estatísticas da mortalidade infantil publicadas em 2006 e referentes a 2001-2005, mostram que a mortalidade ifantil em 2005 foi de 3,5/1.000 com valores de 2,0/1.000 Bragança, 1,8/1000 Vila Real, 2,0/1.000 Castelo Branco, 2,2/1.000 Beja, 2,7/1.000 Évora, destoando Guarda com 7,2/1.000 (9 óbitos), Viseu 4,6/1.000(11) e Portalegre 5,0/1.000(5) e 3,5/1.000 para Portugal. Mas se atentar aos óbitos pós-neonatal foram 3, i.e., causas de morte relacionadas com causas externas, condições de vida e ambiente.Os outros foram neonatais. Como todos sabemos nestes valores podem existir algumas variações por serem números pequenos, quamto mais se fossem concelhios. Para o estudo do interior versus litoral recomendo-lhe o estudo da Paula Santana, publicado em Geografia da Saúde. Só quer SAp´s abertos quem não percebe o que é medicina de família e os cuidados de proximidade, os médicos de família e os restantes profissionais devem concentrar a sua actividade na actividade programada de acordo com as características das famílias que atendem e garantir o atendimento não programado da doença aguda por intersubstituição num horário, em regra das 08 às 20 horas, depois pode existir o telefone. Se forem sérios verificariam que 80% dos atendimentos nos SAP ocorrem entre as 08 e as 20 horas, horário de funcionamento normal dos CS, que SAP's de CS do interior fazem médias diárias de SAP 11 a 40 atendimentos em SAP durante o período de funcionamento entre 12 a 24 horas. Atendimentos entre as 22.00 e as 08:00 horas menos de 5 por período. Quanto á referenciação a média nacional para a referenciação para o Hospital não ultrapassa 8 a 10%. Isto é os SAP no interior servem sobretudo para despersonalizar a actividade dos MF e para aumentar os proventos dos profissionais aí destacados, médicos, enfermeiros, administrativos e auaxiliares.
Só por ignorância ou má fé se pode dizer que se está a fechar tudo! Aliás o muito que há para fechar esperemos que CC continue a ter essa coragem, está no litoral entre Lisboa e Braga, sobretudo hospitais como Peniche, 53 camas, 56,5 taxa de ocupação, 215 funcionários, dos quais 40 médicos, ou Anadia 44 camas, 66.0 taxa de ocupação, 201 funcionários dos quais 41 médicos etc.... Peniche 32.349 habitantes 60 funcionários, 17 médicos MGF e ...

2:22 da manhã  
Blogger Diabo de Saias said...

João Pedro

Tenha paciência, mas para si não tenha nada para o gabar.

E mais, julgo que o defeito nem é meu.

9:24 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Avicena:

Como poderia ter visto, se tivesse lido com atenção, eu citei um trabalho de Estela Alegria, patrocinado pela CCDRN, e dizia respeito a dados referentes à mortalidade infantil em 2001.
Se há distorções nos dados terá de responsabilizar outrém. Não é?

As considerações que tece no seguimento quanto aos SAP's, ou melhor, à reorganização das urgências, não me afectam. Desde o início que subscrevi o relatório técnico.
As minhas objecções (relativas) sempre se dirigiram à acção política decorrente, isto é, à pedagogia (informativa), à metodologia e aos timings para a sua aplicação.
O que, terá de concordar, é outro assunto.

1:26 da tarde  

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