CC,
As inflexões da política social do XVII Governo Constitucional
As projectadas “extorsões” sobre os portugueses, sejam crianças, adultos ou de maior idade, “testadas” pelo MS na comunicação social – “como quem não quer a coisa” - não conseguem mascarar, por mais tempo, os malabarismos para esconder as insuficiências orçamentais da Saúde e tornam brutalmente visíveis indesejáveis inflexões da política social deste Governo.
Por outro lado, a exposição política, daí resultante, é demasiado grotesca para ser verdadeira. Mais parece um suicídio.
Não pode, o MS, ter a veleidade de acreditar que ilude o terrível impacto social das inusitadas “prospecções”, recentemente desencadeadas na comunicação social. Para não falar nos irremediáveis danos políticos colaterais.
Os portugueses (e as portuguesas) não podem ser tratados com tiques de menoridade cívica e emboscados a cada esquina, pelo “cobrador de fraque”. Não vale a pena, nem colhe, a estafada mezinha de, a despropósito, esgrimir a milenar dualidade de “ricos” versus “pobres”, sob a capa de combater, no terreno, as desigualdades sociais.
No campo do financiamento das políticas sociais a desejada solidariedade é uma emanação directa da justiça fiscal. Os portugueses são (deviam ser) directamente tributados sobre os seus rendimentos. Se o sistema fiscal for equilibrado e progressivo, como é de justiça, os portugueses com maiores rendimentos, são obrigatoriamente (compulsivamente) contribuintes e, como se sabe, taxados até ao máximo de 42% (IRS) do rendimento colectável. Esta será a diferenciada “contribuição” para o Estado que, a partir daí, executará, de acordo com os princípios doutrinários que informam o poder político, no exercício democrático, as políticas sociais que advoga. Todos – excepto os neo-conservadores e os ultra-liberais - desejamos que sejam equitativas, solidárias e justas.
É aqui que a política entra no vasto campo social, particularmente na área da Saúde.
O financiamento das políticas sociais é, portanto, subsidiário da colecta, na fonte, dos rendimentos. O modelo da sua redistribuição pela sociedade é, como vimos, uma opção eminentemente política.
Uma vez justamente colectado o contribuinte fica na expectativa de ver aplicadas políticas de solidariedade e coesão social.
Mas, a partir daí, o seu contributo está entregue, para ser gerido pela Administração Pública. Não quer ser “incomodado” (compulsivamente, segundo percebi) a cada passo, com novos, especiais e sucessivos “peditórios”. Senão transformamos o Estado num organizador de quermesses.
O que, na realidade, se passa é o Governo não acreditar na existência – para o universo dos portugueses - de uma efectiva justiça tributária. Para colmatar este erro de base é tentado a colocar sucessivos “remendos” a jusante do sistema. Nascem daí as taxas (moderadoras ou de utilização), sob o pretexto de disciplinar o consumo e, concomitantemente, controlar os custos. Vai, com estas medidas, reproduzir as iniquidades que, eventualmente, estarão na base (à nascença) do problema. Todos sabemos que a capacidade de sonegação aos impostos é maior nos “ricos” do que nos “pobres”. E, o Governo, aparentemente impotente no enfrentar das causas remotas, resta-lhe mascará-las como contribuições (impostos) adicionais especiais, visando uma extemporânea correcção, a meio do percurso, dos desequilíbrios sócio-económicos. Mais não faz do que perpetuar as injustiças e penalizar (duplamente) os já cumpridores das obrigações sociais.
O Governo terá de optar. Ou enfrenta os problemas das suas políticas sociais no lugar próprio, i. e., procurando uma justa, equilibrada e progressiva tributação de acordo com os rendimentos dos portugueses, ou envereda pela correcção “a retalho” em cada passo da vida dos seus cidadãos, do tipo das auto-estradas (modelo “utilizador-pagador”) e, nesse caso, tem necessariamente que reequacionar a dimensão e o peso das contribuições na fonte (sede de IRS).
O que não pode é ordenhar, permanentemente, a mesma teta, até a exaustão, porque ela acaba por "secar" ou, então, desiste de amamentar, fugindo, escondendo-se, lubridriando...
E voltamos ao princípio. Ou seja, à iniquidade. Donde o Governo dá mostras de não conseguir descolar, para desespero e desassossego dos portugueses. É isso, o desassossego.
Por que uma outra dualidade que nos incomoda foi exemplarmente descrita por Fernando Pessoa, exactamente no Livro do Dessassossego (!):
"Uns governam o mundo, outros são o mundo."
É-Pá
Por outro lado, a exposição política, daí resultante, é demasiado grotesca para ser verdadeira. Mais parece um suicídio.
Não pode, o MS, ter a veleidade de acreditar que ilude o terrível impacto social das inusitadas “prospecções”, recentemente desencadeadas na comunicação social. Para não falar nos irremediáveis danos políticos colaterais.
Os portugueses (e as portuguesas) não podem ser tratados com tiques de menoridade cívica e emboscados a cada esquina, pelo “cobrador de fraque”. Não vale a pena, nem colhe, a estafada mezinha de, a despropósito, esgrimir a milenar dualidade de “ricos” versus “pobres”, sob a capa de combater, no terreno, as desigualdades sociais.
No campo do financiamento das políticas sociais a desejada solidariedade é uma emanação directa da justiça fiscal. Os portugueses são (deviam ser) directamente tributados sobre os seus rendimentos. Se o sistema fiscal for equilibrado e progressivo, como é de justiça, os portugueses com maiores rendimentos, são obrigatoriamente (compulsivamente) contribuintes e, como se sabe, taxados até ao máximo de 42% (IRS) do rendimento colectável. Esta será a diferenciada “contribuição” para o Estado que, a partir daí, executará, de acordo com os princípios doutrinários que informam o poder político, no exercício democrático, as políticas sociais que advoga. Todos – excepto os neo-conservadores e os ultra-liberais - desejamos que sejam equitativas, solidárias e justas.
É aqui que a política entra no vasto campo social, particularmente na área da Saúde.
O financiamento das políticas sociais é, portanto, subsidiário da colecta, na fonte, dos rendimentos. O modelo da sua redistribuição pela sociedade é, como vimos, uma opção eminentemente política.
Uma vez justamente colectado o contribuinte fica na expectativa de ver aplicadas políticas de solidariedade e coesão social.
Mas, a partir daí, o seu contributo está entregue, para ser gerido pela Administração Pública. Não quer ser “incomodado” (compulsivamente, segundo percebi) a cada passo, com novos, especiais e sucessivos “peditórios”. Senão transformamos o Estado num organizador de quermesses.
O que, na realidade, se passa é o Governo não acreditar na existência – para o universo dos portugueses - de uma efectiva justiça tributária. Para colmatar este erro de base é tentado a colocar sucessivos “remendos” a jusante do sistema. Nascem daí as taxas (moderadoras ou de utilização), sob o pretexto de disciplinar o consumo e, concomitantemente, controlar os custos. Vai, com estas medidas, reproduzir as iniquidades que, eventualmente, estarão na base (à nascença) do problema. Todos sabemos que a capacidade de sonegação aos impostos é maior nos “ricos” do que nos “pobres”. E, o Governo, aparentemente impotente no enfrentar das causas remotas, resta-lhe mascará-las como contribuições (impostos) adicionais especiais, visando uma extemporânea correcção, a meio do percurso, dos desequilíbrios sócio-económicos. Mais não faz do que perpetuar as injustiças e penalizar (duplamente) os já cumpridores das obrigações sociais.
O Governo terá de optar. Ou enfrenta os problemas das suas políticas sociais no lugar próprio, i. e., procurando uma justa, equilibrada e progressiva tributação de acordo com os rendimentos dos portugueses, ou envereda pela correcção “a retalho” em cada passo da vida dos seus cidadãos, do tipo das auto-estradas (modelo “utilizador-pagador”) e, nesse caso, tem necessariamente que reequacionar a dimensão e o peso das contribuições na fonte (sede de IRS).
O que não pode é ordenhar, permanentemente, a mesma teta, até a exaustão, porque ela acaba por "secar" ou, então, desiste de amamentar, fugindo, escondendo-se, lubridriando...
E voltamos ao princípio. Ou seja, à iniquidade. Donde o Governo dá mostras de não conseguir descolar, para desespero e desassossego dos portugueses. É isso, o desassossego.
Por que uma outra dualidade que nos incomoda foi exemplarmente descrita por Fernando Pessoa, exactamente no Livro do Dessassossego (!):
"Uns governam o mundo, outros são o mundo."
É-Pá
8 Comments:
A forma como CC tem conduzido o debate sobre o modelo de financiamento do SNS é digna de todos os reparos.
Em busca da evidência possível encomenda um estudo a um grupo de "peritos" sobre esta matéria.
A discussão do relatório final é congelada a favor de pequenas deixas soltadas pelo líder do grupo, Jorge Simões.
A única ilação possível a tirar desta atitude é que as propostas dos peritos poderão contribuir muito pouco. Ou que CC tem outras medidas na manga para a resolução do problemas.
CC já demonstrou há muito que para o ministro da saúde a solução para a questão do financiamento do SNS é única: ir descartando, sucessivamente, o tendencialmente gratuito, transformando o SNS em tendencialmente pago, por aí fora, até onde for necessário.
É uma espécie do sistema de Quick Wins aplicado ao saneamento financeiro do SNS até à sua destruição final.
O regresso do SNS à política implica, obrigatoriamente, a substituição do ministro da saúde do XVII Governo Constitucional, António Correia de Campos.
CC não é um político.
É um provocador.
CC gosta de aparecer, surpreender, contradizer,especular, arriscar.
O ministro da saúde prepara com algum cuidado as decisões, para deitar tudo a perder à primeira aparição nos órgãos de comunicação.
Esta de discriminar as criancinhas em função do rendimento dos pais não lembra o diabo.
O que há certamente a fazer é a certificação se os pais das criancinhas ricas pagaram ou não os impostos que deviam pagar.
Mas o nosso ministro parece antes empenhado em empurrar os cidadãos portugueses para as seguradoras e os cuidados de saúde privados.
Um cromo do jornalismo nacional
Manuel Gonçalves, editor adjunto, publica um artigo no JN com o título: “Governo fecha urgências de hospitais premiados” link
No desenvolvimento, MG refere, entre outros mimos, o seguinte:
a) em Outubro o Governo vai encerrar os serviços de urgência, entre outros, dos hospitais de Cantanhede e de Anadia, depois de já ter fechado, no horário nocturno, uma série de Serviços de Atendimento Permanente (SAP) nesta mesma região.
Como resultado desta decisão os hospitais centrais como os da Universidade de Coimbra (HUC), onde para se ser atendido num episódio de urgência de gravidade média chega a ser necessário aguardar cinco longas horas. E quem ousar desmentir este facto, está a ser intelectualmente desonesto.
Intelectualmente desonesta é a análise do jornalista.
b) Correia de Campos, que parece ter na sua cabeça uma máquina registadora, comprada ao Tio Patinhas, (sic) parece ver nos fechos de urgências e de SAP uma forma inteligente (?) e rápida de poupar dinheiro aos cofres do Estado, mesmo que, para isso, tenha indiscutivelmente que sacrificar a saúde... dos outros.
A saúde dos...outros?
Esta é digna do Gato Fedorento!
c) hospital de Anadia, que ainda recentemente foi acreditado pelo The Health Quality Service (organismo britânico de referência na distinção da qualidade de hospitais em todo o Mundo).
Para MG a acreditação é um prémio, daí referir no título “hospitais premiados”.
Só se for pelo dinheiro que custa!
Um verdadeiro cromo este MG!
Das duas uma:
Ou as taxas moderadoras são abolidas; ou são abolidas as isenções para os menores de doze anos, se integrados em famílias não isentas (face ao rendimento e outra condições que concedam a isenção).
Tonitosa:
Já ouviu falar da figura da "derrogação"?
Estão abolidas as isenções.
Adenda:
estão abolidas isenções, para a população-alvo em causa - menores de 12 anos.
O texto "Governo fecha urgências de hospitais premiados" aqui citado por "tambemquero" é um excelente exemplo da opinião publicada como o objectivo de "criar ambiente" contra CC e o governo socilaista. Vejamos o Hospital José Luciano de Castro - Anadia, abrange um concelho com 31.671 habitantes acerca de 29 km de Coimbra (30 minutos), dispõe de 41 médicos, 63 enfermeiros num total de 196 profissionais, 6 milhões de euros de orçamento, uma chamada Urgência médico-cirúrgica, 24 horas, que em 2005 fez 41.386 urgências ( 88% para o domicílio, 8.4% transferidas e 3% internamentos, 44 camas, com uma taxa de ocupação de 66% e uma demora média de 6.2. Fez 595 cirurgias (496 convencionais) e 12.139 consultas. Mas a Anadia também tem um CS com 20 médicos, 24 enfermeiros num total de 90 profissionais que até Outubro de 2006 também tinha um SAP de 24 horas em Sangalhos, que realizou em 2005 cerca de 15.000 atendimentos. Como se pode perceber não será à falta de recursos que a população da Anadia não terá bons indicadores de saúde.
Perante os factos seria de esperar que a imprensa mesmo a não especializada, procurásse informar os cidadãos e questionar o Estado, sobre a irracionalidade na alocação de recursos, ou por em causa o funcionamento dos serviços excessivamente virados para a urgência (+ de 55.000 atendimentos em SAP para uma população de 31.000 habitantes, com um reduzido n.º de internamentos ou de transferências.
Mas ou por ignorãncia ou má fé o articulista diz " ... Governo, particularmente o senhor ministro da Saúde, Correia de Campos, não sabe, nem imagina, as consequências de tão desastrosa decisão. Não sabe, nem calcula o mal que vai fazer, sobretudo, às populações mais carenciadas, que nem dinheiro têm para pagar as taxas moderadoras dos hospitais, quanto mais para suportar viagens de táxi e outras despesas decorrentes de longas horas de espera em "trágicos" hospitais centrais como os da Universidade de Coimbra (HUC), onde para se ser atendido num episódio de urgência de gravidade média chega a ser necessário aguardar cinco longas horas. E quem ousar desmentir este facto, está a ser intelectualmente desonesto."
Assim se constroe opinião, assim se alimenta a ignorância e as sondagens de opinião.
Aqui está mais uma prova do controlo do Governo dos "orgãos de comunicação social".
E há ainda alguns entre nós que utilizam os mesmos argumentos se bem que mais rebuscados mas sempre no "bota abaixo".
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