domingo, maio 20

A política deve voltar à Saúde



«É tempo da política voltar à saúde», dizia, há uns dias, um ex-Ministro da Saúde. Concordo. Sobretudo se tivermos em conta, os malefícios que a Economia da Saúde, e os economistas da saúde estão a provocar à saúde dos portugueses, com a pretensão de estarem a salvar a pátria. Até este blogg já se deixou levar pela onda. De há uns tempos a esta parte, o blogg tornou-se asséptico, «técnico», «economista da saúde». Para isso têm contribuído os textos do SemMisericórdia e do Aidenós, que, sendo excelentes, têm desviado a discussão dos problemas da saúde, para o domínio dos especialistas da economia da saúde. Nem só de economia da saúde vive o homem. Antes disso, vive da própria saúde. E a saúde dos portugueses está claramente a piorar, em todos os aspectos. Nenhum ganho se conseguiu com este Ministério e muitos malefícios já redundaram da sua acção: a centralização das urgências, o fecho das maternidades, a política dos medicamentos, as taxas moderadoras no internamento e no ambulatório são alguns dos exemplos mais flagrantes do que tem sido uma política virada contra as populações, em especial contra os pobres. As pretensas medidas estruturais inovadoras, caso das USF e das Unidades de Cuidados Continuados, não se vêm, ao fim de dois anos de actividade e ninguém sabe no que vão dar. Uma coisa é certa, não vão dar melhor saúde, nem vão desagravar os problemas económicos do SNS, podem ter a certeza (eles já estão a dar conta disso).
A Saúde continua à deriva, tal como o Governo, embora pareça (queiram fazer parecer) que não. O Governo já deu conta, porém, de que não vai chegar a lado nenhum, em área nenhuma. Daí estarmos a entrar, claramente, numa segunda fase, que o PSD - e bem - já diagnosticou como de claustrofobia democrática. O Governo, aqui incluídos os diferentes Ministros e os seus aparachiks (homens do aparelho), tem vindo a demonstrar tiques de verdadeiro comportamento ditatorial, de tipo estalinista. A publicação do Manual da Delação, por Alberto Costa, a perseguição ao Prof. de Inglês da DREN, as últimas mexidas nos hospitais, desde os HUC a Barcelos, mostram bem que o país está a caminhar a passos largos para um Pântano Negro. Leia-se a crónica de hoje, domingo, no Jornal Público, de Vasco Pulido Valente (VPV), onde se pode ler que «para quem não saiba, isto não sucedia durante a própria Ditadura, que não perseguiu ninguém por “um comentário jocoso” sobre Salazar». Diz VPV, citando Pacheco Pereira e José Manuel Fernandes que o ar que se respira em Portugal é um ar de subserviência, oportunismo, intimidação e medo». Um ar que, segundo Pacheco Pereira, não se respirava no Portugal do Século XIX e, segundo José Manuel Fernandes, não se respira agora em Inglaterra».
A incompetência esconde-se por detrás da arrogância, do autoritarismo, da tentativa de intimidar.
O que é preocupante é que quem está a dar início à execução desta nova estratégia são os Ministros que têm vivo à sombra de uma auréola de «lutadores anti-fascistas» (Alberto Costa e António Correia de Campos) e pior ainda é que o mal já está a entranhar-se, de novo (era assim no tempo da PIDE e da delação) no aparelho (vejam que até um senhor deputado, Pizarro de seu nome, ou Bizarro?, veio defender a punição do homem da anedota) e não tardará temo-lo espalhado na sociedade. Irão ser mais trinta anos?
Pedro

7 Comments:

Blogger ochoa said...

Sempre desconfiei que a maioria socialista iria dar nisto: Portugal transformado num país de bufos !

12:12 da manhã  
Blogger J.F said...

Excelente análise digna de ser divulgada...

Nem a ideologia, nos nossos dias, consegue sobreviver ao poder económico... e a saúde não foge à regra.

12:32 da manhã  
Blogger Clara said...

Este tipo de análise faz-me lembrar um dos melhores tribunos que passou aqui pela SaudeSA.

12:37 da manhã  
Blogger Unknown said...

" O uso demagógico ou sofista da retórica não nega o carácter retórico da democracia"

À pala da política voltar à saúde, aqui temos um texto de "análise" a mim parece-me mais de "agitprop", mistura tudo um pouco, afirmações não fundamentadas, invenções, numa embalagem radical, justiçeira, quanto baste contra o Governo e os "malvados estalinistas, delatores" socialistas. Ora vejamos: 1.º a saúde dos portugueses está claramente pior, em todos os aspectos! Mas quais? esperança média de vida à nascença? aos 65 anos? mortalidade infantil e as suas componentes? mortalidade por DCV ou DC? por grandes causas etc...(em 2 anos?!);2.º nenhum ganho se conseguiu com este MS mas muitos malifícios! Centralização das urgências - devia era dizer quais, as que se alimentam de recursos pouco qualificados, sem casuística e sem qualificação, porta aberta 24 horas alimentando profissionais com base em trabalho extraordinário; maternidades - encerraram as que chegavam a ter 50% de cesarianas e um quadro de pessoal reduzido, pioraram os indicadores ?! Não; as taxas moderadoras - 1% do orçamento. Política virada contra os mais pobres, ah! ah!. Então os mais pobres não estão isentos!!
O Governo tem um programa que está a cumprir, goste-se ou não, foi aprovado pelos portugueses. 1.ª prioridade o PNS, estão publicadas as recomendações para AVC e EAM, a rede DCV está para breve e as vias verdes estão a implementar-se (valeria apena o XAVIER dar a conhecer os indicadores publicados pelo alto-comissariado no que se refere à produção nesta área e perceber se aqui também não se deve requalificar!), deram-se passos fundamentais no P. Oncológico e nas recomendações terapêuticas (coordenadas pelo João Oliveira), o PN Contra a Sida está aí, a rede da saúde mental vai entrar em discussão pública. Criaram-se 800 camas de cuidados continuados, dentro de dias serão anunciadas mais, as USF estão aí 64 em funcionamento, reforma apoiada pelos profissionais mais reconhecidos e dedicados.
Quanto à segunda parte, tratasse afinal de opinião daquela, que tantas vezes repetida corre o risco de se tornar verdade. "claustrofobia democrática" , controlo da comunicação social por parte do governo pelas penas abalizadas de Pacheco Pereira, JMF. Quanto à afirmação de VPV no Público só quem o não conhece ou não conheceu Salazar, a Pide ou o fascismo pode acreditar naquilo que VPV escreveu. Se calhar nem ele póprio a esta hora, bastará ler o BI de Maria Filomena Mónica para compreender VPV. Mas voltando à "claustrofobia democrática"
Mas existe algum indício disso? O que se vê (eu vejo) é a crescente hostilidade dos media controlados ferozmente pelo poder económico contra o governo! Não é evidente que poucas vezes a RTP e a RDP terão sido tão pouco controlados pelo Governo como são hoje? O que é preocupante é que à falta de melhor se repitam opiniões não fundamentadas até as tornar verdadeiras.

2:16 da manhã  
Blogger naoseiquenome usar said...

Caro Avicena: Quando decidir escrever com as palavras dos outros (o seu último parágrafo é copy-paste do post de Vital Moreira), ponha aspas!

12:30 da tarde  
Blogger Pedro said...

Os votantes do Saudesa, até agora, parecem estarem alinhados com o sentir da população portuguesa relativamente ao mau desempenho do Ministério da Saúde. Segundo os resultados de uma sondagem feita pela Universidade Católica e hoje publicada na imprensa, verifica-se o seguinte: 76% dos inquiridos acham que na área da Saúde, este Governo tem tido um péssimo desempenho. 75% está contra a introdução das taxas moderadoras no internamento e na cirurgia do ambulatório, 77% está contra os fechos das maternidades, 83%está contra o encerramento e a concentração das urgências. Se vivemos em democracia (ainda) e a voz do povo vale alguma coisa, temos de concluir que todas as «reformas» de António Campos têm sido, até agora, um desastre político. Como se mede o desempenho de um político? Se se mede pelo nível de popularidade das medidas que toma, então só há uma conclusão: António Campos...OUT!. Continua a esbanjar-se, continuam a tomar-se medidas sem nexo, o nepotismo político continua a campear por aí, muitas medidas necessárias continuam sem ver luz (que Acordo Colectivo de Trabalho, que sistema de carreiras médicas, que medidas têm sido tomadas para motivar os funcionários da saúde, porque está o sector privado a investir cada vez mais na área hospitalar, o que lhes tem sido prometido, que segredos estão escondidos por detrás da ausência de estratégia de informática da saúde, porque se fala tanto, descaradamente até agora, em surdina no futuro próximo, não vá o diabo tecê-las, de ligações estranhas nesta área às gentes dos negócios, etc.) Se o Governo tem a popularidade que tem apesar da desastrosa gestão na saúde e na educação, que popularidade não teria com ministros competentes? Um Ministro é um gestor político e como tal deve ser avaliado, e não um gestor económico. Um desastre, pois claro. Nota do Professor Marcelo: 8 valores, sem direito a oral. Toma e embrulha!

9:56 da tarde  
Blogger cotovia said...

O Canas Mendes já anda por aqui?

12:42 da manhã  

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