RRH de Oncologia
No plano oncológico a situação presente é bem complicada.
Existe no papel um Plano Oncológico Nacional (PON),link que para sermos sintéticos, coordena a evolução da doença oncológica no País em todas as suas fases (a começar nos rastreios e a terminar nos cuidados paliativos).
Depois para integrar este Plano nas instituições, bem como para acompanhar a sua execução (o PON integra tem objectivos plurianuais), existem as Comissões Oncológicas Regionais (COR) que, na prática, mantêm uma olímpica inactividade.
Tal situação provoca intervenções a diversos níveis sem um fio condutor. No terreno há uma vontade que nunca esmorece. A apetência pela liderança dos IPO’s.
Existe no papel um Plano Oncológico Nacional (PON),link que para sermos sintéticos, coordena a evolução da doença oncológica no País em todas as suas fases (a começar nos rastreios e a terminar nos cuidados paliativos).
Depois para integrar este Plano nas instituições, bem como para acompanhar a sua execução (o PON integra tem objectivos plurianuais), existem as Comissões Oncológicas Regionais (COR) que, na prática, mantêm uma olímpica inactividade.
Tal situação provoca intervenções a diversos níveis sem um fio condutor. No terreno há uma vontade que nunca esmorece. A apetência pela liderança dos IPO’s.
Mesmo esta situação entrou em perturbação. A empresarialização (EPE’s) da maioria dos HH’s e de todos os IPO’s. Os CA’s preocupam-se com os orçamentos, com as “contas” a prestar, querem lá saber de objectivos dos PON’s. Em objectivos, programas e contratos, já estão eles afundados…
Mas todo, este “dolce fare niente” começa nas estruturas de topo. O Conselho Nacional de Oncologia na dependência directa do MS, enferma de vários handicaps. A começar pela sua composição que não traduz o esforço nacional das díspares instituições pelo País, quer na prevenção, quer investigação, quer no tratamento da doença oncológica. Depois, reúne quando calha e é perito usar as suas competências de forma incipiente. O melhor, quando as coisas se complicam, é deixá-las entregue aos IPO’s.
E os IPO’s, parecendo que sim, não são, na realidade, estruturas homogéneas. Estão pejados de questiúncas internas e de rivalidades regionais.
E os IPO’s, parecendo que sim, não são, na realidade, estruturas homogéneas. Estão pejados de questiúncas internas e de rivalidades regionais.
Actualmente, surge um novo “parceiro” que, para já, equipou-se e vai explorar o ambiente emocional que rodeia a doença oncológica, para “impor”, ao MS, contratualizações, nesta área.
Por último, há enormes “susceptibilidades” entre os HH’s, nomeadamente os HH Centrais, e os IPO’s, não resolvidas e que podem ser agravadas com manutenção das “plataformas” da RRH de Oncologia.
É neste campo “minado” que o Dr. Joaquim Gouveia vai ter que se movimentar.
Só, a título de exemplo, vamos olhar, para uma “pequena” questão da RRH de Oncologia. Esta apoia-se em 3 plataformas de actuação no âmbito dos cuidados oncológicos. A sua definição e o seu escalonamento – não as plataformas em si mesmas – foram sempre polémicas.
Tudo começa pelos 3 escalões: A,B e C. Mas antes de tudo, mesmo sem qualquer tipo avaliação de equipamento, diferenciações de recursos técnicos e científicos e qualificação de recursos humanos, etc., os IPO’s “auto-classificam-se” na plataforma A. Provavelmente, cabiam todos lá e esse não é o problema. O busílis é que depois de entrarem nessa plataforma – fecharam a porta!
E assim temos TODOS os HH’ Centrais do País na plataforma B, excepto os HUC que, permanecendo na mesma plataforma (B), foi premiado com asterisco (B*), sugerindo que um dia poderá ascender.
Se fizermos um pequeno exercício, tendo por base o próprio relatório da RRH de Oncologia, incidindo sobre um aspecto parcelar do movimento assistencial – nºs totais de episódios de internamento por diagnóstico principal de neoplasia - deparamo-nos com a seguinte paisagem:
PORTO:
IPO - 4.067
H São João - 3.610 + H Santo António – 2.231 = 5.841
COIMBRA:
IPO - 2.390
HUC 4.723 + CHC 1.224 = 5.947.
LISBOA:
IPO - 4.440
H Santa Maria – 3.660 + H São José - 1.658 +
+ H dos Capuchos - 1647 + H do Desterro - 1.739
+ H Curry Cabral - 1.066 + H Egas Moniz - 1.255
+ H Pulido Valente - 1.232 = 12.165
TOTAIS de episódios de internamento por neoplasias (no País):
IPO’s - 8.847
HH’s Centrais: 23.953
Temos aqui uma “pálida” ideia da distribuição, no vector considerado, do “esforço oncológico” por este País fora. Mas só 3 instituições estão no fim de linha – os IPO’s.
Várias perguntas se impõem:
- Porque os HH’s Centrais não estão creditados na plataforma A?
- As instalações, o equipamento, a diferenciação técnico-científica, o movimento assistencial, o treino oncológico daí advindo, etc., não são suficientes, não justificam?
- Posterga-se essas movimentações de plataformas para as ARS’s ou melhor encarregam-se as letárgicas Comissões Oncológicas Regionais de propor à Direcção-Geral da Saúde a inclusão dos Hospitais Centrais na plataforma A.
Caro Dr. Joaquim Gouveia, não seria prioritário resolver esta questão, já? Não desanuviaria o ambiente?
Claro, que o relatório, de algum modo, prevê estas “susceptibilidades”, e adianta quanto às plataformas:
“Têm perfis de actuação definidos, e quando as necessidades exigem outro perfil de intervenção deve estar bem fixado a que plataforma recorrer. Não existe uma relação hierárquica entre as plataformas, mas, antes, uma relação de complementaridade em que cada uma tem um perfil de intervenção determinado pela prevalência dos problemas que trata e pelo grau de diferenciação que possui.”
Desvaloriza-se o escalonamento, esconde-se a hierarquização e vamos todos falar em complementaridade. Numa “boa”!
Na verdade o problema é outro.
É o acesso a fundos para a investigação clínica, os ensaios clínicos, o desenvolvimento e a avaliação de novas tecnologias que, na prática, ficam adstritas às instituições da Plataforma A (IPO’s).
Uns trabalham, outros colhem benesses, equipam-se, desenvolvem-se, modernizam-se. Sistemas baseados nestas iniquidades nunca foram produtivos.
Além de, num futuro a médio prazo, estes “bloqueios” trazerem no bojo a degradação da qualidade dos cuidados oncológicos nos HH’s Centrais.
A falta de equidade e de transparência em questões, aparentemente, de pequena monta – como é o caso do bloqueio do acesso à plataforma A – podem, indirectamente e paulatinamente, trazer pesados danos aos doentes oncológicos.
O que, em meu entender, seria a última coisa desejável para a RRH de Oncologia. Já basta o pesado objectivo de aumentar em 10% a taxa de sobrevivência (5 anos).
Declaração de interesses:
Tenho a absoluta convicção que o Dr. Joaquim Gouveia é conhecedor das questões que acabo de expor neste comentário. Fi-lo com sentido de o incentivar a actuar.
De resto, este comentário deve ser entendido como um justo reconhecimento para um ilhéu que se tem distinguido na Oncologia e que, na adolescência, tive o prazer de compartilhar os bancos do Liceu Jaime Moniz (Funchal). Agrada-me vê-lo trabalhar nas funções em que está investido, mas tal facto não me coíbe de manter um olhar atento (crítico e/ou de aplauso) sobre os problemas da Oncologia portuguesa.
É neste campo “minado” que o Dr. Joaquim Gouveia vai ter que se movimentar.
Só, a título de exemplo, vamos olhar, para uma “pequena” questão da RRH de Oncologia. Esta apoia-se em 3 plataformas de actuação no âmbito dos cuidados oncológicos. A sua definição e o seu escalonamento – não as plataformas em si mesmas – foram sempre polémicas.
Tudo começa pelos 3 escalões: A,B e C. Mas antes de tudo, mesmo sem qualquer tipo avaliação de equipamento, diferenciações de recursos técnicos e científicos e qualificação de recursos humanos, etc., os IPO’s “auto-classificam-se” na plataforma A. Provavelmente, cabiam todos lá e esse não é o problema. O busílis é que depois de entrarem nessa plataforma – fecharam a porta!
E assim temos TODOS os HH’ Centrais do País na plataforma B, excepto os HUC que, permanecendo na mesma plataforma (B), foi premiado com asterisco (B*), sugerindo que um dia poderá ascender.
Se fizermos um pequeno exercício, tendo por base o próprio relatório da RRH de Oncologia, incidindo sobre um aspecto parcelar do movimento assistencial – nºs totais de episódios de internamento por diagnóstico principal de neoplasia - deparamo-nos com a seguinte paisagem:
PORTO:
IPO - 4.067
H São João - 3.610 + H Santo António – 2.231 = 5.841
COIMBRA:
IPO - 2.390
HUC 4.723 + CHC 1.224 = 5.947.
LISBOA:
IPO - 4.440
H Santa Maria – 3.660 + H São José - 1.658 +
+ H dos Capuchos - 1647 + H do Desterro - 1.739
+ H Curry Cabral - 1.066 + H Egas Moniz - 1.255
+ H Pulido Valente - 1.232 = 12.165
TOTAIS de episódios de internamento por neoplasias (no País):
IPO’s - 8.847
HH’s Centrais: 23.953
Temos aqui uma “pálida” ideia da distribuição, no vector considerado, do “esforço oncológico” por este País fora. Mas só 3 instituições estão no fim de linha – os IPO’s.
Várias perguntas se impõem:
- Porque os HH’s Centrais não estão creditados na plataforma A?
- As instalações, o equipamento, a diferenciação técnico-científica, o movimento assistencial, o treino oncológico daí advindo, etc., não são suficientes, não justificam?
- Posterga-se essas movimentações de plataformas para as ARS’s ou melhor encarregam-se as letárgicas Comissões Oncológicas Regionais de propor à Direcção-Geral da Saúde a inclusão dos Hospitais Centrais na plataforma A.
Caro Dr. Joaquim Gouveia, não seria prioritário resolver esta questão, já? Não desanuviaria o ambiente?
Claro, que o relatório, de algum modo, prevê estas “susceptibilidades”, e adianta quanto às plataformas:
“Têm perfis de actuação definidos, e quando as necessidades exigem outro perfil de intervenção deve estar bem fixado a que plataforma recorrer. Não existe uma relação hierárquica entre as plataformas, mas, antes, uma relação de complementaridade em que cada uma tem um perfil de intervenção determinado pela prevalência dos problemas que trata e pelo grau de diferenciação que possui.”
Desvaloriza-se o escalonamento, esconde-se a hierarquização e vamos todos falar em complementaridade. Numa “boa”!
Na verdade o problema é outro.
É o acesso a fundos para a investigação clínica, os ensaios clínicos, o desenvolvimento e a avaliação de novas tecnologias que, na prática, ficam adstritas às instituições da Plataforma A (IPO’s).
Uns trabalham, outros colhem benesses, equipam-se, desenvolvem-se, modernizam-se. Sistemas baseados nestas iniquidades nunca foram produtivos.
Além de, num futuro a médio prazo, estes “bloqueios” trazerem no bojo a degradação da qualidade dos cuidados oncológicos nos HH’s Centrais.
A falta de equidade e de transparência em questões, aparentemente, de pequena monta – como é o caso do bloqueio do acesso à plataforma A – podem, indirectamente e paulatinamente, trazer pesados danos aos doentes oncológicos.
O que, em meu entender, seria a última coisa desejável para a RRH de Oncologia. Já basta o pesado objectivo de aumentar em 10% a taxa de sobrevivência (5 anos).
Declaração de interesses:
Tenho a absoluta convicção que o Dr. Joaquim Gouveia é conhecedor das questões que acabo de expor neste comentário. Fi-lo com sentido de o incentivar a actuar.
De resto, este comentário deve ser entendido como um justo reconhecimento para um ilhéu que se tem distinguido na Oncologia e que, na adolescência, tive o prazer de compartilhar os bancos do Liceu Jaime Moniz (Funchal). Agrada-me vê-lo trabalhar nas funções em que está investido, mas tal facto não me coíbe de manter um olhar atento (crítico e/ou de aplauso) sobre os problemas da Oncologia portuguesa.
É-Pá
1 Comments:
Hoje em dia o combate à doença do cancro baseia-se em campanhas de rastreio para detecção precorse da incidência da doença e no tratamento com utilização de alta tecnologia (quimioterapia, radioterapia).
Muitos dos centros hospitalares de tratamento do cancro são meros distribuídores de medicação (reduzida cirurgia, sem radioterapia e fracas condições para a quimioterapia)
O Centro hospitalar de Cascais não faz parte da rede de referência.
Como aconteceu noutros hospitais do serviço de medicina emergiu um núcleo "especialzado" de tratamento da doença.
O serviço não possui condições para tratamento eficaz dos doentes.
O contrato do novo hospital não prevê esta especialdade.
O ministério da saúde devia ter decidido há muito sobre esta matéria.
Sem saber o que fazer deixou arrastar indefenidamente o problema.
Agora CC vai ser forçado a decidir sobre brasas. A ceder aos ditos interesses locais. Em nome dos "doentinhos". A dinamitar o contrato de parceria com os HPP.
Que não deixará de aproveitar a oportunidade para conseguir importantes vantagens.
É assim a qualidade da nossa governação da saúde.
Depois queixam-se das receitas fiscais.
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