sexta-feira, julho 25

Em defesa da Saúde


de todos os Portugueses.

O especial Visão não resistiu às habituais parangonas: “Duelo da Saúde”. E fez acompanhar (quanto a mim erradamente) a excelente entrevista da ministra da saúde do depoimento, recolhido dias antes, dos “patrões” privados, "descontentes pela viragem à esquerda da pasta da Saúde." link
Com respostas curtas e objectivas, Ana Jorge resistiu serenamente ao matraquear das perguntas repetitivas, conseguindo desarmar com facilidade a ideia de “Duelo ao Sol” e reafirmar de forma clara o empenho e justeza das suas medidas em defesa da saúde de todos os portugueses.

Os administradores dos grupos privados acusam-na de ser ministra do SNS e não da Saúde.
Sou uma ministra da defesa da saúde das pessoas. É aí que me situo. Tenho de garantir cuidados de saúde a toda a população.

É verdade que o SNS prefere enviar doentes para o estrangeiro a deixá-los tratar nos hospitais privados?
Não. Se tenho de fazer um tratamento e não tenho capacidade, não vou mandar o doente para Espanha ou França havendo possibilidade de o fazer em Portugal. Mas é evidente que se tenho capacidade de resposta no SNS, acho que a tenho de usar.

Recorrer ao privado só quando não há capacidade é uma opção ideológica?
Se tenho um SNS que é pago pelos impostos de todos, tenho obrigação de defender a gestão dos dinheiros públicos. Se consigo melhorar o funcionamento de um serviço, estou a defender o interesse de toda a gente e o dinheiro que descontam nos impostos. Mas posso não ter capacidade – e não tenho em áreas que estão identificadas – de resolver, no SNS, alguns problemas. Vamos contar, e muito, com o sector privado.

Tem sido ríspida em relação aos privados. Lamentou o acordo da ADSE com o Hospital da Luz, disse que nunca iria a um privado se tivesse um acidente grave...
Se tivermos um acidente grave onde é que vamos? Ao público! Foi isso que eu respondi. Se eu tiver um acidente grave, se tiver uma patologia muito complexa é ao sector público que recorro. Os privados não estão preparados para isso. Estes serviços têm de estar, para defesa das pessoas, dentro do sector público. Mas temos desenvolvido as convenções noutras áreas e estamos a fazer parcerias com os privados nos cuidados continuados. Tem sido excelente.

Essa crítica ao acordo tem a ver com a sua postura em relação ao SNS? Já defendeu várias vezes que primeiro deve esgotar-se a sua capacidade...
Quanto mais usar a capacidade instalada, mais doentes trato e mais barato fica. Se o SNS é o garante de cuidados de saúde a toda a população, tenho de o manter suficientemente forte para que ele possa sobreviver. Isso não quer dizer que seja um combate ao sector privado. Eu tenho é de defender o SNS.

Incentivos de 28 milhões de euros, no caso da oftalmologia, não fomentam artificialmente as listas de espera?
Não. Todos os serviços que entraram neste programa tiveram de aumentar a produção 10, 20 e 30%, quer em cirurgias, quer em consultas. Só depois disso é que podem ter incentivos.

Isso é que é uma política de saúde de esquerda?
Não sei. É uma política de saúde em favor das pessoas, quer dos cidadãos, quer dos profissionais. Essa é de certeza. Consigo tratar mais pessoas e os profissionais também se sentem mais compensados pelo seu trabalho. Se é de esquerda ou direita, não sei. É irrelevante.

Mas não deixa de ser injusto que uns tenham liberdade de escolha e outros não?
É. Mas também tem as suas vantagens. Garante que quem não pode escolher, também tem acesso.
Excertos da entrevista da ministra da Saúde, Ana Jorge, Visão, 24.07.08

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5 Comments:

Blogger Clara said...

Excelente.
Com excepção do ponto sobre as parcerias.
Temos Ministra!

2:44 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Finalmente, chegou a política como pedra de toque para o MS orientar e tomar decisões e manter posições.

Embora a ministra mostre algum constrangimento nas andanças politicas (ou politiqueiras) da capital, mostrou - em declarações autónomas e clarividentes - uma solidez inultrapassável na defesa do SNS, que deve impressionar o sector privado.

Este começa a divagar.

- É o crime de defender o "serviço estatal" e não "a saúde de todos os portugueses"...
Falar deste modo para uma ministra que dirige um serviço público universal ... é pura rábula de café, e tanto mais grave quando o sector privado mostra à saciedade problemas em garantir a equidade;

- A Lei de Bases da Saúde (o sector privado adora este documento sendo frequente a ida a este recurso) porque considera que a referida Lei abre-lhe as portas a um “mercado da Saúde” e assim ficasse revogada a Constituição da República !

- Só faltou rematar a conversa daquele unido grupo de prestadores com aquele famoso epíteto: “A Bem da Nação”.

Ah! Neste exercício de actividades privadas de Saúde, acusado de ser torpedeado e bloqueado pelo Governo e particularmente a Ministra, a facturação aproximou-se dos 800 milhões de euros (sem contar com o Amadora-Sintra, problema que CC pensou em chamar auditores estrangeiros).
Não é mau para começo de vida. No último ano (2006-2007) cresceram mais de um terço. Parece que nunca chega.

Já que, timidamente,começamos a falar de dinheiro, (grande parte do tempo falamos de interesse público, etc.) e afirmamos representar 25 a 30% das prestações dos cuidados de Saúde seria interessante saber qual o tecto a atingir: 50%, 75%, ?

Na verdade, onde a APHP (Associação Portuguesa de Hospitalização Privada) falou muito do interesse publico, (diria melhor, publicitado), insistiu na “coisa pública” e só umas esparsas referências à sua verdadeira razão de existência ( o lucro no mercado da Saúde).

Um orçamento de 9 mil milhões de euros, não pode andar por aí à boa vida.

E, com esta me vou. Para férias ….

8:24 da manhã  
Blogger Tá visto said...

Concisa e precisa. Muito bem Senhora Ministra, oxalá tenha suporte político para dinamizar o SNS.

8:55 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Em defesa da Saúde, parece-me interessante o que escreveu n'O Primeiro de Janeiro" em 23 de Julho, Artur Osório Araújo.
Disse o seguinte:

"Anda no ar, que há falta de médicos e que, as instituições de saúde: públicas e privadas do sector social, "roubam" profissionais uns aos outros. Para além do exagero da expressão, esta encerra em si uma visão preversa de quem parametriza o seu raciocínio por uma cultura estatista que, há muito, ruiu numa Europa desenvolvida.
Salvo numa ou noutra área, temos o ratio de médicos equivalente à generalidade dos países desenvolvidos. Mas, quando a desorganização é grande e assente em modelos planificados de função pública, faltam sempre recursos.
....
Os fundamentalistas que defendem que os cursos de medicina e a formação pós-graduada, custa muito deinheiro ao Estado, pelo que acham legítimo que este levante dificuldades ao fluxo de técnicos, esquecem-se que todo o investimento feito na valorização de recursos humanos reverte a favor do País e dos seus cidadãos, independentemente do local onde trabalham e da entidade que servem.
Que dirão esses mesmos zeladores da coisa pública, quando milhares de médicos se estão a licenciar no estrangeiro, à custa do orçamento das suas famílias e amamhã, vão enriquecer o mercado de trabalho da saúde?
....
Uma vez mais, na saúde estatal, surgem "bons" exemplos de prática de gestão! Unidades hospitalares que acumulavam razoáveis prejuízoz, de repente e sem produzirem mais actos de saúde ou praticarem racionalização de gastos, passaram a exibir lucros, para gaudio das submissas administrações. Quando o patrão que também é cliente e prestador de serviços hospitalares, pratica toda a engenharia criativa, para pagar melhor cada serviço que compra aos hospitais públicos e desta maneira equilibrar os deficits das instituições, diz bem a natureza das empresas que são os Hospitais Públicos.
Nesta senda benfazeja, o Estado, paga a cada hospital quase cento e conquenta Euros por cada consulta (meios complementares de diagnóstico incluídos) e, pela mesma consulta esse mesmo Estado, é capaz de pagar a uma instituições privada, um quarto desse valor (e esta ainda tem lucro!)! Não contente com esta prática indutora de lucros fáceis, há Unidades Hospitalares públicas, que até ganham com a intermediação de serviços. Os tratamentos de radioterapia são o melhor exemplo...
Os hospitais públicos não podem enviar directamente os seus doentes de cancro para tratamentos de radioterapia privados. Têm que referenciá-los aos Institutos de Oncologia e perante a incapacidade de os tratar, as referidas unidades hospitalares providenciam o seu envio para uma instituição privada.
Nessa dança protectora, o Ministério da Saúde paga aos Institutos uma verba substancialmente alta por cada tratamento de radioterapia, recebendo a entidade privada um valor substancialmente inferior pelo tratamento do mesmo doente. Assim, num acto de mera intermediação que ainda prejudica o doente pela burocracia que gera e demoras que induz, uma instituição pública, ganha dineiro sem esforço e risco.
....
Esta prática paradigmática, também testemunha a visão discricionária e segregadora de um Governo, que retira dinheiro aos contribuintes para depois o desperdiçar nos complicados jogos dos complexos ideológicos."

Uma boa matéria para reflexão!

12:12 da tarde  
Blogger Tá visto said...

Não tinha tido oportunidade para ler a entrevista aos representantes dos grupos privados. A sobranceria com que pretendem impor os seus ditames e a agressividade com que contestam as opções de Ana Jorge em Saúde, traduzem bem até onde estão dispostos a ir nesta sua luta pela rentabilização dos milhões investidos.
A citação da greve dos camionistas não surge por acaso, é uma ameaça velada procurando, através da intimidação, condicionar as opções políticas do Governo. É, porém, um pau de dois bicos, pois deixa a claro o que pode suceder ao Estado Democrático se alienar as suas responsabilidades sociais e ficar refém dos grupos económicos.

6:01 da tarde  

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