Reforma do SNS
Soluções precisam-se
1. Tal como o Hospitaisepe, considero excelente o Post de Contra Corrente no âmbito da problemática sector público/sector privado “Concorrência na saúde, a que preço?”, link E verdadeiramente essencial e lapidar é o ponto em que cita PPB:
«o principal problema da saúde são os grupos parasitários … sejam grupos privados que fornecem todo o tipo de serviços e produtos quase sem controlo, sejam grupos de funcionários …». Em Portugal, como diz PPB, «… os mesmos actores têm capacidade de criar lista de espera, seja por alteração da indicação clínica para operação seja por redução da capacidade no próprio sector público» e resolvê-la onde der mais jeito (privado), daí a conclusão do ilustre professor «o pagamento ao sector privado para resolver listas de espera … no privado é a forma mais rápida de introduzir efeitos perversos no sistema». Daí a recomendação para «…uma melhor organização da capacidade disponível» e para procurar «… soluções de como fazer mais e melhor com os recursos existentes…».
Não querendo desvalorizar as restantes considerações do Contra Corrente, esta transcrição, a meu ver, contém o diagnóstico da situação e deixa antever a linha de intervenção necessária (e também inevitável), para que o SNS possa sobreviver sem perder as suas características fundamentais de universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial, com elevado nível de eficiência e de qualidade, acolhidas no texto constitucional.
1. Tal como o Hospitaisepe, considero excelente o Post de Contra Corrente no âmbito da problemática sector público/sector privado “Concorrência na saúde, a que preço?”, link E verdadeiramente essencial e lapidar é o ponto em que cita PPB:
«o principal problema da saúde são os grupos parasitários … sejam grupos privados que fornecem todo o tipo de serviços e produtos quase sem controlo, sejam grupos de funcionários …». Em Portugal, como diz PPB, «… os mesmos actores têm capacidade de criar lista de espera, seja por alteração da indicação clínica para operação seja por redução da capacidade no próprio sector público» e resolvê-la onde der mais jeito (privado), daí a conclusão do ilustre professor «o pagamento ao sector privado para resolver listas de espera … no privado é a forma mais rápida de introduzir efeitos perversos no sistema». Daí a recomendação para «…uma melhor organização da capacidade disponível» e para procurar «… soluções de como fazer mais e melhor com os recursos existentes…».
Não querendo desvalorizar as restantes considerações do Contra Corrente, esta transcrição, a meu ver, contém o diagnóstico da situação e deixa antever a linha de intervenção necessária (e também inevitável), para que o SNS possa sobreviver sem perder as suas características fundamentais de universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial, com elevado nível de eficiência e de qualidade, acolhidas no texto constitucional.
2. Sabemos que partilhamos com os restantes países algumas das causas que ameaçam a sobrevivência do SNS pelo lado da sua sustentabilidade financeira e que a essas causas acrescentamos outras, especificamente nossas, que derivam da “organização da capacidade disponível “ e da falta de «…soluções de como fazer mais e melhor com os recursos existentes…» e que só podem ajudar à perda de sustentabilidade. Se quanto às primeiras pouco ou nada podemos fazer, tendo de resignar-nos a viver com o que tivermos, nada nos impede de intervir no âmbito do que, especificamente, é da nossa responsabilidade. Aqui se deveria centrar a intervenção prioritária. É questão de queremos ou não querermos assumir os custos porque estes evidentemente sempre existem. Mas andar de olhos fechados é que não parece solução.
3. O Contra Corrente fala de ”grupos privados que fornecem todo o tipo de serviços e produtos quase sem controlo”. Parece-me que diz bem. Por três razões: i) porque a remuneração por acto praticado induz actos desnecessários e deve ser excepcional – como muito bem defende no seu texto –; ii) porque a requisição desses serviços pactua, em muitos casos, com a sub-produtividade nos serviços que os deveriam executar; iii) porque as tabelas hospitalares (estou sobretudo a pensar nos preços por GDH) não têm acuidade bastante para traduzir diferenças que implicam custos significativos. Diferenças derivadas de factores diversos, desde a especialização de cada Hospital, à incidência de cada GDH na patologia por ele tratada, à insuficiente sensibilidade dos próprios GDH (com complicações ou sem complicações, mas quais e de que peso?). Tudo isto pode permitir, e permite no concreto, que se faça selecção adversa, em prejuízo do SNS. Mas não teria que permitir se fosse outra a capacidade de definição e controlo e se o SNS não pagasse pelo mesmo preço actividades com níveis de exigência de recursos bem diferenciados. É que a necessidade de o MS ter essa capacidade impõe-se no caso dos HH-PPP com gestão clínica privada, mas vai muito para além deles. Se fosse preciso prová-lo, bastaria o recente acórdão do TC que, sem que nenhum dos vícios provados incida na gestão clínica, arrasa o contrato para construção e gestão do novo Hospital de Cascais, demonstrando a incompetência da parte pública contratante (repudio a tese do conluio para destruição do SNS).
4. Diz PPB: «…os mesmos actores têm capacidade de criar lista de espera, seja por alteração da indicação clínica para operação seja por redução da capacidade no próprio sector público» e resolvê-la onde der mais jeito (privado). Parece-me claríssimo que PPB não está a contestar que seja o médico a deter todas estas capacidades: só o médico as pode exercer. O que ele denuncia é que ao mesmo profissional seja permitido acumular funções no SNS com o exercício liberal ou privado ficando assim com a possibilidade de materializar o quadro de efeitos que ele próprio enuncia.
5. Há, porém, outros efeitos, implícitos, que PPB não enuncia, naturalmente porque não vinham directamente ao caso da problemática das listas de espera, mas que devem considerar-se não menos prejudiciais para o SNS e que derivam dessa inaceitável permissividade do Estado. Refiro-me concretamente ao sobreaquecimento dos preços praticados em medicina liberal ou privada. O processo é simples: a permissão de acumulação gera sub-produtividade do SNS e, por essa via, garante clientela à medicina liberal ou privada, sem impor concorrência pelos preços praticados. Resultados: i) preços praticados superiores à média da EU; ii) incapacidade de o SNS suportar remunerações concorrenciais com as que a medicina liberal ou privada possibilita; iii) insatisfação, desmotivação e sub-produtividade no âmbito do SNS, com repetição do ciclo.
6. Também diz PPB: «o pagamento ao sector privado para resolver listas de espera … no privado é a forma mais rápida de introduzir efeitos perversos no sistema». Compreendo que sim, porque é um incentivo directo, ou mais uma fonte de alimentação do processo atrás referido. Mas talvez PPB devesse ter acrescentado que o pagamento ao sector público para resolver listas de espera, mesmo que no sector público, poderá ser necessário mas não é, por si só, a boa solução. Não é mais do que iludir o problema, alimentando a sub-produtividade e a convicção de que tudo se resolve com a injecção de recursos adicionais, quando, como afirma com toda a razão, o que está correcto é procurar «…soluções de como fazer mais e melhor com os recursos existentes…» ou, dito com outros termos, promover «…uma melhor organização da capacidade disponível».
Aidenos
Etiquetas: Aidenós
6 Comments:
Iustiça a contrario sensu...
O grande erro começa com o PECLEC.
Morreu de morte natural. O MS enveredou pela emissão aos doentes de um “passe”, que lhe permitiria, por sua própria iniciativa, escolher um Hospital, onde pudesse ser operado.
Colhe-se insucessos atrás de insucessos.
Sucede-lhe o SIGIC. Enfermando dos mesmos erros, seguindo o mesmos trilhos.
O problema é sempre o mesmo e as soluções repetem-se, embora, com nomes diferentes.
A estratégia de combate às listas de espera cirúrgicas premeia os que menos produzem no seio do SNS.
Qualquer sistema que premeie o prevaricador conduz a maus resultados.
Julgo que seria mais justo e sério promover incentivos aos Serviços que, no seio do SNS, cumprem.
Para começar só isto.
Depois logo se veria da necessidade de desenvolver medidas complementares de apoio, com regras, fiscalização e regulação.
Por exemplo, os médicos integrantes de Serviços com intoleráveis atrasos nas listas de espera cirúrgicas, não deveriam poder integrar programas de recuperação.
Teria sido difícil fazer assim?
«o pagamento ao sector privado para resolver listas de espera … no privado é a forma mais rápida de introduzir efeitos perversos no sistema».
Inteiramente de acordo.
O pagamento ao sector público para resolver listas de espera, poderá ser necessário mas não é, por si só, a boa solução.
No caso recente das listas deoftalmologia, porque não?
Se encarado como incentivo à recuperação de listas.
Será que o SNS tem capacidade instalada (e se esta se encontra devidamente distribuída) para atender a procura de oftalmologia?
E não se trata só de pessoal médico.
O problema deve ser equacionado a partir da resposta a esta questão. Tanto mais quando se sabe que muitos dos casos de oftalmologia resultam do mal funcionamento de outras areas (diabete, por exemplo)
O recente Programa de Intervenção Oftalmológica constitui um grande triunfo da Governação da Ministra da Saúde, Ana jorge, e uma prova clara que é necessário investir no SNS e procurar aí solução para os problemas de saúde dos portugueses.
A busca de mais eficiência do SNS, implica uma nova forma de produzir, de organização da actividade, onde se inclui novas fórmulas de motivação.
A Ministra da Saúde sabe o que quer e para surpresa de muitos está a desenvolver um excelente trabalho.
A replicação da solução encontrada para os doentes oftalmológicos é um caminho aliciante e capaz de contribuir para a consolidação do SNS.
Todavia, a pressão do sector privado vai ser "pesada".
Primeiro, aposta no enfraquecimento progressivo do SNS.
Depois, vai apresentar soluções aparentemente mais baratas. Tanto menos onerosas quando displicente for a fiscalização.
Quem olha, para a qualidade e a quantidade do investimento privado sente que este não se satisfaz com “migalhas”.
Portanto, ou há uma aposta política a médio prazo, dada a crise económica que se avizinha, e nessa eventualidade acredita-se no colapso financeiro do sistema, ou o abocanhamento do SNS tem estratégias pouco nítidas, sendo a actual fase, efémera.
A luta "invisível" travar-se-á em duas vertentes:
Na perda da maioria absoluta do PS e numa renegociação "forçada" da Constituição da República que atingirá (adulterará) princípios fundamentais reguladores da Saúde;
Ou a penúria financeira, derivada do fraco crescimento económico e da diminuição do PIB, retirará condições de resposta, considerada a capacidade instalada e a impossibilidade de responder aos fluxos de procura.
Só próximo orçamento da Saúde dará algumas respostas a estas questões. Fazer mais com o mesmo dinheiro é um bom propósito, mas não chega. Terão de existir outras nuances na área da sustentabilidade.
Por outro lado, no sector privado nem tudo são rosas. A fase de descrédito porque passam as PPP's vai causar danos para quem, como Salvador Mello, alimentava objectivos gigantescos, quando não utópicos. Danos irreparáveis.
Não estamos a brincar a feijões…
A introdução do pagamento à peça no SNS através dos programas de recuperação das listas de espera teve seguramente efeitos perversos. Para além de premiar muitas vezes os que menos produzem no seio do SNS e qualquer sistema que premeie o prevaricador conduz a maus resultados, como bem diz o e-pá!, criou uma nova cultura remuneratória que conflitua com o sistema até então estabelecido.
Em boa verdade uma equipa cirúrgica pode ganhar mais em algumas horas de trabalho a recuperar listas de espera que durante toda a actividade mensal programada. E, paradoxo dos paradoxos, são normalmente os actos cirúrgicos tecnicamente mais simples a serem os melhores remunerados. Assim os profissionais são levados a desinvestir na produção normal, em virtude dos baixos salários e ausência de uma política de incentivos, e a privilegiar a produção adicional. Para já não falar no mal-estar gerado entre Instituições e Serviços, em virtude das discrepâncias salariais introduzidas por um sistema de pagamento com estas características.
Considero pois que é tempo de se avançar para um sistema mais racional, mais justo e eficaz de aumentar a produtividade dos hospitais e, desta forma, reduzir os tempos de lista de espera não só nas especialidades cirúrgicas mas também nas médicas. Por mais voltas que se dê cabeça, tal só será possível agrupando serviços afins (CRIs), dando-lhes mais autonomia e exigindo como contrapartida mais responsabilização e maior compromisso do profissional com a instituição, introdução de uma política salarial variável em função da produtividade e persistindo no aprofundamento da contratualização externa e interna. Seja qual for o regime jurídico (EPE, SPA), há pois um longo caminho a percorrer para reabilitar o Hospital Público.
até Junho – o terceiro a derrapar, ainda que de forma ligeira, foi o da Educação (50,5%).
As pastas menos gastadoras foram as dos Transportes e Comunicações (29%), do Ambiente e da Presidência (36,5%).
Entre os três ministérios mais gastadores e os três com melhor execução não estão – com excepção da Educação – os mais relevantes para o controlo dos gastos do subsector Estado, ou seja, os que absorvem as maiores fatias de despesa pública.
Nos ministérios mais pesados em termos de gastos – Finanças e Administração Pública, Saúde, Trabalho e Segurança Social – a execução orçamental esteve controlada (abaixo de 50%) no primeiro semestre do ano.
DE 23.07.08
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