Super corpo clínico
Já aqui fizémos referência à revista "Informação da Espírito Santo Saúde" (IESS).
Na última edição (n.º3), Outono/Inverno, o tema de fundo é o “Compromisso de gestão: Medicina de excelência e inovação”.
A abrir, o editorial da engenheira Isabel Vaz com o título, original, “Yes, we can”. Segundo a presidente da Comissão Executiva, a ESS "vai conseguir" mediante «a aposta numa elevada qualidade assistencial, técnica e humana, cumprindo elevados níveis de serviço.»
Para isso, entre as variáveis susceptíveis de tornar tal objectivo exequível, a qualidade do corpo clínico é fundamental. Apurada através de critérios de selecção e de avaliação contínua muito exigentes. Além disso, «não menos importante é a valorização de características pessoais ligadas à forma como o médico pratica a medicina e se enquadra na cultura e missão da nossa organização. Desde logo, o cumprimento de obrigações assistenciais de normas de procedimentos, como sejam a qualidade das histórias e diários clínicos e notas de alta, a comunicação e relacionamento interdisciplinar, a sua postura e atitude relativamente a assiduidade, pontualidade e disponibilidade, o espírito de equipa e de iniciativa, o relacionamento com colegas, enfermeiros, pessoal administrativo e auxiliar, e, "last but not the least", como se relaciona com os doentes e famílias.»
Este pequeno trecho da entrevista da engenheira, fez-me lembrar as nossas discussões (ridiculas?) sobre o controlo pontométrico de assiduidade do pessoal médico dos HH públicos.
8 Comments:
Nunca entendi tanta animosidade contra a Eng. Isabel Vaz. Ela cumpre o seu papel e é certamente paga em função do mérito que lhe é reconhecido. Sim, porque no sector privado quem não é competente não aquece o lugar. Infelizmente nos nossos Hospitais a par de gente competente, continuam a acolitar-se gente incompetente sem que nada lhes aconteça; mesmo a nível dos CA's.
Também não alinho com a inveja pelo sector privado. Afinal, conheço vários casos, de entre os críticos do sector privado que, quando lhes ofereceram uma oportunidade não hesitaram. E outros que se reformram cedo para irem trabalhar no sector privado que antes criticavam.
Ou será tudo isto uma mentira?!
Caro Xavier:
A realidade é que a Engª Isabel Vaz enveredou pela via de optimizar resultados da prestação do corpo clínico nos HH's da ESS, cultivando normas da vida de relação, que todos conhecemos.
Coloca a tónica de uma gestão de qualidade dos recursos humanos, na relação médico-doente, fomenta a confinaça interpares, integra a família no processo e engaja-se na empreitada de promover um processo interno de empatia, um pouco ao estilo da hospedeira de bordo:
Chá, café ou laranjada?
E, em complemento, um sorriso (esgar?) de lábios tipo Gioconda, logo, não muito exiberante, adequado às circunstâncias penosas da doença e dos doentes.
Há, na retórica da Engª. Isabel, algo arrancado à impagável e angelical(?) Floribela...ou, se quisermos ser comedidos, a forced combination of tea and sympathy...
Mais, a Engª. Isabel adopta, uma fórmula padronizada de sucesso fácil que, como nos livros de cordel (p. exº: "Como ter sucesso na vida") que se vendem nas feiras, oculta algo de essencial.
Para tudo corra sobre rodas, para que a qualidade de atendimento seja diferente em relação ao sector público, para fazer a diferença, "esqueceu-se" de mencionar destrinças remuneratórias, que são obrigatórias no processo de marketing.
Mas isso é indiferente, para a Engª Isabel Vaz que tendo por detrás da sua gestão um Banco - passível de ser socorrido pelo Estado em qualquer momento - já formatou a sua cabeça que está empenhada num processo concorrencial e não de complementaridade, com o sector público.
E, para levar esse processo avante, não precisa de perder tempo com pontómetros que, ainda hoje, para alguns gestores públicos, continua a ser o primum movens da eficiência dos HH's públicos! Tudo pode continuar descontrolado - nomeadamente as dívidas - a assiduidade, não!
Será isto que levou o Xavier a recordar-se das passadas dicussões sobre controlo biométrico nos HH's e a interrogar-se se as mesmas não teriam sido ridiculas?
Julgo que as discussões foram, acima de tudo, picarescas, um pouco ao estilo do D. Quixote de La Mancha, ao enveredar-se no combate aos moinhos de vento, tomando-os como gigantes...
Caro tonitosa,
Tinha em mente deixar-lhe uma pequena nota esta madrugada.
Entretanto, o texto do e-pá veio dar uma ajuda ao desmistificar estas ideias perfeitas que se pretendem "naturalmente" passar.
De qualquer forma, o que lhe queria dizer, a haver um pouco de verdade na afirmação da engenheira IV, é como estamos longe do referido grau de exigência em relação ao corpo clínico da generalidade dos nossos HHs. E como dificil é implementar a mais pequena regra para melhorar o seu funcionamento.
Daqui a uns curtos anos, não vamos ter que nos queixar...por termos sido ultrapassados pela...direita.
Melhorar o que tem de ser melhorado (reformar o que tem de ser reformado) é uma verdadeira dificuldade do nosso serviço público.
Quanto à animosidade, antes pelo contrário. Simpatizamos muito com a eng.ª IV. Sempre na sua, sempre cheia de speed.
A Quimera…
O post do nosso colega tonitosa remete-nos para uma visão pueril de uma quimera inexistente.
Nunca vimos no SaudeSA nenhum tipo de animosidade pessoal contra a Engª. Isabel Vaz. É verdade quando diz: …” Ela cumpre o seu papel e é certamente paga em função do mérito que lhe é reconhecido”… Quanto a isso não nos sobra nenhum tipo de dúvida. Agora quando refere: …” Sim, porque no sector privado quem não é competente não aquece o lugar”… somos invadidos pela inquietude da sua ingenuidade. Quer lugares, no sector privado mais "aquecidos" do que aqueles por onde passaram e perduram os gestores de “referência” BPN, BPP, BCP, GPSaúde, HPP, Nasdaq, Lehman Brothers, entre centenas de muitos outros já conhecidos e outros a conhecer a curto prazo?
Afinal o que é a competência? É governar empresas “fingidas”, navegando em activos virtuais e recorrendo, sempre que necessário, a sucessivos aumentos de capital ou, pior ainda, ao chapéu protector do Estado? É gastar rios de dinheiro em propaganda para contar histórias de encantar? Alguém conhece, com rigor, os resultados do tão proclamado “sucesso” do sector privado da saúde em Portugal?
Os utentes que, durante mais de uma década, recorreram ao SU do HFF terão sentido alguma vez a expressão do sucesso dessa experiência de gestão?
É evidente que este tipo de abordagem não pode estar contaminado por questões pessoais, frustrações ou preconceitos ideológicos. Nesta discussão é irrelevante saber se alguém está condicionado por ter sido afastado de um hospital público ou privado ou se está frustrado por desejar aí estar. É igualmente irrelevante discutir a circularidade oportunista que, na maior parte dos casos, não é mais a expressão “oficial” de informais “parcerias público-privadas”.
O país precisa de “espaço” para o rigor, para a seriedade e para as boas práticas comportamentais (também na gestão). Felizmente conhecemos muita gente no SNS que honra esse tipo de requisitos e que não vive atormentada por uma nomeação pública ou por um convite (milionário) privado para ir fazer bricolage gestionário apenas com um objectivo: enriquecer depressa e bem.
Caro e-pá tem toda a razão com o "chá, café e laranjada"...O pior é quando a chávena entorna. Aí a "qualidade" na gestão dos recursos humanos é feita à vassourada. Já são tantos os exemplos...Viva a propaganda!
"An injustice, it is"...
..."O ex-presidente do Banco Privado Português vai ser alvo de uma queixa-crime por alegada burla qualificada, infidelidade e manipulação de mercado. A participação será entregue no DIAP por clientes do banco"...
Coitado tinha o lugar tão aquecido pela sua "competência" de virtuoso gestor privado e fazem-lhe isto. Uma verdadeira injustiça...
A ESS quer médicos, bons médicos, de elevada craveira técnica, ou sacerdotes.
É evidente, até pelo tipo de revista que é, que se trata de propaganda.
No nosso dia-a-dia informativo, há sempre uma ou dos notícias que, pela positiva ou negativa, nos marcam. Surpreendeu-me ontem saber que a assembleia geral da Sociedade Lusa de Negócios, ex detentora do BPN, arrastada para o abismo pelas manigâncias de Oliveira e Costa e seus acólitos, decidira vender todos os seus activos, à excepção do Grupo Português de Saúde, para gerar liquidez e evitar a falência do grupo. Temos pois que este ramo do negócio lhes pareceu mais promissor que o dos Seguros, Cimentos e Vinhos (Caves Murganheira e Raposeira), e outros que não constavam da notícia.
Curioso, resolvi consultar o site do GPS para conhecer o volume de negócios e os lucros que a sociedade gestora apresentava:
>> O GPSaúde registou elevados níveis de performance económico-financeira, tendo obtido aproximadamente 90 milhões de euros face aos cerca de 86,9 milhões de euros em 2005.
Este resultado foi alcançado através de um crescimento orgânico das suas unidades de saúde, principalmente das unidades hospitalares, a par da aquisição selectiva de unidades de saúde especializadas e diferençadas em sectores específicos.
O enfoque estratégico do GPSaúde na medicina preventiva e na actividade de ambulatório, a par da exigência na prestação eficiente de serviços de saúde de qualidade, resultou no aumento dos principais indicadores de actividade. É de realçar o aumento acentuado das Cirurgias em 68,48%<<
Não constam ainda os resultados de 2007 e, naturalmente, de 2008; sendo porém de prever que os lucros tenham continuado a crescer a bom ritmo tendo em conta a política para a saúde de Luís Filipe Pereira&Correia de Campos e por serem anteriores à declaração da crise financeira mundial do capitalismo que hoje tudo contamina. A própria decisão da AG da SLN de manter apenas no seu âmbito de negócio a Saúde, é por si só esclarecedora das elevadas expectativas que o sector privado continua a acalentar na realização de mais-valias à custa das nossas carcaças.
Não deixa de ser surpreendente esta decisão da SLN quando parece evidente aos olhos do cidadão comum que, por pior que corram as coisas para o Serviço Público, não vai haver espaço para tantos grupos privados no sector e que, face à retracção dos mercados financeiros, os mais fracos serão fagocitados. Surpreende tanto mais a decisão, quando é Ministra da Saúde uma personalidade que aposta no desenvolvimento do SNS e a situação económico-financeira do País recomenda o reforço do papel do Estado na área Social e não só.
Ficará para a história a frase de Isabel Vaz “melhor que o negócio das armas só o da saúde”. Será que a intrépida testa de ferro do grupo BES para o negócio tem mesmo razão ou o capital não acredita na vontade reformadora do SNS do governo de Sócrates?
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