domingo, abril 19

Excentricidades


.../ Sabem quanto vai pagar a nova farmácia do Hospital de Leiria de renda anual? 30,25% da facturação anual bruta + 100.000 €. Sim, leram bem 30,25% da facturação anual bruta mais 100.000 € fixos. Ora num mercado tabelado com margem fixa de 18,5%, e em que a associação do sector (ANF) fica com 1,5%, ouviram alguém perguntar como se pode pagar 30,25% quando se tem uma margem legal de 17%?
Anda tudo distraído ou pensam que somos parvos?
(SIM, 15. 04.09)

.../ Ao contrário da Farmácia Praiense, a Farmácia Santa Maria não está inscrita na ANF, na medida em que «para pagar a comissão de 22% sobre a facturação à administração do hospital não é possível pagar as quotas impostas pela Associação Nacional das Farmácias», frisou.
O investimento total de cerca de 900 mil euros estará pago em três anos, de acordo com as previsões do farmacêutico, que não esconde as incertezas em relação ao negócio que acaba de assumir
.(TM 20.04.09) link

Face aos elevados investimentos, rendas e comissões, a que estão obrigados os concessionários, também nos suscita sérias dúvidas a viabilidade (legalidade?) destes negócios em que estão envolvidos HHs do SNS .
Quanto à recente inauguração, alheios ao agudizar da crise, não faltou o habitual espalhafato, com discursos da ministra da saúde, primeiro ministro e do anfitrião, Adalberto Campos Fernandes.
Nos "comes e bebes" não vislumbrámos o é-pá.
Quem já tem para contar aos netos é Paulo Diogo, proprietário da farmácia Praiense, o maior protagonista desta aventura, director técnico da nova farmácia de Santa Maria, cujo visível desconforto na pomposa cerimónia não lhe retirava a imagem de jovem empresário excêntrico.

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7 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Em termos de viabilidade é o Estado a dar mau exemplo sobre negócios estarolas.
Afinal quem suporta a rendibilidade deste negócio?
Os utentes? O Estado? A Indústria?

Seja como for, a abertura destes estabelecimentos vai causar um enorme rombo (se entretanto não falirem) no poder da ANF.
Daí o patriarca das farmácias andar tão mal de azeites.

9:10 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

Não costumo frequentar essas vernissages...

Mas a abertura destas farmácias hospitalares, acrescida de uma eventual extensão à area da Medicina Familiar - farmácias que integrariam os novos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), pode vir, a curto prazo, demonstrar que a estratégia monopolista de João Cordeiro, está a relevar-se ser um rotundo fracasso...

Levantou a lebre! Passando da discrição à arrogância, ao promover o desafio mais primário à legislação em vigor, etc...colocou, sobre a ANF, as luzes da ribalta, o que nunca é bom para os "negócios"...

Mas a minha grande preocupação é outra.
Nas alienações de espaços e serviços, no seio do SNS, começou-se pelas farmácias...
Onde acabamos?

1:55 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Uns tem petróleo...
Em Portugal, é mais (bolos)...medicamentos.

11:24 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Rendas anuais das três farmácias já abertas vão dar ¤740 mil ao Estado. E ainda há a percentagem variável sobre as vendasA maior farmácia do país abriu as portas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, quase dois anos após o concurso público. Esta é a terceira unidade do género — depois de Leiria e Coimbra — e, como até aqui, juntou na inauguração a ministra da Saúde, Ana Jorge, e o primeiro-ministro, José Sócrates, num sinal claro de vitória.

Estas farmácias têm sido alvo de grande contestação. Todas mereceram providências cautelares e até há uma queixa da Ordem dos Farmacêuticos em Bruxelas. Estão contra o que apelidam de concorrência desleal, pois estas farmácias estão instaladas na proximidade da Urgência e podem ter as portas abertas 24 horas por dia, 365 dias por ano. Em troca, o Estado recebe uma renda anual fixa e uma percentagem sobre a facturação. Contudo, ao fim de cinco anos é obrigado a abrir novo concurso público.

Para as três farmácias já em funcionamento, o montante total fixo ascende a €740 mil e as percentagens sobre as vendas variam entre 22% e 36%. Só a infra-estrutura de Santa Maria — adjudicada a um pequeno farmacêutico da zona de Santarém que teve de vender uma das duas farmácias para entrar na corrida — prevê facturar cerca de €19 milhões por ano. Nos casos de Leiria e Coimbra as previsões são mais modestas, não devem exceder os €5 milhões.
A lista de farmácias para este ano ficará completa com mais três espaços: Hospital Central de Faro, Hospital Padre Américo (Penafiel) e Hospital de São João (Porto). A unidade algarvia é a próxima a avançar e terá uma renda fixa de €80 mil e abdicará de 26% das vendas.

Também até ao final de 2009, a ministra Ana Jorge garante existirem condições para que estas farmácias dispensem medicamentos em unidose. Ou seja, vender ao doente a dose especifica para tratar o seu caso sem sobras de medicamentos. Os analgésicos e os antibióticos são, para já, os remédios a testar.

A procura não será um problema, mas do lado da distribuição as coisas correram mal. As farmácias tiveram problemas para encherem as prateleiras devido a um alegado ‘boicote’ dos fornecedores.

semanário expresso, 19.04.09

11:34 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Governo investiga ofertas suspeitas a farmáciasFarmacêuticos acusados de receber electrodomésticos para vender genéricos. Inspecções já estão alerta
Soa estranho, mas a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde está a investigar TVs de plasma e frigoríficos.
O súbito interesse deste organismo oficial por electrodomésticos fica a dever-se a denúncias de que as farmácias estarão a receber estes e outros aparelhos (além de uma enorme gama de bónus e descontos) para prescrever genéricos específicos em vez dos medicamentos receitados pelos médicos. A entrada no mercado de diversos laboratórios de genéricos (está previsto entrar mais um detido, em 49% pela ANF), fez passar a pressão da indústria para o lado das farmácias, que passaram a ser o alvo das ‘benesses’ tradicionalmente recebidas por médicos. Mas a discussão ainda só vai no adro.

semanário expresso 19.04.09

No que isto se transformou!
BPN, BPP, Freepost...
Guerra das farmácias, com acusações reciprocas de práticas ilegais, lesivas da concorrência entre a OM e a ANF.
O Estado, como é seu apanágio, incapaz de intervir a tempo e horas, especialmente no que diz respeito à corrupção,(limita-se a apagar fogos), envolve-se também, por sua vez, nestas aventuras do negócios dos medicamentos.

11:58 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Como não há almoços grátis, alguém vai ter que pagar quer o investimento (amortização em três anos, quer as rendas fixas variáveis) e o que parece evidente é que se uma farmácia vai pagar 30% da facturação anual bruta ao Hospital (Estado) os utentes vão necessariamente suportar esse custo. E entretanto o hospital/Estado tem aí uma forma de financiar os hospitais.
Se acrescentarmos aos referidos 30% a margem de lucro da farmácia, provavelmente não inferior a outros 30% e a renda fixa, então não estaremos longe de pagar os medicamentos por um preço que deve rondar o dobro do que seria adequado. Ou seja, com estas farmácias quem sairá verdadeiramente a ganhar não serão os utentes mas sim os farmacêuticos/proprietários que irão engrossar a lista dos novos ricos.
Alguém conhece um investimento não especulativo e concorrencial que se pague (amortize) em três anos?
Ou será que o proprietário da farmácia do HSM descobriu a pólvora?!
Com investidores como este não se percebe com está a Economia em crise!
Será com a "excentricidade" do proprietário que o negócio vai ser assim tão reatável?
E se um dia destes o JC/ANF se lembrar de montar uma farmácia móvel e colocar uma caravana às portas do hospital vendendo os medicamentos mais baratos?!...
Parece-me que neste "negócio" nem tudo está claro.

5:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Fico um pouco espantado com os diversos comentários. Não me parece que o SNS tenha que cuidar da capacidade do farmacêutico em gerir o seu negócio. Se fez mal as contas, e tiver que fechar, não vejo qual o problema em concessionar a outro.

Assim, à primeira vista, o mais provável é que os clientes desta farmácia deixem de ir a outras farmácias, e por isso quem "paga" a rentabilidade da nova farmácia são as outras farmácias da zona, daí a oposição da ANF.

Os utentes não vão pagar aqui os medicamentos mais caros do que pagariam noutro lado.

Do mesmo modo,não é mais "vender o SNS aos privados" do que quando os utentes vão comprar os mesmos medicamentos noutras farmácias, localizadas noutros pontos.

Até pensei que esta transferência de lucros das farmácias para o SNS fosse vista com bons olhos.

Parece-me que há aqui mais medo da experiência que verdadeiros argumentos contra ela.

Claro que se se quiser medicamentos mais baratos nestas farmácias, um próximo concurso poderia ter como critério a redução percentual de preço em todos os medicamentos vendidos que os concorrentes se comprometem a ter. Neste caso, os utentes seriam beneficiados, o hospital deixaria de ter uma receita.

7:17 da tarde  

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