sábado, julho 18

Topete ...


Vale a pena ver a capa da revista da socialite Lux. Nela vemos, em grande destaque, uma fotografia do artista Rui Veloso referindo “quem tem seguro de saúde safa-se” encimada por um título que refere ter o referido artista sido alvo de uma intervenção cirúrgica que lhe removeu grande parte do intestino e lhe salvou a vida no Hospital da Luz.

Depois do episódio do Eusébio ficamos, definitivamente, esclarecidos até onde nos levaria um sistema de saúde dominado pelas tribos do negócio. Rui Veloso, infelizmente, esqueceu-se das centenas de doentes excluídas de tratamento pelos seguros de saúde, dos doentes com complicações graves “despachados” para os hospitais públicos, dos doentes com cancro que vêem os seus tratamentos interrompidos por exaustão do plafond do seguro e que são remetidos, ao arrepio de qualquer assomo de ética médica e deontologia profissional, para o SNS.
Este tipo de propaganda, em revistas desta categoria, com menção expressa às patologias, com total desrespeito pela privacidade, recorrendo ao uso oportunista de figuras públicas para propagandear um hospital privado compreende-se na óptica de quem quer, com mais ou menos escrúpulos, salvar o negócio ocultando a face negra desse mesmo negócio. É uma forma esperta de branquear as conclusões do relatório da ERS sobre discriminação dos utentes da ADSE nesse hospital.

O que não é aceitável é ofender os milhares de profissionais que trabalham no serviço público nem os milhões de utentes que aí são tratados. Ninguém vê (felizmente) instituições públicas de saúde fazer galarim das vidas salvas, todos os dias, nem da notoriedade das pessoas que aí são tratadas. É por isso ignóbil que um hospital que, na verdade, pouco mais é do que uma clínica para ricos com uma dimensão inferior á de um departamento de um qualquer hospital central possa ser instrumentalizado num ritual de marketing fantasioso e intelectualmente desonesto que desprestigia a medicina e o sistema de saúde.

Átila

Etiquetas:

10 Comments:

Blogger PA said...

caro(a) amigo(a) acompanho o seu blog com muito interesse... conheci-o através do twitter...

mais das vezes estou em completo acordo com o que escreve, por razões que se prendem com a perda de um familiar muito importante na minha vida: o meu Pai, o que aconteceu num hospital público da grande lisboa.

mas hoje não vou por aí...
um dia falarei sobre o meu caso.

qto ao tema do post...

não fiz a mm leitura da frase de Rui Veloso !

e porquê ?

será que lendo esta frase de Rui Veloso, pela positiva, não poderemos inferir pela negativa que ..."quem NÃO tem seguro de saúde.... está "despachado"(no mau sentido ...?


A verdade é que a maior parte da população não tem seguro de saúde e qd o tem, digamos que, continua a ter que pagar cumulativamnete com o seguro de saúde, uma parte do seu bolso, e nalguns casos nem mesmo a pagar ...

por exº os idosos, e somos uma população envelhecida ...ninguém faz seguro de saúde a partir dos 70, creio..


portanto neste caso os idosos não se safam pq nem a seguro de saúde têm acesso ...

enfim, ficam por dizer mais coisas mas acho que deve ter percebido a minha opinião.

a saúde acaba por não ser diferente do q se passa na justiça que se tem de pagar bem, na educação, se quer uma boa escola tem que a pagar bem...

uma realidade para ricos outra para pobres....a conversa agora ia por aí fora...:-)


o meu twitter é
www.twitter.com/pezinhosnareia

Parabéns pelo trabalho que desenvolve no blog e no twitter.
Por favor continue a dizer as verdades que aqui publica.


estamos do mm "lado", acredite ...

1:22 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Para garantirem o negócio é disto que vivem os privados, da publicidade rasteira para atrair outras tantas personagens de carteira bem nutrida ou respaldadas em bons seguros de saúde. Como os cidadãos incluídos naquelas categorias não abundam, enquanto a oferta em hospitais privados não pára de aumentar e o oportunismo não escasseia, é certo que iremos assistir cada vez mais a este tipo de publicidade encapotada, consentida, ou não, pelas figuras envolvidas.
É sabido que carótidas como as do Eusébio, ou intestinos como os de Rui Veloso, são intervencionadas diariamente por profissionais tão competentes, senão pelos mesmos, no SNS. Mas isso não faz notícia, ou se a faz quando envolve uma personagem de mais notoriedade, tal é apenas pelo valor da informação em si mesmo e não para tirar dividendos do infortúnio dos outros.
Digno de publicidade seriam novas técnicas de diagnóstico ou tratamento que fizessem a diferença com o que se faz no público, mas aí está quieto pois investimentos sem lucro garantido é coisa que não está na vocação do sector privado de saúde nacional.

6:06 da tarde  
Blogger SNS -Trave Mestra said...

Rui Veloso é uma figura pública. Um músico competente e inteligente. É natural esperar-se do artista intervenções públicas mais concientes (melhor informadas), mais consentâneas com a sociedade em que vivemos.

6:33 da tarde  
Blogger e-pá! said...

O PRÉ-ANÚNCIO DA CHEGADA DA REFORMA DA SAÚDE NOS EUA...


Em 15 Julho, Michael Steele, presidente do Comité Nacional do Partido Republicano (USA), dirigiu-se aos subscritores do partido nos seguintes termos (seguem-se alguns extractos) link:

“O presidente Obama e os democratas do Congresso querem um sistema de saúde governado pelo Estado que interporá um burocrata de Washington entre as famílias americanas e os seus médicos (…)

Fazei ouvir a vossa voz antes que os democratas de Obama nacionalizem um quinto da economia americana, nos comprometam com milhares de milhões de dólares de despesas suplementares e de dívidas e comecem a racionar os cuidados ao povo americano (…)

Eles avançam em marcha forçada para nos imporem um sistema de medicina socializada à europeia (…) e pretendem retirar uma fracção ainda mais importante dos vossos rendimentos para pagar os cuidados dos outros racionando os vossos.”


O desespero que esta carta revela, bem como o estilo de escrita, são para mim a garantia de que a reforma está a chegar!.

8:08 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Meu caro e-pá,


Não esteja tão certo disso pelo facto do discurso republicano ser radical e desesperado. O problema é que este tipo de argumentação colhe nalguns sectores do partido democrata e as forças que se opõe à mudança são muito poderosas. Diga-se, aliás, que nada trás de novo pois é um discurso recorrente dos sectores que se opõe ás reformas sempre que algum político americano tenta alterar o “stato quo”. Para melhor se perceber as dificuldades que Obama enfrenta nesta matéria recomendo a leitura do livro de Paul Krugman “THE CONSCINCE OF A LIBERAL, reclaiming America from the right” da Penguin books.

11:51 da tarde  
Blogger xavier said...

"The Consciense of a Liberal: Reclaiming American from the Right", leitura indispensável para compreensão do processo em marcaha.
Livro que, infelizmente, só na passada sexta feira adquiri na Waterstone´s em Bruxelas.
Custa 32.05 euros mas vale o dinheiro gasto.

One of the seeming paradoxes of American in the early twenty-first century is that those of us who call ourselves liberal are, in an important sense, conservative, while those who call themeselves conservative are for most part deeply radical. (pag. 265)

10:58 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Alguém leu?

"Obama no longer stressing August deadline for passing health reform bill"

in POLITICO
http://www.politico.com/news/stories/0709/25112.html

3:34 da tarde  
Blogger Ricardo said...

Aqui está o seguimento da publicidade gratuita do Rui Veloso:

CGD e HPP lançam novo cartão de saúde

Até ao fim do ano, a Caixa e o grupo Hospitais Privados de Portugal pretendem atingir 12 mil clientes

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o grupo Hospitais Privados de Portugal (HPP) uniram-se «numa parceria na área de saúde» e lançam agora um cartão os utentes do HPP, lê-se e comunicado.

Com este cartão, a CGD supera a sua limitação na área da prestação de cuidados de saúde e inicia um processo de colaboração com o grupo que irá permitir o desenvolvimento de relações comerciais entre os clientes de ambos e surgir de novos projectos.

O produto está disponível na versão cartão de crédito e de identificação e os dois oferecem descontos e outras facilidades nas unidades da entidade hospitalar.

CGD E HPP pretendem obter 12 mil clientes até ao final de 2009.

http://diario.iol.pt/economia/portugal-hpp-cartao-cgd-saude/1076900-1730.html

Assim os utentes podem pagar as cirurgias a crédito e imitar o seu ídolo musical. ;)

6:27 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Há cerca de uma semana um amigo meu foi às urgências do Hospital da Luz. Esteve lá mais de seis horas. Há alguns dias vinha sentindo febre (na ordem dos 38,5-39 graus)e não se sentia, como é óbvio, bem.
Foi atendido por um jóvem médico, que lhe mandou fazer um RX-tórax e análises.
Resultado: glóbulos brancos bem acima do normal e outros resultados associados a uma "provável" infecção respiratória mas que ele, pelo RX não conseguia esclarecer.
Ao fim daquela longa espera e 280 euros pagos, o meu amigo foi mandado para casa, com um antipirético e a recomendação de que deveria voltar ao hospital caso a "febre" não desaparecesse. E não desapareceu. Mas o doente foi (agora) ao CUF-Descobertas e ali deixou mais cerca de 230 euros.
O médico que o atendeu receitou-lhe um antibiótico depois de, por novas análises e observação da "impressão em papel comum" do RX do hospital da Luz, ter concluído que estava perante uma infecção respiratória.
Eu próprio recolhi os exames e um médico amigo a quem os mostrei não teve dúvidas: o meu amigo estava doente, havia (há)um nódulo no pulmão e por isso aconselhou uma TAC, até porque não conhecia a "história clínica" do doente
Até hoje o meu amigo ainda não se resolveu a fazer a TAC, mas disse-me que não se sente bem, sente algum cansaço e volta amanhã so médico (outro médico) e provavelmente irá fazer a TAC.
A conclusão disto tudo, e o que aqui quero referir, é na verdade a diferença entre os hospitais públicos e privados.
Num hospital público, muito provavelmente o meu amigo teria sido observado não apenas pelo clínico geral mas, face ao RX, por médico especialista que integraria, certamente, a equipa das Urgências. Talvez até tivesse feito a TAC.
Isto tem custos - e elevados - mas a saúde não tem preço (o que é diferente de esbanjamento de recursos) e nesse, como noutros aspectos, os nossos hospitais públicos estão bem à frente dos privados. Mas aos privados também não se lhes pode exigir que assitam os doentes sem serem pagos por isso.
Porém o doente em questão certamente não deixaria de pagar por um diagnóstico completo e esclarecedor.
Mas, o meu amigo não gostou mesmo nada do Hospital da Luz.

10:35 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Há dias, o Rui Veloso foi internado e operado de urgência, num hospital particular. A experiência permitiu-lhe dizer uma evidência que se oculta ou de que se fala com amena prudência: quem tem dinheiro salva-se; quem o não tem, morre. O mesmo acontece com a Justiça: ela só é cega para alguns.

Simultaneamente, prepara-se o assalto final à educação pública. Agora, esta: há treze hospitais, em Portugal, que tratam o cancro sem oncologistas! Como pode acontecer tanta coisa má e tão pouca coisa boa num belo país como é o nosso? Um poder que não é limitado por qualquer obrigação de tomar em conta as precisões da sociedade enfraquece-se a si mesmo.

"Falta consciência aos políticos", dizia, na televisão, um pescador de Sesimbra. Os náufragos do mundo moderno não encontram salvação nos paliativos que reproduzem as mentiras dos discursos. A ausência de consciência moral atinge uns e outros. Os módulos do Legos que constituíram a lógica social do nosso antigo viver estão fragmentados. "Se não há Deus e a alma é mortal, então, tudo é permitido", disse Dostoievski, através de Ivan Karamazov. Deus como consciência da realidade múltipla e não como religião do único. Quer dizer: a consciência dos valores e a religião dos princípios. Está tudo estilhaçado.

A dr.ª Manuela Ferreira Leite que surge, apopléctica e áspera, a chamar "mentiroso", a todo o instante, ao eng.º José Sócrates, não é melhor do que ele. Este diz que a promessa faz parte do corpus politicus, mas só diz meia verdade; a outra meia é o seu cumprimento, sempre raro e duvidoso. Quando duas vezes ministra, a dr.ª Manuela foi calamitosa. Exprimiu uma mediocridade autoritária, tornando impossível qualquer coabitação com os governados.

Nada de bom nos aguarda. O "rotativismo" moderno, imposto pelas circunstâncias históricas e pela inexistência (ou pela fraca existência) de forças opostas, não cede. O poder dos grandes interesses é imenso. E a mediocridade substitui-se à mediocridade, em todos os níveis e sectores. No entanto, a ascensão numérica da Esquerda em Portugal permite, acaso, a abertura de uma reflexão sobre as decisões que a sociedade toma quanto a consumo, produção, investimento, civilização e vida.

Que quer a dr.ª Manuela? Não se sabe, a não ser a sua ânsia de rasgar tudo o que Sócrates fez nos domínios do social. Só isso é, já de si, assustador, e criaria uma tessitura de conflitos cujos resultados seriam imprevisíveis. Os disparates que a senhora diz, com emocionante regularidade, têm uma importância de somenos. Mas reflectem as características do que pensa: uma privação absoluta de consciência social, que a torna extremamente perigosa. Não por ela, sim pelo que consigo arrasta e precipita.

Baptista Bastos DN 22.07.09

11:14 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home