sexta-feira, outubro 16

Cirurgia das cataratas


Luís Gomes, edil de Vila Real de Santo António, foi o primeiro. Seguiram-se-lhe outros autarcas: Aljezur, Alandroal, Santarém. Todos empenhados na cruzada da cirurgia das cataratas .
Temendo a intromissão de Cuba na rede de referenciação nacional, a OM, primeiro, e o Governo, pouco depois, tentaram reagir à heresia. Nasceu, assim, o PIO, mais um programa de recuperação das listas de espera, destinado a melhorar o acesso à consulta de oftalmologia e à cirurgia de oftalmologia, um “investimento muito sério” de 28 milhões de euros, nas palavras da senhora ministra.
Os resultados anunciados seis meses depois confirmaram o êxito da iniciativa: planeadas 15 mil cirurgias da catarata, acabaram por ser realizadas num semestre 26.797, tendo a produção cirúrgica em oftalmologia excedido em 2008 as 83 mil cirurgias.

O PIO, encerrado em Junho, após ter excedido todos os objectivos programados, foi recentemente alvo de críticas do presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), António Travassos, em relação ao excesso de cirurgias às cataratas realizadas no nosso país, e, consequentemente, ao contrário da senhora ministra, ao desinvestimento representado pelo programa em prejuízo de outras áreas, como a oncologia.
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A rejeitar a existência de excessos em oftalmologia, o secretário de estado da saúde, Manuel Pizarro, uma vez que Ana Jorge parece, em definitivo, devotada ao “pivoteio” do diário da gripe, defendeu a prioridade existente de operar o elevado número de doentes há largos meses em lista de espera.
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Se a intenção era atingir o PIO, a critica do presidente da SPO terá ricocheteado na direcção da classe médica, ao referir os muitos doentes com cataratas que podem manter uma boa qualidade de vida sem cirurgia. Actualmente «há em muitos diagnósticos uma componente subjectiva e os próprios doentes, devido ao marketing que tem sido feito à volta da catarata, se notam algum problema de visão pensam logo que é uma catarata».
Afinal, não são os médicos responsáveis pelo diagnóstico dos doentes que lotam as listas de espera?

O que parece indiscutível é a necessidade de submeter os resultados do PIO a rigorosa avaliação de forma a apurar se continuamos a Investir naquilo que é mais necessário.

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5 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

A selecção dos doentes com indicação cirúrgica é feita pelos médicos hospitalares de acordo com critérios clínicos estritos, previamente definidos.
Será que o dr. António Tavares entende que os médicos do serviço público andam a utilizar outros critérios?

Eu , sinceramente, acho, que o presidente do SPO não acha nada. Simplesmente quis aparecer. Porque um "show off" de vez enquando faz bem ao ego.

2:36 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Os casos de cegueira verificados no Hospital de Santa Maria em seis doentes submetidos a tratamentos com Avastin foram provocados pelo uso de um medicamento errado, apurou a investigação do Ministério Público hoje revelada pelo “Correio da Manhã”.

Segundo o jornal tratou-se de um erro levado a cabo na rotulagem e confirmação do medicamento em causa à chegada à farmácia hospitalar. Na preparação, o medicamento é identificado com um rótulo branco, autocolante, onde o nome da substância é escrito à mão com uma caneta de ponta de feltro.

Na passagem para a farmácia, esse recipiente, com o medicamento, é borrifado com álcool, o que fez com que o nome da substância ficasse ilegível. Muitas vezes a própria etiqueta descola-se. Só era legível um B, que, quer a farmacêutica, uma jovem, com dois anos de hospital, quer o manuseador, pensaram ser da substância activa do Avastin, o bevacizumab. Mas, ao que o processo do Ministério Público apurou, a substância era afinal um substituto de quimioterapia, também começado por B, que matou as células fora dos vasos sanguíneos. Três dos doentes podem não voltar a ver.

São assim o manuseador e a farmacêutica, que não confirmaram se a substância era a correcta, os dois arguidos no processo, diz o “Correio da Manhã”. Mas a qualificação jurídica do crime, que pode ir de ofensas corporais agravadas a negligência, ainda não foi definida. Ambos os profissionais continuam em funções, com Termo de Identidade e Residência como medida de coacção.

Apenas cinco dos seis doentes apresentou queixa.
JP 17.10.09

Isto é que devia trazer preocupado o dr. António Travassos.

9:30 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Penso que António Travassos pôs o dedo na ferida ao chamar a atenção para o facto de poderem estar a ser operados às cataratas doentes que não necessitavam da intervenção. É isso pelo menos que faz suspeitar a quase duplicação das intervenções previstas num semestre, 15 mil cirurgias previstas 26.797 realizadas.
Não se trata aqui de saber se os doentes são operados no público ou no privado, nesta caso ambos os sectores estão envolvidos no programa PIO, mas do facto do pagamento ser feito à peça e da ausência de controlo e monitorização do programa. Convenhamos que quando um Oftalmologista pode receber muito mais num dia de trabalho a tirar cataratas que num mês de trabalho hospitalar a tendência óbvia é que a mão lhe fuja para a catarata. Ou não será assim

8:58 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

Em relação ao comentário do Tavisto,parece-me importante referir o seguinte:

Para lá da pressão política do momento, despoletada pela iniciativa dos autarcas, havia milhares de doentes em longa lista espera (diagnóstico feito) que era importante atacar.

Executado o programa o que importa apurar é se o seu impacto na redução das listas de espera foi ou não efectivo, facto que me parece irrefutável.
A par disto, no âmbito do programa foram também operados doentes com diagnóstico mais recente. Aqui, efectivamente, poderá ter havido, como o Tavisto refere, derrapagem para a catarata.
Analisando os dados estatistico o número destes casos não me parece importante. Não se justificando, por conseguinte, no meu entender, o alarme feito pelo dr. Travassos.

8:49 da manhã  
Blogger Joaopedro said...

Também me parece, em relação a este caso, que o dr. Travassos perdeu uma boa oportunidade de estar calado.
A não ser que o presidente do SPO disponha de outros dados estatísticos mais consistentes que confirmem o que afirma, dado o rácio de comparação com os países da UE que apresentou estar enviesado pelos dados de produção do PIO.

9:05 da manhã  

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