A oportunidade de Ana Jorge
foto GH
Alguns pontos relevantes da entrevista do Professor Sakellarides link
• Tal como na segunda metade do ciclo político tem que se entender que não é possível iniciar novas reformas, também tem que se entender que se não forem iniciadas e reforçadas na primeira metade, também não o serão na segunda.
• A ministra da Saúde tem agora a oportunidade de aproveitar a fase mais doce e susceptível à mudança que é o início do segundo mandato do Governo. É a grande oportunidade...
• O que se espera é que seja completada até ao final da legislatura. Agora isso implica que, no princípio desta nova legislatura, se faça uma reavaliação cuidadosa do ponto da situação da reforma. É preciso ser muito objectivo quanto ao que correu bem e ao que correu mal. E houve coisas que correram menos bem.
• A criação de unidades de saúde familiar (USF) foi um sucesso, porque implicou uma forma completamente diferente de estar no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Agora, os agrupamentos de centros de saúde (ACES) não seguiram o mesmo método, seguiram o mais antigo.
• Como nasceram no fim do ciclo político, não tiveram as condições necessárias para arrancar da melhor forma possível. Agora vão ter essa oportunidade.
• O que as USF têm de extraordinário é que são um contraponto ao que há de mais ineficaz no sistema de saúde tradicional. E os ACES ou são da raça das USF, ou são da raça da administração pública tradicional da saúde. E se forem desta, vão acabar por prejudicar as USF.
JN - Há esse risco?
Acho que é o mais provável. A experiência mostra que estas aventuras extraordinárias como as USF são absorvidas pelo status quo. É preciso uma luta tremenda para que não aconteça, para que não envelheçam e se tornam como o resto. Costumo dizer que a criação das USF foi a reforma improvável.
Constantino Sakellarides, entrevista de Ivete Carneiro, JN 03.11.09
Alguns pontos relevantes da entrevista do Professor Sakellarides link
• Tal como na segunda metade do ciclo político tem que se entender que não é possível iniciar novas reformas, também tem que se entender que se não forem iniciadas e reforçadas na primeira metade, também não o serão na segunda.
• A ministra da Saúde tem agora a oportunidade de aproveitar a fase mais doce e susceptível à mudança que é o início do segundo mandato do Governo. É a grande oportunidade...
• O que se espera é que seja completada até ao final da legislatura. Agora isso implica que, no princípio desta nova legislatura, se faça uma reavaliação cuidadosa do ponto da situação da reforma. É preciso ser muito objectivo quanto ao que correu bem e ao que correu mal. E houve coisas que correram menos bem.
• A criação de unidades de saúde familiar (USF) foi um sucesso, porque implicou uma forma completamente diferente de estar no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Agora, os agrupamentos de centros de saúde (ACES) não seguiram o mesmo método, seguiram o mais antigo.
• Como nasceram no fim do ciclo político, não tiveram as condições necessárias para arrancar da melhor forma possível. Agora vão ter essa oportunidade.
• O que as USF têm de extraordinário é que são um contraponto ao que há de mais ineficaz no sistema de saúde tradicional. E os ACES ou são da raça das USF, ou são da raça da administração pública tradicional da saúde. E se forem desta, vão acabar por prejudicar as USF.
JN - Há esse risco?
Acho que é o mais provável. A experiência mostra que estas aventuras extraordinárias como as USF são absorvidas pelo status quo. É preciso uma luta tremenda para que não aconteça, para que não envelheçam e se tornam como o resto. Costumo dizer que a criação das USF foi a reforma improvável.
Constantino Sakellarides, entrevista de Ivete Carneiro, JN 03.11.09
António Rodrigues
Etiquetas: Entrevistas
7 Comments:
Nem de propósito. Acabava de ler a entrevista do Professor Sakellarides e deparei-me com este título do Público:
“Fecho de hospital contestado em S. João da Madeira."
Refere a notícia que treze instituições da cidade fizeram questão de vincar a sua posição no processo de discussão pública do estudo Reordenamento Hospitalar da Área Metropolitana do Porto da ARS Norte.
O Estudo da ARS apresenta cenários de reordenamento hospitalar na Área Metropolitana do Porto “que possam contribuir para uma melhoria da capacidade assistencial das várias unidades territoriais, tendo em consideração critérios de segurança, qualidade assistência e acessibilidade das populações a cuidados hospitalares.”
S. João da Madeira está inserido na NUT III – Entre Douro e Vouga – que inclui outros 4 concelhos (Vila da Feira, Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra e Arouca), e onde estão instaladas três unidades hospitalares: o Hospital de S. Sebastião e os Hospitais de S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis.
O estudo conclui que, naquela área, não há desajustamentos globais significativos, em termos de capacidade instalada, recomendando apenas o reforço da carteira de serviços em Dermatologia, Nefrologia, Psiquiatria e Pedopsiquiatria e Medicina Nuclear.
Sendo o Hospital de S. Sebastião uma unidade moderna, e apresentando os outros dois hospitais graves limitações infra-estruturais, o cenário recomendado pelo estudo faz todo o sentido: substituição dessas duas unidades, por um novo hospital de proximidade, com forte capacidade resolutiva ao nível do ambulatório.
A concentração de recursos humanos e tecnológicos na nova estrutura, permitirá assegurar a massa crítica suficiente para prestar mais e melhores cuidados.
Claro que a política de campanário se dá mal com decisões baseadas em conhecimentos técnico-científicos.
Por isso as “forças vivas” e os autarcas vão lutar, “ferozmente”, pelos supostos interesses das “suas” populações.
Mesmo aqueles que, depois, reclamam, publicamente, contra os gastos excessivos do Estado.
Parafraseando o Dr. Sakellarides, diria que “A Ministra da Saúde tem agora a oportunidade de aproveitar a fase mais doce e susceptível à mudança que é o início do segundo mandato do Governo”, para defender e fazer vingar a proposta da ARS Norte.
Esperemos que não a enjeite.
Ponto importante: Falta saber o que é que José Sócrates vai deixar fazer.
«Melhorar, no âmbito das Parcerias Público-Privadas (PPP), os instrumentos de gestão, no acompanhamento e avaliação dos compromissos contratuais estabelecidos.»
Programa do XVIII Governo Constitucional
Mais transparência, precisa-se
Chama-se a especial atenção da senhora ministra para este problema.
Há falta de informação sobre as regras e constituição das equipas de fiscalização dos contratos PPP.
Do que se conhece, parece-me faltar aos responsáveis das equipas "apport técnico", distanciamento e experiência para desenvolverem com êxito tão espinhosa missão.
Nesta terra de brandos costumes todos sabemos como se fazem estas nomeações.
Será que as empresas objecto desta fiscalização também são ouvidas como parte interessada?
A grande maioria dos problemas poderia ser evitada caso houvesse mais transparência sobre esta matéria.
O professor Sakellarides tenta puxar nesta entrevista pela camisola da ministra da saúde.
Todos nós já conhecemos os seus pontos fortes e fraquezas.
O êxito da sua governação vai depender não só do trabalho da sua equipa do MS como também de todo o Governo.
E aqui há igualmente inúmeras fragilidades.
Apetece repetir a anedota do costume: prognósticos só no fim, sabendo, à partida, que a execução do programa de reformas é absolutamente fundamental para a sobrevivência do SNS.
Excelente e oportuna entrevista do professor CS.
Porque será que a maioria dos portugueses que se interessam por estas coisas da gestão da saúde apreciam o trabalho do professor Sakellarides?
Talvez porque o professor mesmo no desempenho de cargos políticos nos dá a sensação de desenvlver um trabalho competente, sério e rigoroso.
Foram recentemente (só agora) publicados os "Relatórios e Contas Hospitais EPE de 2008" link
Falta cá o Tonitosa para passar a pente fino esta informação.
A esperança da continuidade de uma nova Ministra
A recente nomeação de Ana Jorge para nova ministra da Saúde do XVIII Governo Constitucional, leva-me a fazer dois comentários de fundo.
O primeiro, prende-se com o facto de a ex e actual ministra da Saúde representar uma esperança de continuação estruturante do diálogo com os parceiros sociais, continuando com o rumo traçado na última fase do Governo anterior: a reforma dos cuidados de saúde primários (CSP), o desenvolvimento da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (CCI) e a continuação do processo de negociação colectiva com os médicos e restantes profissionais de saúde para a implementação das respectivas carreiras profissionais em todos os estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), independentemente do estatuto jurídico.
O segundo diz respeito ao contexto actual de governação, muito distinto do precedente, não só porque faz parte de um Executivo sem apoio parlamentar maioritário, mas também porque, é bom recordar, a ex-ministra da Saúde teve como missão substituir Correia de Campos e apaziguar os ânimos dos autarcas e da população que contestavam a nova rede de Urgência e o fecho de várias maternidades.
Agora, Ana Jorge deverá ter capacidade de iniciar um novo ciclo, concentrando-se na liderança efectiva da modernização do SNS e das reformas em curso (CSP e CCI), além de ter também que liderar outras reformas necessárias, como a verdadeira criação de uma rede nacional de Urgência e a modernização do hospital público, que deverá responder melhor às necessidades da população, sem derrapagens nos custos.
Interiorizar uma nova cultura
A reforma dos CSP, na qual foram dados passos importantíssimos, embora muito longe do definitivo, necessita agora de ser consolidada do ponto de vista das estruturas enquadradoras e de suporte. É preciso fazer interiorizar uma nova cultura, nomeadamente, por parte dos diferentes níveis da administração da Saúde.
O desafio consiste na criação de um efectivo dispositivo de apoio e condução da implementação dos agrupamentos de centros de saúde (Aces), convenientemente liberto e independente da tradicional administração, liderada pela própria ministra, de forma a garantir a ruptura com o modelo tradicional, burocrático e de comando-controlo, substituindo-o pela monitorização pública do desenvolvimento da reforma.
Nestas matérias não pode haver tibiezas nem concessões à «máquina» instalada, visto que, segundo George Clemenceau, que falava sobre os generais e a guerra, a condução dos destinos de uma reforma é demasiado importante para ser deixada nas mãos de tecnocratas.
Claro que o seu êxito dependerá, e muito, da capacidade que a nova ministra da Saúde, tiver em constituir uma verdadeira equipa central (secretários de Estado, gabinete, ACSS e task force) e regional, leia-se conselhos de administração das ARS.
Significa perceber que também no SNS, o papel das lideranças é decisivo. Elas devem ser esclarecidas, cultas, informadas, reconhecidas, motivadas e… regularmente avaliadas.
Desejo a Ana Jorge um bom governo e espero que, para levar a bom porto as reformas programadas, nomeadamente a tão publicitada implementação dos Aces, se dedique ao que é verdadeiramente relevante -- liderar a reforma dos CSP.
Fico, assim, à espera de uma «nova» ministra.
António Rodrigues
TEMPO MEDICINA ONLINE 05.11.09
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