Chega de resgates
Se, como tudo indica, Portugal não for capaz de voltar aos mercados em Setembro do próximo ano, a última coisa que o país precisa é de um segundo “resgate”.
Isso seria atirar mais lenha para a fogueira. Qualquer reforço do empréstimo internacional não é apenas mais dívida, é mais dívida sénior, protegida de possíveis reestruturações.
Portugal não convence os investidores porque não cresce, não é porque tem feriados a mais. É impossível a uma economia que destrói riqueza compulsivamente conseguir travar o aumento da dívida. Antecipando esse cenário, em vez de admitir um segundo "resgate" o Governo deve, com discrição, começar a trabalhar numa renegociação da dívida com os credores, pelo menos estendendo as maturidades e reduzindo os juros. O Ecofin em Maio de 2011 até "encorajou" a negociação com os credores "numa base voluntária", embora só para "manter a sua exposição à dívida". Os próprios mercados já descontaram o efeito de uma reestruturação há algum tempo. Só os políticos continuam a viver na ilusão de que estas dívidas são reembolsáveis neste contexto recessivo. Assim, por uma vez, seriamos autores do nosso guião nesta crise.
É claro que será mau para a reputação do País. Mas, além desta crise ser de responsabilidade partilhada com os bancos e a zona euro, qual é a alternativa? Portugal já não se livra do contágio e está apenas alguns meses atrás da Grécia neste processo. Há dois anos que faz tudo o que lhe pedem, está sempre "no bom caminho" e vai ficando pior. É certo que não tem a mesma dívida pública que a Grécia mas tem um nível de dívida privada dramático: a recessão vai ampliar o mal parado e este vai expor ainda mais os bancos, sobrando a factura para as contas públicas.
Não se trata de um ‘default' devastador como foi o da Alemanha no pós-guerra (o último caso na Europa ocidental). A reestruturação da dívida grega, que se perfila em Atenas, está muito longe de ser o "Lehman Brothers europeu" que se antevia em Bruxelas há apenas oito meses. Os credores perceberam que mais vale um pássaro na mão que dois a voar e aceitaram anular metade do valor facial de dívida privada grega.
E não dá para esperar por 2013. A seguir ao Verão, o FMI só pode continuar a emprestar dinheiro ao País se este der garantias de solvência nos 12 meses seguintes. Por isso, ecos de que Vítor Gaspar sondou investidores para este cenário, durante a sua visita a Londres na semana passada, são um sinal de que, apesar da forma como se expressa, o ministro não estará totalmente desligado da realidade. Num ciclo recessivo e sem margem política para expansionismos, só uma redução administrativa da dívida e um período mais longo para digerir a austeridade podem impedir uma ruptura social e financeira, que - no limite - pode empurrar o país para fora do euro.
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Luís Rego, DE 08.02.12
Isso seria atirar mais lenha para a fogueira. Qualquer reforço do empréstimo internacional não é apenas mais dívida, é mais dívida sénior, protegida de possíveis reestruturações.
Portugal não convence os investidores porque não cresce, não é porque tem feriados a mais. É impossível a uma economia que destrói riqueza compulsivamente conseguir travar o aumento da dívida. Antecipando esse cenário, em vez de admitir um segundo "resgate" o Governo deve, com discrição, começar a trabalhar numa renegociação da dívida com os credores, pelo menos estendendo as maturidades e reduzindo os juros. O Ecofin em Maio de 2011 até "encorajou" a negociação com os credores "numa base voluntária", embora só para "manter a sua exposição à dívida". Os próprios mercados já descontaram o efeito de uma reestruturação há algum tempo. Só os políticos continuam a viver na ilusão de que estas dívidas são reembolsáveis neste contexto recessivo. Assim, por uma vez, seriamos autores do nosso guião nesta crise.
É claro que será mau para a reputação do País. Mas, além desta crise ser de responsabilidade partilhada com os bancos e a zona euro, qual é a alternativa? Portugal já não se livra do contágio e está apenas alguns meses atrás da Grécia neste processo. Há dois anos que faz tudo o que lhe pedem, está sempre "no bom caminho" e vai ficando pior. É certo que não tem a mesma dívida pública que a Grécia mas tem um nível de dívida privada dramático: a recessão vai ampliar o mal parado e este vai expor ainda mais os bancos, sobrando a factura para as contas públicas.
Não se trata de um ‘default' devastador como foi o da Alemanha no pós-guerra (o último caso na Europa ocidental). A reestruturação da dívida grega, que se perfila em Atenas, está muito longe de ser o "Lehman Brothers europeu" que se antevia em Bruxelas há apenas oito meses. Os credores perceberam que mais vale um pássaro na mão que dois a voar e aceitaram anular metade do valor facial de dívida privada grega.
E não dá para esperar por 2013. A seguir ao Verão, o FMI só pode continuar a emprestar dinheiro ao País se este der garantias de solvência nos 12 meses seguintes. Por isso, ecos de que Vítor Gaspar sondou investidores para este cenário, durante a sua visita a Londres na semana passada, são um sinal de que, apesar da forma como se expressa, o ministro não estará totalmente desligado da realidade. Num ciclo recessivo e sem margem política para expansionismos, só uma redução administrativa da dívida e um período mais longo para digerir a austeridade podem impedir uma ruptura social e financeira, que - no limite - pode empurrar o país para fora do euro.
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Luís Rego, DE 08.02.12
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Alemanha admite flexibilixar programa da troika a Portugal.
Numa conversa informal antes da reunião do Eurogrupo em Bruxelas, o ministro das Finanças alemão tranquiliza Vítor Gaspar com a disponibilidade para um reajustamento no pacote de ajuda, mas só após a situação da Grécia estar resolvida.
O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, disse hoje ao homólogo português, Vítor Gaspar, que face ao sucesso negocial relativo ao segundo pacote de ajuda internacional à Grécia, a Alemanha está disponível para rever as condições do acordo assinado com Portugal.
"Após a decisão substancial sobre a Grécia, se depois houver a necessidade de reajustamento do programa português, nós estamos prontos para o fazer", disse Wolfgang Schauble ao ministro das Finanças português, numa conversa informal antes de ter início a reunião do Eurogrupo, em Bruxelas, filmada pela estação televisiva portuguesa TVI.
Vítor Gaspar agradeceu a disponibilidade da Alemanha para flexibilizar as condições do empréstimo da troika a Portugal. "Isso será muito apreciado", respondeu o ministro português.
O governante alemão ainda explicou a Gaspar que a revisão do pacote financeiro a Portugal só será possível após a situação grega ser
resolvida com sucesso, porque "o problema é que os membros do parlamento alemão e da opinião pública não acreditam" na capacidade dos
esforços do governo alemão relativamente à Grécia serem bem sucedidos.
"Fizemos progressos substanciais", retorquiu Vítor Gaspar, obtendo a concordância do seu homólogo alemão.
Expresso “on line”
Wolfgang Schauble diz a um subserviente Vítor Gaspar que se os gregos se safarem a Alemanha nos desaperta um bocadinho o garrote. Merkle diz da Madeira em público o que Cavaco não ousa dizer em privado. Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, crítica Passos Coelho por apelar ao investimento Angolano em Portugal, nada podendo Miguel Relvas fazer para que seja despedido do cargo.
A Alemanha é que manda nisto e o resto é conversa!
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