A Europa funciona como um ‘G1’
Portugal está a perder muito mais do que a sua autonomia financeira com o pedido de resgate. O País está a abdicar de ter qualquer objectivo na política europeia que não seja o de ouvir a satisfação de Berlim com o esforço que está a ser feito em Lisboa.
Infelizmente, este não é um problema só de Portugal. É uma nova fase da vida europeia. Antigamente havia os amigos do peixe contra os amigos da pesca, grandes contra pequenos, atlantistas contra continentalistas. Os países faziam e desfaziam alianças consoante interesses. Antes negociavam, agora suplicam todos à Alemanha. Se o mundo se tornou num G2 (EUA e China) a Europa transformou-se num G1.
Só assim se explica que o ponto alto da preparação da última cimeira europeia por parte do Governo português tenha sido uma reunião atípica, em Berlim, a convite da chanceler Angela Merkel, com os líderes da Suécia e da Áustria. O que une Portugal a estes países? Ou que dizer do entusiasmo com que os irlandeses anunciaram o encontro do seu primeiro-ministro com os líderes da Dinamarca, Polónia e Finlândia? Com alinhamentos que recordam um resultado do sorteio para a fase de grupos do Europeu, os países fazem tudo para mostrar que não têm nada a ver com a periferia. Sobretudo os da própria periferia. Mas se há coisa que a crise tem demonstrado é que, com as devidas distâncias, a Grécia somos todos nós. Por este andar, nem os países mais ricos estão a salvo. Os países vítimas da crise rejeitam qualquer frente comum e tratam-se como se estivessem todos de quarentena. É a máxima de "o meu país não é igual à Grécia" levado ao extremo. Mesmo entre países com laços históricos. Mariano Rajoy visitou há pouco Lisboa mas desde os tempos de Zapatero e Sócrates que Madrid adia uma cimeira ibérica. Não se entende que Portugal se orgulhe da audiência em Berlim e não tome a iniciativa de ir Roma, onde Mário Monti, está a ensaiar uma oposição prudente mas construtiva face à Alemanha, dizendo que "sem mais apoio da UE os esforços nacionais podem falhar".
Por este andar, o aumento e a flexibilização do fundo de resgate, um roteiro para os eurobonds ou um papel mais forte do BCE, só vão acontecer quando Berlim quiser. Os países subestimam as suas armas de arremesso numa negociação, julgam que Berlim tem os mercados na mão e esquecem que o êxito da Alemanha depende do (valor do) euro.
Em Portugal, esta falta de visão política é personificada por Vítor Gaspar, o tecnocrata que o primeiro-ministro nomeou como ministro de Finanças e na prática como ministro dos Assuntos Europeus. Como se tem notado, para Paulo Portas sobram apenas os Negócios Estrangeiros como o Irão ou a Síria. O seu tacto político até podia acrescentar aqui alguma visão estratégica mas, por outro lado, também o aconselha a poupar-se a temas potencialmente combustíveis.
Luís Rego, DE 01.02.12
Infelizmente, este não é um problema só de Portugal. É uma nova fase da vida europeia. Antigamente havia os amigos do peixe contra os amigos da pesca, grandes contra pequenos, atlantistas contra continentalistas. Os países faziam e desfaziam alianças consoante interesses. Antes negociavam, agora suplicam todos à Alemanha. Se o mundo se tornou num G2 (EUA e China) a Europa transformou-se num G1.
Só assim se explica que o ponto alto da preparação da última cimeira europeia por parte do Governo português tenha sido uma reunião atípica, em Berlim, a convite da chanceler Angela Merkel, com os líderes da Suécia e da Áustria. O que une Portugal a estes países? Ou que dizer do entusiasmo com que os irlandeses anunciaram o encontro do seu primeiro-ministro com os líderes da Dinamarca, Polónia e Finlândia? Com alinhamentos que recordam um resultado do sorteio para a fase de grupos do Europeu, os países fazem tudo para mostrar que não têm nada a ver com a periferia. Sobretudo os da própria periferia. Mas se há coisa que a crise tem demonstrado é que, com as devidas distâncias, a Grécia somos todos nós. Por este andar, nem os países mais ricos estão a salvo. Os países vítimas da crise rejeitam qualquer frente comum e tratam-se como se estivessem todos de quarentena. É a máxima de "o meu país não é igual à Grécia" levado ao extremo. Mesmo entre países com laços históricos. Mariano Rajoy visitou há pouco Lisboa mas desde os tempos de Zapatero e Sócrates que Madrid adia uma cimeira ibérica. Não se entende que Portugal se orgulhe da audiência em Berlim e não tome a iniciativa de ir Roma, onde Mário Monti, está a ensaiar uma oposição prudente mas construtiva face à Alemanha, dizendo que "sem mais apoio da UE os esforços nacionais podem falhar".
Por este andar, o aumento e a flexibilização do fundo de resgate, um roteiro para os eurobonds ou um papel mais forte do BCE, só vão acontecer quando Berlim quiser. Os países subestimam as suas armas de arremesso numa negociação, julgam que Berlim tem os mercados na mão e esquecem que o êxito da Alemanha depende do (valor do) euro.
Em Portugal, esta falta de visão política é personificada por Vítor Gaspar, o tecnocrata que o primeiro-ministro nomeou como ministro de Finanças e na prática como ministro dos Assuntos Europeus. Como se tem notado, para Paulo Portas sobram apenas os Negócios Estrangeiros como o Irão ou a Síria. O seu tacto político até podia acrescentar aqui alguma visão estratégica mas, por outro lado, também o aconselha a poupar-se a temas potencialmente combustíveis.
Luís Rego, DE 01.02.12
Etiquetas: crise euro
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