sábado, fevereiro 4

SNS, insustentável em 2012

Governo PSD/CDS e”troika estrangeira” criam uma situação insustentável ao SNS em 2012 link

A intenção de reduzir o défice orçamental numa dimensão incomportável num curto período de tempo, para além de arrastar o país para uma profunda e prolongada recessão económica está a por em perigo o funcionamento do próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS), vital para todos os portugueses. E isto porque os cortes nas transferências em 2012 para o SNS, associados aos já verificados em 2011, assim como a aprovação de uma lei na Assembleia da República em Fevereiro deste ano que reduz ainda mais os fundos disponíveis para a saúde e que criminaliza, atingindo não apenas dirigentes e gestores mas até os próprios responsáveis pela contabilidade, por qualquer compromisso que ultrapasse os limites daqueles fundos definidos administrativamente, vai por em causa o funcionamento nomeadamente dos Hospitais EPE.

Entre 2011 e 2012, as transferências em valores nominais do OE para o SNS diminuem de 8.250 milhões € para 7.590,1 milhões € , e para o Hospitais EPE baixam de 4.510,5 milhões € para 4.210,5 milhões €. O confisco aos trabalhadores em 2012 do subsidio de férias e de Natal não é suficiente para compensar estas elevadas reduções verificadas num único ano, quando os preços e impostos (ex. IVA) sobem. Em anos anteriores a insuficiência das transferências determinou elevados prejuízos nos Hospitais EPE e o disparar das dividas do SNS. Desde a sua criação em 2003, os Hospitais EPE já tiveram 2.267,4 milhões € de prejuízos operacionais (os directamente referentes à sua actividade principal que é a prestação de serviços de saúde à população). Como consequência da insuficiência das transferências do Orçamento do Estado, e para que os serviços do SNS pudessem funcionar e prestar cuidados de saúde à população, nomeadamente hospitalares, no fim do 4º Trimestre de 2010, as dividas do Serviço Nacional de Saúde atingiam 2.468,4 milhões € e, no fim do 3º Trimestre de 2011, já eram 2.932,4 milhões €, ou seja, aumentaram 464 milhões € (+18,8%) em apenas nove meses. Deste total, a maior parte refere-se aos Hospitais EPE cujas dividas, em 2010, já representavam 67,2% do total da divida tendo aumentado, no 3º Trimestre de 2011, para 75,4% do total do endividamento do SNS.

Em 2012, a “troika estrangeira” e o governo PSD/CDS reduziram significativamente as transferências do OE para o SNS, e ao mesmo tempo, por lei, criminalizaram qualquer compromisso que ultrapasse os limites de fundos disponíveis definidos administrativamente, que correspondem a “75% da média da receita efectiva cobrada nos últimos dois anos nos períodos homólogos, deduzida dos montantes de receita com carácter pontual ou extraordinário”, ou seja, uma redução superior a 25%, isto é um valor ainda inferior às transferências a que o SNS e os Hospitais EPE têm direito em 2012 (a redução nas transferências, entre 2011 e 2012, foi de 8,8% para o SNS e de 6,6% para os Hospitais EPE). É evidente que com esta redução de facto tão elevada e com a ameaça, se forem ultrapassados aquele limite de 75%, dos “ titulares de cargos políticos, dirigentes, gestores ou responsáveis pela contabilidade que assumam compromissos em violação do previsto na presente lei incorrem em responsabilidade civil, criminal, disciplinar e financeira, sancionatória e ou reintegratória” é previsível que muitos serviços de unidades de saúde, nomeadamente dos Hospitais EPE, fiquem impossibilitados de funcionar normalmente e que tenham de paralisar ou fechar serviços, com consequências dramáticas para a população.

A racionalização das despesas do SNS, o aumento da eficiência na utilização dos meios humanos, materiais financeiros postos ao dispor do SNS, e o combate ao desperdício e à má gestão, etc., são absolutamente necessárias e urgentes, mas isso não pode ser feito da forma cega e “economicista” e à custa da redução significativa dos serviços de saúde prestados à população, nem por meio de um aumento brutal das taxas moderadoras, como sucedeu em 2012 que subiram, em média, 100%, como está a ser feita pela “troika estrangeira” e pelo governo PSD/CDS. O combate ao desperdício, à subutilização ou má utilização de meios (por ex., os blocos operatórios dos hospitais continuam a ser utilizados em apenas 57% do seu tempo e milhares de portugueses estão em lista de espera), à má gestão, etc. é necessário fazer através do seu levantamento exaustivo e rigoroso, com a participação dos profissionais de saúde, que deve ser tornado público e objecto de debate também público, com o objectivo de que sejam tomadas medidas rápidas e rigorosas para os eliminar. O Tribunal de Contas, numa auditoria que fez há já vários anos ao SNS concluiu que o desperdício, a má utilização e a subutilização dos meios, e também a má gestão, representavam cerca de 20% dos custos do SNS. Apesar disso, o Ministério da Saúde nunca fez nada para alterar a situação. A própria ERS, no seu recente relatório “Análise da Sustentabilidade Financeira do SNS – 29.9.2011” – segue o mesmo caminho, propondo medidas que agravam as dificuldades das famílias (aumento de taxas, redução de isentos, etc.) , sem fazer qualquer levantamento rigoroso da situação do SNS. O governo e a “troika estrangeira, no lugar de mandarem fazer esse levantamento, optaram por medidas administrativas cegas que só podem levar à destruição do SNS.

Engénio Rosa

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3 Comments:

Blogger Clara said...

"There is a need and an opportunity to act for the sake of the NHS.”

Pedro Pita Barros

Por vezes duvido que pessoas inteligentes com conhecimentos profundos da Saúde, perante um cenário destes, consigam limitar-se a dizer semelhantes disparates.
Depois não venham dizer daqui a uns meses que não foram coniventes com a carnicifina.

10:57 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Médicos fazem trabalho gratuito para o SNS.

Centenas de profissionais de saúde deverão nos próximos meses ir trabalhar, alguns gratuitamente, nos serviços públicos onde é mais gritante a falta de pessoal, naquela que será uma das primeiras iniciativas da Fundação Serviço Nacional de Saúde (FSNS). Em entrevista à Agência Lusa, o antigo director geral da Saúde Constantino Sakelarides, que é o “rosto” da FSNS, revelou que tem recebido “dezenas” de contactos de profissionais de saúde que, desta forma, querem ajudar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Sakelarides faz, desde logo, uma ressalva: “A Fundação não pretende, dessa forma solidária, resolver os problemas do SNS”. “Esta é uma forma específica para responder a uma crise, em que as soluções rápidas não podem ser encontradas logo”, adiantou. Ao mesmo tempo que a FSNS – apresentada no passado dia 26 de Outubro – constitui os seus corpos sociais, alguns dos seus elementos estão a fazer contactos, a nível nacional e regional, para avançar com a bolsa de recursos humanos solidários.
Destes contactos resultou a convicção de Sakelarides de que serão centenas os profissionais de saúde que, dentro de meses, avançarão para várias zonas do país, nomeadamente aquelas mais desprovidas deste pessoal. “Há pessoas que, como eu, estão dispostas a dar uma percentagem do seu tempo, gratuitamente. Outras não poderão fazê-lo gratuitamente, mas podem ter uma opção solidária.”

Publico 04/12/2012



Como demonstra Eugénio Rosa a sustentabilidade do SNS está hoje claramente posta em causa. Contribuir para reverter esta situação é um dever de todos nós, especialistas do sector em particular. Não me parece porém que iniciativas do tipo “banco alimentar” para a Saúde sejam as mais apropriadas. É que, por melhor intencionadas que sejam, correm o risco de ter um efeito contraproducente ao admitir que atitudes assistencialistas possam ser alternativa, ou colmatar falhas, de um Serviço Público que só por opção ideológica deixará de ter cobertura geral, universal e acesso tendencialmente gratuito.

11:03 da tarde  
Blogger saudepe said...

Luís Cunha Ribeiro diz que os tempos do «Estado paizinho» têm de acabar e avança que está para muito breve, na Região de Lisboa e Vale do Tejo, a fusão de hospitais, a redução de 10 Aces e de mais de 400 camas.

A expressão já tinha sido utilizada em 2010 pela então ministra da Saúde, Ana Jorge, que, a propósito da dívida hospitalar, avisou os conselhos de administração que o Ministério da Saúde não podia ser um «paizinho» dos hospitais e que estes deviam ser responsabilizados pela gestão dos seus financiamentos.

O presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) voltou a pegar nessa expressão, desta vez para demonstrar que, com o acentuar da crise, a preocupação da ARS que agora dirige vai focar-se no que «é mais importante, o que é exequível e o que é possível». Explicitando, Luís Cunha Ribeiro disse que «todos queremos um Estado paizinho. Abrimos camas, públicas ou privadas, e depois vamos dizer ao Estado que tem de contratualizar connosco. Pelo amor de Deus! O paizinho tem de nos dar a mensalidade ao fim do mês, pagando e alimentando isto tudo. Chegámos a um ponto em que isto não pode continuar porque o paizinho ficou com a carteira vazia», alertou o responsável.
Falando numa reunião organizada pela ApegSaúde, em Loures, no passado dia 31, que teve como objectivo reunir ideias para o próximo Congresso do Sistema de Saúde Português, o presidente da ARSLVT, entidade que será anfitriã do congresso, foi claro nas prioridades.
«A preocupação da ARSLVT é optimizar a capacidade instalada. Os meios complementares de diagnóstico representam uma fatia importante do budget da ARS e temos de ver o que é que temos instalado e optimizar. Ponto. Não há discussão.» E, «naquilo que não somos capazes de fazer bem, contratualizar com as regras do mercado de preço e qualidade», explicou o dirigente.

Depois, é necessário fazer o que é preciso. Exemplificando, o responsável avançou que «a ARS vai ter que fechar mais de 400 camas, porque não podemos somar camas. Nós abrimos há uma semana e meia o hospital de Loures, que injectou no sistema mais de 469, e é óbvio que face ao rácio de camas por habitante que temos só há esta solução».

Também «imprescindíveis» serão «as fusões dos hospitais e dos centros hospitalares», pois, assegurou aos presentes, «podem ter a certeza, há muita coisa já a ser feita, a ser proposta a ser estudada para avançar no mais curto espaço de tempo».

Também os cuidados de saúde primários da região de Lisboa sofrerão do fenómeno da redução. Como confirmou Luís Cunha Ribeiro, a ARS já entregou ao Governo «uma proposta de redução dos 22 Aces de Lisboa e Vale do Tejo para 12». Na sua opinião, os Aces vão ficar com «uma dimensão muito interessante em termos de gestão, vão ter planos de negócios na ordem dos 60/70 milhões de euros e já vai ter que haver uma política de governança a esse nível».

TM, 06.02.12

O maior!
Comentários para quê!...
Paulo Macedo, Luís Cunha Ribeiro e o Mendes Ribeiro a troika da Saúde que vai fazer sangue nos hospitais.

11:53 da tarde  

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