sexta-feira, maio 18

Morrer da cura

A insustentável leveza do SNS
Ao fim de múltiplas e longas rondas de negociação, a indústria farmacêutica e o Governo chegaram a acordo: a despesa com medicamentos vai sofrer um corte de 300 milhões de euros, acima da meta definida pela ‘troika’ e dos próprios objectivos do sector, que não admitia passar dos 250 milhões. Uma redução que será conseguida à conta de uma menor despesa tanto nos medicamentos hospitalares como nos que são vendidos nas farmácias. Em troca, o Governo garante que o pagamento das dívidas em atraso a essas empresas será desbloqueado, aliviando assim o torniquete da tesouraria de muitos laboratórios e farmacêuticas. Boas notícias para todos, certo? Certo, são boas notícias para quem investe milhões emprodutos que quer vender ao melhor preço e para quem quer cortar milhões nesses produtos semos quais não pode passar. Mas, para que sejam boas notícias para (mesmo) todos, é preciso garantir que estes cortes profundos na despesa do Estado com a saúde não levama um desinvestimento, em sucessivos cortes cirúrgicos, no próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS). Equilibrar as contas é um passo decisivo, uma espécie de emergência nacional, para que o (já muito frágil) serviço público nesta área não desfaleça de vez.

Mas é preciso que tantos cortes e restrições não retirem aos portugueses os serviços e cuidados mínimos, o acesso a tratamentos básicos e até inovações para as quais contribuem todos os anos.
O SNS está ferido, abalado por cortes de serviços, fechos de unidades médicas, redução de apoios. Reduzir o despesismo que o asfixiou durante décadas é, obviamente, necessário para o manter vivo. Mas é importante que quem negoceia e toma decisões assegure que o doente não morre do mal–mas também que não morre da cura.

editorial, DE 15.05.12

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1 Comments:

Blogger tambemquero said...

Roche mantém bloqueio de remédios aos hospitais, apesar de acordo com a indústria
Laboratório e Ministério da Saúde estão a discutir solução para a dívida hospitalar. Há 23 hospitais públicos afectados
A farmacêutica Roche está “a dialogar com as autoridades”, em particular com o Ministério da Saúde (MS), para encontrar uma solução que coloque um ponto final à nova política de crédito do laboratório, que desde Fevereiro só fornece medicamentos a 23 hospitais mediante pagamento a pronto.
O acordo assinado esta semana entre o Governo e a indústria farmacêutica, ao abrigo do qual o MS se compromete a pagar 60% das dívidas em atraso até final do ano, não foi suficiente para convencer a Roche a repor o fornecimento de medicamentos aos hospitais com mais de 500 dias de atraso nos pagamentos.
“Estamos muito empenhados no diálogo com as autoridades, com o Ministério da Saúde, para que se chegue a uma boa solução para todos e, em primeiro lugar, para os doentes”, disse ao PÚBLICO Tavares de Castro, responsável pela área de Corporate Affairs da Roche.
O laboratório recusa-se, para já, a confirmar qualquer intenção de suspender as actuais medidas que bloquearam o acesso de alguns hospitais aos seus produtos, explicando que “quaisquer declarações feitas, nesta altura, poderão ser prejudiciais ao diálogo em curso”.
O maior fornecedor dos hospitais públicos do país — detém uma quota política comercial com as unidades que somam mais de 500 dias de pagamentos em atraso. Desde essa altura, 23 hospitais portugueses foram forçados a pagar a pronto os medicamentos fornecidos pela Roche para garantir a entrega.
Os hospitais públicos acumulavam então uma dívida à Roche superior a 135 milhões de euros, além de juros de mora no valor de seis milhões. No total, a dívida do Serviço Nacional de Saúde aos laboratórios ascende a 1,2 mil milhões de euros.
Apesar de notícias que vieram a público sobre hospitais que alegadamente pediram estes fármacos “emprestados” a outras unidades ainda com crédito, Tavares de Castro garante que não tem “informação directa ou publicada sobre qualquer problema que possa ter surgido para os doentes”.
Dívida à Roche é de 135 milhões de 40% dos fármacos usados em tratamentos oncológicos, alguns sem alternativa no mercado — decidiu alterar em Fevereiro último a sua

JP 19.05.12

5:01 da tarde  

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