Paulo Macedo corta
160 milhões nos hospitais EPE
Os hospitais-empresa (EPE) vão perder pelo menos 160 milhões
de euros de financiamento no próximo ano. A transferência do Orçamento do
Estado para estas unidades de saúde será – e de acordo com as últimas previsões
do ministério tutelado por Paulo Macedo – de quatro mil milhões de euros em
2014. Para o ano seguinte a dotação dos hospitais deverá manter-se e só em 2016
está previsto um aumento ligeiro do financiamento, em 24 milhões de euros,
avança o Diário Económico.
Os valores constam de um documento da Administração Central
do Sistema de Saúde (ACSS), a que o Diário Económico teve acesso, que transmite
aos serviços de saúde do sector empresarial do Estado as orientações para a
elaboração do plano estratégico dos hospitais 2013-15. O objectivo deste plano
a três anos é permitir que as instituições em desequilíbrio financeiro atinjam
um EBITDA positivo, ou seja, resultados equilibrados em 2015.
O documento, com data de 5 de Abril, foi elaborado tendo em conta
o corte na despesa estrutural – a chamada reforma do Estado – mas não tem ainda
em consideração o ajustamento imposto pelo chumbo do Tribunal Constitucional ao
Orçamento do Estado para 2013. Ou seja, os valores pecam por defeito, podendo
os cortes atingir uma dimensão mais significativa. Fonte que acompanha o
processo disse ao Diário Económico que esta base de trabalho “terá de ser
revista” nos próximos dias.
Recorde-se que este ano os hospitais já perderam 2,5% do
financiamento via contratos-programa (receberam menos 106 milhões de euros do
que em 2012). Contas feitas, entre 2012 e 2016, os hospitais-empresa vão perder
quase 6% do financiamento que lhes chega via Orçamento do Estado.
Esta tendência de quebra no financiamento é justificada
“pelas restrições orçamentais que o país enfrenta e que necessariamente se
reflectem na capacidade de financiamento do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.
Mas vai no sentido inverso às previsões de aumento da
despesa com saúde motivada pelo envelhecimento da população. De acordo com o
Documento de Estratégia Orçamental conhecido esta semana, no universo temporal
2010-2060, as despesas com saúde são as mais pressionadas por este factor, até mais
do que as pensões: em 2010 a despesa pública com saúde valia 7,2% do PIB, mas
deverá chegar a 8,3% em 2060.
A forma que os hospitais terão ao seu alcance para colmatar
o ‘gap’ entre a quebra do financiamento e o aumento da despesa é apostar nas
receitas próprias. De acordo com as orientações da ACSS, “a cobrança efectiva
de receitas próprias deve aumentar ao longo do período [2013-2015] a uma taxa
anual média de 5%”.
Como? Melhorando o processo de cobrança a seguradoras,
apostando no desenvolvimento de ensaios clínicos, captando doentes em lista de
espera para cirurgia em outras entidades do SNS e desenvolvendo projectos de
turismo de saúde, propõe a tutela. A juntar a isto é preciso contar com os
ganhos de eficiência alcançados com a reforma hospitalar.
Sobre isto, o documento pouco diz, lembrando apenas que
“constitui um objectivo dar continuidade à racionalização e reorganização das
instituições, através da concentração de serviços clínicos e de suporte (...) onde
deverão ser operacionalizados os planos de fusão e de racionalização de
custos”. E remata, explicando que o objectivo deve dar lugar a uma diminuição efectiva
do número de camas e à melhoria nas demoras médias dos serviços.
DE 03.05.13
Os hospitais EPE vão perder 160 milhões de euros de
financiamento em 2014. Fora os cortes do ajustamento imposto pelo chumbo
do TC ao OE/2013. Penosos sacrifícios que não impedem o ministro de exigir aos hospitais
o equilíbrio das contas até 2015.
Cortes a eito, medidas avulsas de reorganização da rede
hospitalar, meia bola e força, assim pretende Paulo Macedo conseguir esta verdadeira quadratura do circulo.
Face a este quadro de catastrófico improviso, saúda-se a ironia do ministro quando
repete vezes sem conta aos órgãos de comunicação que a Saúde irá ser poupada.
Paz à sua alma.
Etiquetas: Paulo Macedo
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