Comentário à análise da ERS
1.Em minha opinião este trabalho foi muito bem desenhado e
melhor executado.
Gostei muito: Metodologia usada, sínteses do enquadramento e
da teoria sobre “cost-sharing”; Rigor e exaustividade da análise, incluindo
verificação dos procedimentos instituídos e dos problemas e reclamações que
suscitaram; Objectividade e isenção da análise e das conclusões.
2. Algumas sugestões
2.1.As alterações às taxas moderadoras ( TM) vieram melhorar
a sua eficácia, considerando como critério os 3 motivos para as ter - reduzir o
consumo desnecessário/inapropriado, contribuir para o financiamento e para a
sustentação do sistema, aumentar a equidade?
a) Melhorou a apropriação do SU (% urgentes) e com isso
caminhamos para reduzir a aberração dos”bancos” mas qual o efeito nos CSP e
atendimentos programados? Há sinais de insuficiência global de oferta? Houve
alguma reafectação de profissionais de saúde para reajustar a oferta? Porque
não houve um aumento significativo de CE presenciais nos CSP?
b) O efeito % das TM nas finanças do SNS é pequeno, mas
quando conjugado com a redução de custos em serviços a sustentabilidade melhora
e muito;
c)Como a cobrança efectiva aumentou bastante pode
concluir-se que há agora maior equidade fiscal, entre consumidores e
contribuintes (quando os consumidores não pagavam a conta ficava para os
contribuintes). Equidade territorial- nas grandes cidades houve redução no
sobreconsumo de SU e consultas (CE) hospitalares? Qual o efeito das TM na
substituição de actos no SNS por consumo em privados, via ADSE e subsistemas?
2.2. Deveria ter-se trabalhado melhor a explicitação das questões
e conclusões bem como da sua ligação à comunicação pública.
2.3. O erro principal do MS foi não promover o aumento de
actos em CSP. Primeiro havia que expandir a oferta para substituir o recurso
excessivo aos hospitais. Depois as TM em CSP devem ser ZERO na CE de enfermagem
e muito pequenas na médica. Só assim se garante acesso apropriado a prevenção e
promoção, se promove a substituição de cuidados hospitalares e se evita aí a
inapropriação. As CE não presenciais são muito importantes, nomeadamente as
telefónicas, para acesso imediato e evitar idas ao SU - TM deve ser simbólica.
Ter aumentos de 122% e 163% nas TM de CSP não é aceitável.
3. Questões para discussão
3.1. As TM visam essencialmente o utente mas também o
prescritor.
Em muito actos o doente não decide em exclusivo mas
influencia o prescritor para decisão de prescrever, ex MCDT, ou para omissão,
ex. não dar alta. Depois muitos MCDT são difíceis de controlar pelo SNS –
quantos prescrever, qual foi feito, qualidade – e aí as TM podem ajudar.
3.2. Houve aumento de CE não presenciais que substituíram as
presenciais/? Duvido. Provavelmente o que aumentou foi o registo daquelas,
devido á maior atenção que o rigor dos procedimentos das TM trouxeram.
3.3. Houve redução da procura do SNS que foi induzida pelas
TM? A relação não é fácil de estabelecer pois há vários fatores que confundem:
crise económica e redução do rendimento das famílias, incluindo maior nº de
desempregados sem subsídio; maior dificuldade de transportes (restrições na
gratuitidade em saúde, aumento de tarifas nos transportes públicos); risco de
perder o emprego leva a recusar e adiar CE; maior recurso a privados via ADSE;
maior rigor na identificação (quanto a TM) e no registo de actos – ex.
hospitais registam agora mais CE por passagem de atestado e receituário.
Arreganha a Taxa
O Novo Regime das Taxas Moderadoras link
Etiquetas: ERS, taxas moderadoras
1 Comments:
Foi publicado neste início do mês de Julho um estudo "Impacto das taxas moderadoras na utilização de serviços de saúde"
link
Que em suma conclui que «os resultados encontrados apontam para que o aumento do valor das taxas moderadoras não tenha sido um factor crucial de limitação de acesso a cuidados de saúde em Portugal. A sensibilidade da procura de urgências hospitalares, em particular, aos valores das taxas moderadoras é baixa. A prescrição de medicamentos nas consultas aparenta ter maior impacto financeiro do que as taxas moderadoras sobre os cidadãos. Uma avaliação mais direta das razões para os cidadãos não terem recorrido a cuidados de saúde quando se sentiram doentes mostra que as taxas moderadoras não são encaradas como factor principal, e que o seu papel como barreira de acesso a cuidados de saúde necessários aparenta ser diminuto de acordo com as decisões como reveladas pelos cidadãos.»
Bom...
Este estudo não é carne. Não é peixe.
Mas dá para afastar o aumento das taxas moderadoras como causa do afastamento dos utentes das consultas dos CSP (cerca de milhão e meio em 2012).
As conclusões agradam ao ministro. E podem contribuir para a sossega de consciências dos cidadãos mais distraídos.
Pedro Pita Barros é, cada vez mais, pau para toda a obra, sempre disponível para aparecer e opinar em tudo que diga respeito à Saúde prestando-se com gentileza aos mais variados fretes.
Como se refere no comentário sério do arreganha a taxa:
«Houve redução da procura do SNS que foi induzida pelas TM? A relação não é fácil de estabelecer pois há vários fatores que confundem: crise económica e redução do rendimento das famílias, incluindo maior nº de desempregados sem subsídio; maior dificuldade de transportes (restrições na gratuitidade em saúde, aumento de tarifas nos transportes públicos); risco de perder o emprego leva a recusar e adiar CE; maior recurso a privados via ADSE; maior rigor na identificação (quanto a TM) e no registo de actos – ex. hospitais registam agora mais CE por passagem de atestado e receituário.»
Há quem prefira a pantominice em pretender provar o improvável.
Enviar um comentário
<< Home