Cancro, resultados deixam muito a desejar
A
conclusão global é positiva: em 2012 conseguiu-se o melhor valor de sempre no
tempo de espera por cirurgias no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com a maior
parte dos hospitais a conseguir tratar os doentes em apenas três meses, bem
abaixo do prazo máximo de nove meses previsto na lei. Mas, quando se analisam
com mais atenção os dados do Relatório da Actividade Cirúrgica Programada,
ontem divulgado, percebe-se que os resultados ainda deixam muito a desejar na
área mais sensível, a do cancro: no ano passado, mais de um quinto dos doentes
oncológicos (21,7%) foi operado acima do tempo máximo recomendado na
legislação, e, entre estes, 15,3% eram mesmo considerados prioritários.
Na
oncologia, os tempos máximos de espera previstos na lei são bem mais curtos do
que nas outras áreas — oscilam entre os dois meses e os 15 dias, consoante a
gravidade do caso. O problema é que, se em 2012 a percentagem dos doentes
tratados fora do prazo legal diminuiu face ao ano anterior, a proporção dos
prioritários operados fora do prazo aumentou (era de 13,6% em 2011).
“Actualmente já conseguimos gerir
bem o tratamento das situações normais. Agora, o grande desafio é fazer isso
também na área oncológica, onde não temos melhorado tanto quanto gostaríamos”,
admitiu ao PÚBLICO Pedro Gomes, o cirurgião que coordena o Sistema Integrado de
Gestão de Inscritos para Cirurgia, programa lançado em 2004 para combater as
listas de espera. “No cancro é preciso tratar depressa, mas alguns hospitais
têm dificuldade em articular os vários exames necessários [antes das
cirurgias], como TAC, ressonâncias”, por isso se ultrapassam os prazos para
cirurgias, explicou.
Um outro fenómeno que surpreendeu os
especialistas foi o de que diminuiu em 2012 o número de doentes com tumores
malignos submetidos a cirurgias, quando a evolução demográfica faria antecipar
justamente o contrário, devido ao envelhecimento da população e aumento das
neoplasias. Um mistério que está a ser investigado, revela Pedro Gomes, que
presume que isto possa eventualmente estar relacionado com problemas de acesso
às primeiras consultas, no caso de doentes que residem no interior do país,
porque o tratamento do cancro se faz sobretudo nos grandes centros. “Não sei se
as dificuldades de deslocação e os encargos que os doentes passaram a ter com
os transportes terão contribuído para retirar alguma procura. Se estes doentes
estiverem a chegar mais tarde aos hospitais, podem estar a chegar com
neoplasias em estádios mais elevados, já sem indicação para cirurgia”,
reflecte. ...
JP 28.06.13
No 1.º trimestre de 2013, os CSP realizaram menos 552.340 consultas (-6,9%) em comparação com igual período de 2012. Neste ano, os CSP realizaram -1.446.882 (-4,7%) relativamente a 2011. Só daqui a um bom par de anos vamos saber a verdadeira dimensão do escavacanso provocado por esta política de saúde de aumento insensato das taxas moderadoras.
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