sexta-feira, junho 28

Cancro, resultados deixam muito a desejar

A conclusão global é positiva: em 2012 conseguiu-se o melhor valor de sempre no tempo de espera por cirurgias no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com a maior parte dos hospitais a conseguir tratar os doentes em apenas três meses, bem abaixo do prazo máximo de nove meses previsto na lei. Mas, quando se analisam com mais atenção os dados do Relatório da Actividade Cirúrgica Programada, ontem divulgado, percebe-se que os resultados ainda deixam muito a desejar na área mais sensível, a do cancro: no ano passado, mais de um quinto dos doentes oncológicos (21,7%) foi operado acima do tempo máximo recomendado na legislação, e, entre estes, 15,3% eram mesmo considerados prioritários.
Na oncologia, os tempos máximos de espera previstos na lei são bem mais curtos do que nas outras áreas — oscilam entre os dois meses e os 15 dias, consoante a gravidade do caso. O problema é que, se em 2012 a percentagem dos doentes tratados fora do prazo legal diminuiu face ao ano anterior, a proporção dos prioritários operados fora do prazo aumentou (era de 13,6% em 2011)
“Actualmente já conseguimos gerir bem o tratamento das situações normais. Agora, o grande desafio é fazer isso também na área oncológica, onde não temos melhorado tanto quanto gostaríamos”, admitiu ao PÚBLICO Pedro Gomes, o cirurgião que coordena o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia, programa lançado em 2004 para combater as listas de espera. “No cancro é preciso tratar depressa, mas alguns hospitais têm dificuldade em articular os vários exames necessários [antes das cirurgias], como TAC, ressonâncias”, por isso se ultrapassam os prazos para cirurgias, explicou.
Um outro fenómeno que surpreendeu os especialistas foi o de que diminuiu em 2012 o número de doentes com tumores malignos submetidos a cirurgias, quando a evolução demográfica faria antecipar justamente o contrário, devido ao envelhecimento da população e aumento das neoplasias. Um mistério que está a ser investigado, revela Pedro Gomes, que presume que isto possa eventualmente estar relacionado com problemas de acesso às primeiras consultas, no caso de doentes que residem no interior do país, porque o tratamento do cancro se faz sobretudo nos grandes centros. “Não sei se as dificuldades de deslocação e os encargos que os doentes passaram a ter com os transportes terão contribuído para retirar alguma procura. Se estes doentes estiverem a chegar mais tarde aos hospitais, podem estar a chegar com neoplasias em estádios mais elevados, já sem indicação para cirurgia”, reflecte. ...
JP 28.06.13
No 1.º trimestre de 2013, os CSP realizaram menos 552.340 consultas (-6,9%) em comparação com igual período de 2012. Neste ano, os CSP realizaram -1.446.882 (-4,7%) relativamente a 2011. Só daqui a um bom par de anos vamos saber a verdadeira dimensão do escavacanso provocado por esta política de saúde de aumento insensato das taxas moderadoras.

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