sábado, maio 8

O MINISTRO da SAÚDE, VAI SAIR ?

1. - Como é conhecido, o responsável da Unidade de Missão dos Hospitais SA, José Mendes Ribeiro, apresentou a sua demissão ao ministro da saúde em 30 de Abril, permanecendo em funções até Junho de 2004.

Corre a notícia de que o ministro da saúde, Luís Filipe Pereira, também cessará funções, a partir daquela data.

Durão Barroso, pretenderá nomear, na próxima remodelação ministerial, um responsável para o Ministério da Saúde com maior capacidade de negociação junto das corporações profissionais.

De acordo com mesmo Durão Barroso, a reforma da saúde, planeada para esta legislatura, estará já concluída:

a) - Redução do "deficit" da despesa pública através da transformação de 34 hospitais do Serviço Nacional de Saúde, em sociedades anónimas.(mera manobra de engenharia financeira).

b) - O grande impulso dado ao desenvolvimento do negócio privado da saúde:

- pagamento de 31 milhões de euros à “Mello Saúde SA”, referente a "dívidas" do contrato de concessão de exploração do hospital Fernando da Fonseca.

- lançamento dos concursos para adjudicação da construção e exploração de novos hospitais em regime de parceria com o sector privado(PPP).

- A transformação de 34 hospitais do SNS em sociedades anónimas, abrindo caminho ao sector privado para a participação no capital social das unidades de saúde mais rentáveis (hospital de Santa Marta, por exemplo).


2. - Se sair, o futuro de Luís Filipe Pereira deverá continuar ligado aos negócios da saúde.

Tal como aconteceu com Martins da Cruz (1) , o ex ministro dos Negócios Estrangeiros, contratado pelo consórcio Luso-Oil, controlado pela Carlyle, para desempenhar um papel estratégico na compra dos 45% da Galp energia, também a contratação de Luís Filipe Pereira, por algum dos consórcios privados concorrentes, poderá ser decisiva, através do seu know-how e influência, no desfecho dos concursos de adjudicação dos novos hospitais em regime de parceria público privado (PPP).


3. - São estes os habituais meandros onde se movem os peões da nossa política. (2)
E, em período de vacas magras, vale tudo, para aproveitar as escassas oportunidades.
É certeiro, o comentário de um leitor a um texto, publicado no Diário Económico, sobre a venda, pelo governo, de 45% do capital da Galp, uma empresa que dá lucros que revertem a favor do erário público:
"A venda de 45% do capital da Galp deveria ser efectuada num ciclo económico mais favorável, de forma a realizar o maior número de mais valias para o estado, mas Durão Barroso move-se num terreno de interesses que servem apenas a um punhado gestores ricos e incompetentes, quando o que nós precisávamos era de um verdadeiro reformista."

Para atenuar a angústia que este estado de coisas nos faz, nada melhor do que ir ao Teatro Villaret ver o "deixa-me rir", sátira contundente ao nosso modelo, dito democrático. Está lá tudo, os troca tintas, as falcatruas, os tiques, as saloioadas dos nossos políticos. São 20 euros bem empregues.
Parece que o último dia de representação é hoje, dia 08. É pena.

(1) Que teve de sair do governo por tentar encobrir o caso da cunha metida para a filha entrar no ensino superior.

(2) Ligações perigosas:
Luís Filipe Pereira exerceu funções na "Mello Saúde SA" antes de ser ministro da saúde.
O pagamento do estado de 31 milhões à Mello Saúde SA, carece de investigação para apuramento se houve ou não favorecimento deste empresa.

Martins da Cruz foi, recentemente, enviado, por Durão Barroso, em representação de Portugal, às comemorações dos dez anos do fim do Apartheid na África do Sul,

Na Universidade Lusíada (onde Durão leccionou Direito Internacional), cujo reitor é Martins da Cruz, pai do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, frequentam, desde meados de Abril, um curso de pós-graduação na área dos petróleos, 25 engenheiros iraquianos do Ministério dos Petróleos.

A empresa norte americana Carlyle, que controla a maioria do capital da Luso Oil, onde brilha outro conhecido ex-deputado PSD, Ângelo Correia, grande candidata à compra de 45% do capital da Galp que o governo de Durão Barroso pôs à venda sem a realização de concurso público, com a participação da Caixa Geral de Depósitos (que entretanto recuou), possui direitos de exploração de dois campos petrolíferos no Iraque (pré-acordo de reservas de crude).

Fontes: Portugal Diário e Caderno de Economia & internacional, edição 1645 do Semanário Expresso de 08.05.04.